domingo, 19 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 10

   25/7. Dia do ponto alto desta viagem. Dia de expedição pedonal ao Cirque de Gavarnie. Tomado o pequeno almoço e preparada a mochila e máquinas fotográficas, partimos a caminho de Gavarnie. Os ingleses e restantes "habitantes" do parque, já se tinham feito ao caminho bem cedo, todos equipados a preceito. De facto, como comprovámos uma hora depois, quase todos os que aqui se dirigem têm o mesmo objectivo: o Cirque de Gavarnie.
   Chegámos a Gavarnie, pequena localidade que só vive do turismo. O mesmo conjunto já tantas vezes visto, de lojas a vender o mesmo, restaurantes, cafés e pouco mais. Mas o enquadramento de montanhas... Que maravilha! E eram essas que ali traziam toda aquela gente que nos precedia. Logo à entrada, uns jovens controlavam o acesso às centenas de lugar de estacionamento pago e cobravam-no logo ali. 4€ a uns 5€ a outros. Uma mina! Fiz umas rápidas contas e apurei uns largos milhares de euros diários de estacionamento. Como o movimento é quase constante durante o ano, imagine-se...
O "Cirque", visto do início do percurso
Parte "confortável" do percurso
    O primeiro quilómetro é ainda dentro de Gavarnie, por entre lojas e mais lojas e cafés e muitos burros e cavalos para aluguer.



Início do percurso...










Achámos estranho ver imensos casais jovens com filhos de tenra idade e que acompanhavam os pais. Bébés às costas em mochilas próprias, os outros pela mão dos pais. Até começarem as subidas correu tudo bem, mas depois... De quando em vez paravam a chorar, exaustos. Viam-se pessoas que, claramente não sabiam ao que vinham. Madames com saltos altos, ante a estupefacção de caminheiros mais batidos, gente vestida como se fosse para uma reunião de trabalho... Gordos de face escarlate e a arfar, sentavam-se em pedras sorvendo o ar a plenos pulmões. 



Burros e cavalos passavam com a sua carga de todas as idades, deixando o lastro nauseabundo...


Pouco a pouco as subidas foram-se tornando mais íngremes, ao mesmo tempo que o calor se intensificava. Por fim, surgiu um pequeno hotel, como que caído do céu, com uma grande e apetecível esplanada. Aqui terminava também o percurso do gado assinino e cavalar. A partir deste ponto era proibida qualquer presença que não a humana, e só a pé. Apesar disso via-se muita gente com os seus "lulus" atrelados. E eu que pensava que era só em Portugal que se infringiam as regras...


Vista a partir do hotel














A partir do hotel, o caminho afunila-se, transformando-se num estreito atalho, que sobe sempre, até que chega a um ponto em que ou se atravessa o rio ou um pequeno campo de neve suja mas extremamente escorregadia. 














Optámos pelo rio, também escolhido pela maioria dos que não se tinham deixado ficar pelos petiscos e bebidas da esplanada do hotel...









Atravessado o rio, havia uma zona verde, onde se deixaram ficar os que acharam mais prudente não atacarem a subida final até às cascatas e onde algumas ovelhas pediam insistentemente comida a quem se instalava para fazer o mesmo.








A pouco e pouco o hotel foi-se transformando num ponto cada vez mais longínquo, à medida que se subia até à base da cascata maior.


















Por fim, faltava apenas a subida final, porém a mais difícil e um pouco perigosa. Extremamente íngreme, o piso composto apenas de cascalho, seixos rolados que deslizavam a cada apoio dos pés. Aqui é muito útil o cajado! As pessoas lá em baixo pareciam-me formiguinhas laboriosas. Era preciso parar a cada passo, para tentar firmar um pé antes de colocar o outro e tentando não desiquilibrar o corpo, pois uma queda aqui implicava ir até lá abaixo a rebolar...






Agora já se viam as cascatas nitidamente e bem perto de nós. A paisagem era sublime e valia bem todo o esforço para ali chegar.






Por fim e ao cabo de grande esforço, lá cheguei ao cimo da subida e base da cascata principal, objectivo de todos. As máquinas fotográficas disparavam freneticamente, em todos os ângulos, zooms e aberturas. Comiam-se e bebiam-se as reservas transportadas às costas, enquanto os olhos se deliciavam com toda aquela dádiva que a natureza lhes colocava defronte.
E agora faltava o regresso. Depois de alguns minutos de descanso era altura de empreender o caminho inverso. O esforço era bem menor, mas o cuidado para não escorregar mantinha-se. Um acidente naquele local... Continuavam pessoas a subir, algumas perscrutando-nos nos olhos, se ainda faltava muito, se elas teriam capacidade para lá chegar... Mas para nós agora, era quase sempre a descer.






Antes de chegar à povoação de Gavarnie, as pernas suplicavam por descanso. Os músculos, pouco habituados àquela exigência, protestavam, enviando mensagens ao cérebro que por sua vez nos aconselhava a parar. 












Recantos para nos prenderem os olhos não faltavam.




Apareceu um café com uma esplanada irresistível. E nem pensámos duas vezes! Com as pernas a suspirarem de prazer e uma "bière" a tratar do resto, o corpo readquiria alguma da energia perdida durante todo um dia de esforço. A vista que tínhamos diante de nós completava o quadro. Até que era tempo de fazer o resto do caminho, que apesar de plano, com o corpo cansado e as pernas já não muito obedientes, se revestia de algum sacrifício. Voltámos a atravessar a localidade, sempre cheia de gente, até que finalmente avistámos a tão almejada autocaravana, fielmente esperando por nós! Que bem que soube entrar, sentar e relaxar! À nossa volta, gente sentada no chão, nos carros, por todo o lado, tratava dos pés, dessedentava-se, lavava o rosto... Parecia a chegada a Fátima a pé! Arrancámos, e antes de uma hora estávamos no parque, para aí sim, tratarmos de nós calmamente e com todas as condições. Tinha sido um dia em cheio. Cansativo, sim, mas do mais compensador que já tivemos. Depois de um jantarinho reforçado, com o corpo a pedir descanso, entregámo-nos alegremente nos braços de Morfeu...

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