sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 16

   31/7. Dia de regresso a Portugal. Saímos de Pereda de Ancares, rumo a Vega de Espinareda, onde parámos para compras e levantamento de dinheiro.

Trânsito interrompido, antes de Vega de Espinareda


Seguimos pela A-6 até Benavente, prosseguindo depois pela N-630 até Zamora. O tempo estava quente, embora não tanto como nos dias anteriores. A partir de Zamora restou-nos seguir as indicações de Portugal, pela N 122, desviando-nos em Ricobayo para a ZA 324 para entrarmos por Miranda do Douro, pouco depois das 3 da tarde. Paragem para respirarmos o ar português e tirarmos fotografias à pedra amarela e barragem de Miranda.




Pedra Amarela - Miranda do Douro
O destino para este dia era o parque de Mogadouro. Seguimos por Sendim e a meio da tarde chegávamos a Mogadouro. O parque de campismo é muito bom, o oposto aos parques espanhóis. Grande, muitas sombras, alvéolos relvados, muita iluminação, vários pontos de água, internet Wifi, acesso a piscina e court de ténis, área de serviço para autocaravanas e instalações sanitárias de primeira classe. Há pequenos sinais de vandalismo, em alguns puxadores das portas das casas de banho, durante os meses de encerramento do parque. Tudo isto por 10,20€... Grande país, o nosso! Pelo menos nos parques de campismo! Depois de um banho retemperador e de uma cerveja bem fresca, fomos tirar umas teimas. Há quem afirme que em Mogadouro se come a melhor posta mirandesa de Trás-os-Montes. Já tinha feito esta experiência, mas é um gosto repeti-la... E lá fomos ao restaurante " A lareira". Mas não. Para nós não é aqui! Há até várias bem melhores que esta.
      No dia seguinte, teríamos que fazer o sacrifício de almoçar outra posta mirandesa, para que não restassem dúvidas. E assim, fomos devagar até Freixo de Espada à Cinta. Como sempre, visita obrigatória à adega cooperativa, para comprar azeite. Este azeite de Montes Ermos é do melhor que temos provado. E entretanto eram horas de almoço. Dirigimo-nos ao restaurante "A cabana", para comprovar uma das melhores postas mirandesas. Não desiludiu, mais uma vez. Bem melhor que a de Mogadouro. Mais pesados, passámos Torre de Moncorvo, a caminho do Pocinho. Paragem para observar a eclusagem do navio Douro Spirit.

Douro Spirit na eclusa da barragem do Pocinho
Douro Spirit à saída da eclusa
Passámos dentro de Foz Côa e depois de breve paragem nas Termas de Longroiva para visita a amigos, demos entrada no nosso conhecido parque de Meda. Mais um belo parque de campismo, com instalações modelares, por... 9€!

      O dia seguinte foi de ligação a casa. Terminavam assim 18 dias de viagem, em que a montanha foi rainha. Percorremos os Pirenéus Franceses e os Picos da Europa. Trouxemos os olhos cheios de imagens belíssimas, de paisagens, compostas por montanhas, rios, florestas, aldeias e vilas lindas. Fizemos mais de 4100 Km. Mas vínhamos cheios de vontade de voltar à nossa comida. É sempre um prazer renovado, saborear o nosso peixe fresco, o nosso pão, as nossas frutas gostosas. E é bom voltar a casa!

domingo, 26 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 15

   30/7. Numa viagem em que a montanha foi rainha, queríamos ainda fazer uma surtida a uma cadeia montanhosa que já não víamos há anos: os Ancares. É uma reserva nacional que se situa um pouco a Norte de Ponferrada, na província de León. Assim, saímos de Riano, com nevoeiro, que o sol venceu em pouco tempo.

Vista privilegiada de dentro da autocaravana, sobre Riano
Seguimos a mesma estrada que nos tinha trazido, ou seja, a N 621, pela barragem e o belo rio Esla. Percorridos 30 Km, virámos à direita, para Sabero.

Sobre o rio Esla, em Sabero



Íamos entrar na Rota das Minas. Toda esta zona da província de León e que já vem desde as Astúrias, é uma área carbonífera, explorada desde tempos imemoriais. Já há anos que entrou em declínio, com o encerramento de minas de carvão, quer pela quebra nas cotações internacionais, quer pela opção por energias menos poluentes. Mas agora o clima é de enorme efervescência, com cartazes por todo o lado, palavras de ordem escritas em paredes, em pontes, a convocar manifestações e marchas de protesto.

Rio Esla, perto de Sabero


Continuamos até Bonar, observando montes negros, de detritos retirados das entranhas da terra e esqueletos de antigas instalações mineiras. Prosseguimos pela C-626, tendo a via férrea sempre ao nosso lado. Parámos num supermercado para fazer umas compras, antes de La Robla. Esta é uma povoação já com alguma importância. Além de ser um centro mineiro, há ali também uma central de produção de energia eléctrica. Querendo continuar pela mesma estrada C-626, não previa qualquer dificuldade em o fazer. Entrámos no centro de La Robla e sentimo-nos como dentro de certas cidades portuguesas. Onde estão as indicações? As placas que víamos só indicavam León e Oviedo. Ora isso era entrar na N 630, que não queríamos. Andámos às voltas, perguntámos, acabei por pedir ajuda ao GPS. Levou-nos para fora de La Robla por uma estradinha que foi dar mais à frente à... N 630, para Oviedo!

Vendo a Rota das Minas, perto de Sabero

Conseguimos inverter o sentido da marcha mais à frente, na esperança de a partir desta estrada nacional vermos indicações para a outra. Nada! Passámos La Robla para Sul, no sentido de León. E para voltar para trás? Não se via um caminho, uma estrada secundária, umas casas, nada! Estavamos a ver que entrávamos em León... Por fim, uma estação de serviço abandonada! Lá demos a volta para La Robla de novo. Eu já chamava todos os nomes ao pessoal da EP espanhola... Já disposto a tudo, entrei por acaso num desvio e vimos então uma placa a indicar Canales la Magdalena. Consultado o mapa verificámos que esta localidade ficava no sentido para onde queríamos ir. Fez-me lembrar as placas em Portugal que dizem "trânsito local" no lugar do nome das localidades para onde queremos ir... Continuámos então, pela barragem de Barrios de Luna, com paisagens muito bonitas, mas por estrada sinuosa e com mau piso. Junto a uma bela ponte da auto-estrada A-66, que passa por cima da estrada que percorríamos, parámos para almoçar.

Seguimos nesta estrada até Villablino, outra cidade mineira. Apanhámos então a CL 631 para Sul, via que passa por inúmeras minas com montanhas negras de detritos, até Toreno. Aqui, com mais algumas dificuldades pela inexistência de placas, mas já com a ajuda certeira do GPS, encontrámos a estradinha que pretendíamos para Vega de Espinareda. A partir daqui é sempre a subir, mas estamos bem habituados... Cerca das 16 h chegamos a Pereda de Ancares, onde fica o parque. Estava vazio! Já aqui tínhamos ficado há uns anos, com boa impressão. Mas agora as casas de banho estavam sujas, os chuveiros partidos, e com algumas obras em curso. Íamos com previsão de duas noites, para dar um passeio na serra de Ancares, mas assim desistimos. O concessionário deste parque, que é municipal, foi mineiro, mas ficou desempregado como milhares de outros. Informou-nos que tinha umas centenas de companheiros portugueses, que agora foram para o desemprego. Ainda demos um passeio de final de tarde pela estrada, que está sempre deserta. Mesmo sem condições, cobraram-nos 18 € pela estadia.

sábado, 25 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 14

       29/7. Dia de circuito nos Picos da Europa. Pequeno passeio em Riano, junto ao cais dos barcos de recreio e na rua principal, percorrida por um vento gélido.

Amanhecer em Riano

 Abastecemos a 1,40€ e partimos, rumo ao Puerto de San Glório. estrada estreita, sempre a subir, claro, já que este ponto fica a 1609 m de altitude. Muito antes de lá chegarmos já se instalara um nevoeiro cerrado que a pouco e pouco se transformou em chuvisco. Parámos uns momentos, para absorver aquele frio saudável que pica a pele, num local que poucos meses no ano se livra da neve.

Barragem de Riano - Boca de Huérgano
Mais um ponto de conquista para ciclistas, que também aqui se vêem, embora em menor quantidade do que em França.
Agora começava a descida. Grande e comprida! São quase 30 Km até Potes, sempre a descer, por estrada estreita, por vezes com grandes declives e curvas muito apertadas. Enfim, a montanha! Só perto de Potes é que o sol começou a dar mostras de querer vencer o nevoeiro. Potes é uma verdadeira jóia. Já aqui viemos inúmeras vezes mas é sempre com o mesmo prazer que a revisitamos e percorremos as suas ruelas típicas, cheias de casas de pedra, flores por todo o lado, mas sobretudo pelo conjunto harmonioso e de extremo bom gosto que toda a povoação representa.

Potes
Potes estava cheia de gente. Os parques cheios de carros, as ruas apinhadas. Estamos no Verão e é domingo. Já passa das 11 horas, há imensos casais jovens com 3 e 4 filhos pequenos, o que não vemos em Portugal. Máquinas fotográficas disparam a cada esquina, em cada ruela. Numa ponte faz-se "slide", a que assiste uma pequena multidão.

Internamo-nos no "casco histórico" da cidade, em ruas estreitas mas lindas, a fazer tempo para o almoço, que vai ser por ali. Há restaurantes e lojas de artesanato por todo o lado. Placas à porta indicam o preço do "menú" e o cardápio. Como a concorrência é feroz os preços são em conta. Quase todos oscilam entre os 9 e os 15 euros, o menú completo.





Casas em Potes


Antes que os restaurantes começassem a ficar cheios resolvemos entrar num para almoçar. E lá veio uma fabada, prato obrigatório quando estamos nas Astúrias e umas "costillas" de "cerdo" para 2º prato. A fabada estava divinal; as costillas nem tanto. Tudo regado com um tinto razoável, água e uma enorme fatia de melão. O café foi pago à parte, a 1,50€. Pagámos 10 euros por pessoa, por tudo isto.



Rua de Potes
Saboreando a fabada












Acabado o repasto era tempo de prosseguir, pois a tarde adivinhava-se longa. Todo este percurso é para ser apreciado com vagar, quer pela beleza das paisagens quer pela perigosidade das estradas, que a isso nos obriga. Pouco depois de sair de Potes entra-se num dos pontos altos do circuito: o desfiladeiro de la Hermida.
Início do desfiladeiro de la Hermida
A paisagem é fantástica. Os penhascos estão a pique sobre a estrada estreita ladeada pelo rio Deva. As curvas são apertadas e em alguns locais só cabe um carro. Subitamente, numa dessas curvas, surgiu um mercedes à velocidade que se esperaria numa via rápida. Aqui as bermas são as rochas afiadas que aguardam algum deslize... Ouve-se uma pancada surda, vidros a estilhaçar-se e o espelho retrovisor esquerdo a bater violentamente no vidro da janela. Pendurado pelas correias de borracha balançava o retrovisor extensível que uso para melhor visibilidade para trás. Ninguém parou, até porque não era possível. A chamar todos os nomes bonitos que conheço em português, ao espanhol do mercedes, encostei mais à frente a medir os estragos. Afortunadamente tinha sido mesmo apenas o retrovisor extensível. Foi aquilo a que se chama uma razia! Com menor visibilidade atingimos Panes e tomámos a AS 114 por Trescares e Arenas de Cabrales. Continuavam as paisagens de sonho, sempre por entre altas montanhas e acompanhados por rios turbulentos.

Arenas é célebre pelo seu queijo e pela sidra. É também daqui que parte a estrada para Poncebos,  onde tem início o funicular que dá acesso a Bulnes, única aldeia dos Picos sem ligação por estrada. É de não perder, apesar do bilhete custar 15 €. Pouco depois, em Poo de Cabrales há um miradouro para observar o mítico Naranjo de Bulnes, carismático pico de formato peculiar. Pouco antes de Cangas de Onis, aparece um desvio para Covadonga e os lagos. Para quem não conhece é de visita obrigatória. Nós não vamos lá, pois no Verão e a um domingo aquilo deve estar enxameado de gente... Nem em Cangas paramos! Os parques, apesar de vários e grandes, estão repletos. Damos uma volta e outra e avançamos para a N 625 para o desfiladeiro de los Beyos, que é para mim o que simboliza os Picos da Europa. Avança-se devagar, passando por pequeníssimas povoações, algumas apenas com 3 ou 4 casas, mas todas habitadas e bem cuidadas. O desfiladeiro é espectacular, com montanhas de calcário altíssimas em que nas passagens mais estreitas não se consegue ver o céu. Acompanha-nos o rio Sella, um dos preferidos para rafting e descidas em canoas.
Desfiladeiro de los Beyos

Num local paradisíaco aparece-nos o hotel Ponte Vidosa. Sòzinho, junto a uma cascata e na base de um enorme penedo.


Hotel Ponte Vidosa
As montanhas ao nosso lado aproximam-se deixando apenas espaço para a estreita estrada e o rio. A cada curva temos que ir para o meio para a parte de cima da autocaravana não bater na rocha que se inclina sobre nós.







Que remédio!
Desfiladeiro de los Beyos
Estrada cortada na rocha, mirador de Oseja
Entretanto começamos de novo a subir. E fazemo-lo durante quilómetros, sinuosamente, com muita lentidão, curva a curva, mas sempre envoltos em cenários soberbos, até Puerto del Ponton. A partir daqui a paisagem muda um pouco, vamos descendo e encontrando zonas de pastagem, muito gado à solta até que por fim avistamos as águas azul turquesa da barragem de Riano. O dia declina, pois esta volta é muito demorada e quem não a conhece e olha apenas para os quilómetros no mapa corre o risco de ser apanhado pela noite, nada agradável nestas estradas.
Riano à vista...
Acolhemo-nos no parque e antes da noite ainda tiramos mais umas fotografias à linda paisagem que temos aos nossos pés, bem agasalhados pois o frio aperta.
Anoitecer em Riano

Percorremos 212 Km.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 13

     28/7. A noite foi de chuva, em Busto de Bureba. E o tempo estava farrusco, ao amanhecer. Lá conseguimos tomar banho, fazer a nossa higiene e pouco depois arrancávamos, não sem antes vermos começar a sair do "harém" uma série de pessoas desgrenhadas...
     Prosseguimos pela estrada do dia anterior, a N 232, até Cornudilla e depois pela BU-502. Há uma localidade com um estilo medieval, pela cor e aspecto das casas, Poza de la Sal, muito interessante. Devia ser um importante centro de produção de sal, quando este produto era crucial para a vida das populações e pela dificuldade dos transportes para tão grandes distâncias. Ainda se vêem as salinas abandonadas. Após uma íngreme subida, que tem um castelo num morro, atinge-se um planalto, com um grande centro de produção de energia eólica. Prosseguimos por Masa e depois pela BU 601 até Villadiego. Aqui parámos e fomos dar uma volta pela cidade e fazer umas compras. Toda esta zona atravessa intermináveis planícies, cobertas de cereais e de enormes extensões de girassóis.


   
Entrámos na via rápida A 231, na entrada 108 de Osorno la Mayor, para sair na saída 85, prosseguindo pela CL 615, por Saldana, até Guardo. O tempo entretanto piorara de novo, com umas nuvens escuras ameaçando chuva. Já em Guardo, quando estávamos a almoçar, começou a chover. Esta cidade tem um jardim muito bonito, atravessado por um rio. Depois de uma visita à estação de caminho de ferro, continuámos pela CL 626, até Cistierna, para rumarmos a Norte pela N 621, que nos levaria ao destino deste dia. Riano. Esta estrada, que desde Cistierna é  acompanhada pelo rio Esla, rio de montanha, muito caudaloso, cheio de rápidos, é muito bonita. Começam a ver-se os contrafortes dos Picos da Europa, temos de novo o domínio dos verdes, dos rios e das montanhas. Tudo isto culmina na barragem de Riano, lago enorme sob o qual repousa a original aldeia de Riano. O paredão, sobre cuja coroa passa a estrada, é atingido por dois túneis, mas não há local para parar, com bastante pena nossa, pois a paisagem é soberba. Depois de muitas curvas, sempre com o Esla por vizinho, chegamos ao viaduto que atravessa o lago, dando acesso a Riano, a cidade que foi criada aquando da construção da barragem. Atravessamo-lo e subimos ao parque de campismo já nosso conhecido e que tem uma das mais belas vistas que conhecemos a partir de campings.

Riano
Aqui está sempre frio, mesmo no Verão. O parque fica num local alto. É agradável, com relva, boas casas de banho, um restaurante, vários bungalows. Mas a sua grande mais valia é de facto a paisagem que dali se avista. Já andávamos aflitos há dias à procura de áreas de serviço para autocaravanas, pois quer em França quer em Espanha ainda encontramos poucos parques com esse serviço. Também nas estradas não se vêem... Apesar de sabermos que existem bastantes espalhados pelo território. Em Portugal, apesar de haver muitíssimo menos autocaravanas, há proporcionalmente muito mais áreas de serviço. Em Riano, afinal, encontrámos uma rudimentar, mas que nos resolveu o problema. No entanto o parque encareceu muito de há 2 anos para cá. Cobraram-nos agora 20,40€, apesar de ser municipal! E ali ficámos o resto da tarde, sentados a ler, com aquela vista maravilhosa em frente e o sol, que entretanto reaparecera, por companhia.

Gozando a tarde, em Riano











Riano






Antes da hora de jantar já não se pode estar cá fora, tal é o frio, agravado por um ventinho cortante... Estamos em Julho! Já aqui andámos na Páscoa e o gelo que há no ar é de nos pôr de cabelos em pé. Até as pessoas que são daqui, mostram o seu desconsolo pelo frio permanente. De modo que pouco mais há a fazer do que deitar cedo, para aquecer... Depois de uns breves minutos a apreciar a bela paisagem, tão bonita à noite como de dia.

Riano, ao crepúsculo

Percorremos 271 Km

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 12

    27/7. Dia de dizer adeus a França e entrar em Espanha. Entrámos na nossa já quase amiga D-918, até Mauléon-Licharre, continuando até ao Col d'Osquich, onde parámos.

Vista a partir de Col d'Osquich

Entrámos pouco depois na D 933 e 15 Km percorridos, chegámos a St-Jean-Pied-de-Port. É uma cidade muito interessante, muralhada, com um património histórico significativo. Está sempre repleta de turistas, que enchem os imensos restaurantes e bares que ocupam as ruas principais. É também um dos pontos de referência do caminho francês de Santiago de Compostela. Como já é habitual quando aqui vimos, fomos também ao Intermarché local. Logo a seguir, entrámos em Espanha por Valcarlos, Roncesvalles, míticas localidades do Caminho. Muitos peregrinos vêm até Roncesvalles, para aqui iniciarem o longo Caminho de mais de 700 Km até Santiago. É habitual encontrar-se bastantes neste trecho, mas desta vez só vimos 2 ou 3. Logo a seguir a Auritz, numas bombas de combustível, há um desvio à esquerda, junto a um belo parque de campismo onde já ficámos, para a NA 2040. Optámos por esta, por ser muito bucólica, junto ao rio, embora bastante estreita. Sempre por estradas secundárias, contornámos Pamplona, passámos Estella e continuámos pela NA 120, para Norte, passando pelo Puerto de Lizarraga. Há aqui um miradouro com uma bela vista, embora sem a grandiosidade dos Pirenéus a que já nos habituáramos.

Vista a partir de Puerto de Lizarraga
Logo a seguir entrámos na autovia A-10. O tempo escurecera e ameaçava chuva. Parámos para abastecer de gasóleo, pela primeira vez desde Andorra, ou seja, percorremos todos os Pirenéus sem abastecer em França! Antes de Vitória, começou a chover. O trânsito intensificou-se, com muita gente a sair da cidade para fim de semana e férias, até que engarrafou de todo. E fomos em pára-arranca, na auto-estrada, até um importante nó de ligação junto a Miranda de Ebro. A maior parte do trânsito, incluindo os pesados, ia para o Norte, para Bilbau, pela AP-68. Nós continuámos em frente, tendo que atravessar Miranda de Ebro, prosseguindo pela N-1. Tínhamos programado a pernoita num camping que fica no desfiladeiro de Pancorbo. O local é muito bonito, com grandes penhascos e atravessado por um rio, pelo caminho de ferro que o transpõe por uma ponte que acaba num túnel, pela N-1 e ainda pela auto-estrada AP-1. Todas estas vias se enfiam no desfiladeiro. Antes ainda parámos numa área de descanso, onde se situa o monumento ao pastor.

Monumento ao pastor - Estrada N-1


Encontrámos facilmente o camping, desta vez com o auxílio do GPS, com as coordenadas, em pleno desfiladeiro. O ar de abandono à entrada deixou-nos logo de sobreaviso. Não se avistava ninguém no hostal que servia também de recepção. Entrámos, a pé, e subimos uma rampa enorme, cheia de buracos e onde adivinhei problemas de tracção na subida. Lá bem no cimo, algumas mobil-homes, com um ar de provecta idade. Não nos agradou mesmo nada. Descemos e decidimos avançar à procura de outro.


Passámos Pancorbo e enveredámos pela N 232. Volvidos uns 6 Km, uma placa a indicar um parque de campismo, em Busto de Bureba, uma aldeia irrelevante. Lá fomos à procura. Vimos o que nos pareceu um centro de férias, com piscina, court de ténis, campos de jogos, relvados. Perguntámos a uns indianos ou paquistaneses que estavam a servir no café e logo veio um, sem falar língua que se percebesse. Levou-nos pelas traseiras e de facto apareceu um parque com uns 12 lugares para acampamento, sem ninguém. Dentro do escritório, ou recepção, aberta a porta, apareceu um...tractor corta-relvas! A tabela de preços indicava 18,40€, mas o paquistanês deu-nos a entender que ficávamos por 15 €. Tudo muito estranho. Pouco depois, já perto da noite, apareceu um indivíduo com ar de alienado, a aparar a relva no referido tractor, às voltas da autocaravana, fazendo malabarismos para não cortar o fio de alimentação eléctrica... Enfim, só nos calham destas coisas... As casas de banho, apesar de serem novas, não deviam ser limpas há semanas ou meses! Mas a internet funcionava! E num pequeno armazém ao lado, depois de fechado o café, foram dormir 3 homens e mais do dobro das mulheres... Um autêntico harém, ou senzala! Pouco à vontade, acabámos também por adormecer, sem mais percalços.

Percorremos 361 Km

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 11

   26/7. Feito o passeio no Cirque de Gavarnie, estavam atingidos os objectivos em França, e era altura de prosseguir o caminho para oeste, aproximando-nos do ponto escolhido para atravessar os Pirenéus: St-Jean-Pied-de-Port. Este, porém, era ainda um dia de alta montanha, com o seu ponto alto (alto mesmo) no Col d'Aubisque.
    Saímos do parque, fazendo o caminho inverso da vinda, por Gorge de Luz e Argelès-Gazost. Aqui, apanhámos de novo a D-918, nossa companheira dos Pirenéus. Logo nos primeiros quilómetros começámos a encontrar imensos ciclistas que dificultavam bastante a progressão, pois e estrada é muito estreita, sinuosa e sempre a subir, a subir...
A caminho do Col du Soulor


Passamos povoações lindíssimas, como Aucun, mas sobretudo Arrens-Marsous, com casas de sonho, flores por todo o lado e um enquadramento paisagístico fabuloso. Os ciclistas são em cada vez maior número, à conquista do Col du Soulor, que dista 8 Km de Arrens-Marsous, mas 8 Km bem suados...





Última curva antes do Col du Soulor





Com o motor a pedir tréguas chegámos ao Col du Soulor, no meio de imensos ciclistas, motociclistas e também muitos carros e autocaravanas. Muita gente, muitas fotografias, muitos animais à solta, bovinos, burros e ovelhas desejosos de confraternizar com os humanos e seus transportes...



Col du Soulor










Fila para a cabine telefónica... Col du Soulor



Guardando o quiosque...












Col du Soulor



A partir daqui, quem quer seguir para o Col d'Aubisque, tem o acesso condicionado. Uma placa indica que deste lado só se pode passar de manhã. Não é por acaso! A estrada é muito estreita, há locais onde não se consegue cruzar, nos túneis só cabe um carro e olhar lá para baixo, arrepia... A protecção é mínima e um percalço aqui pode ser fatal. No entanto, vão surgindo viaturas em sentido contrário...

Encolhidos, para cruzamento...





Os marcos de pedra na berma de pouco serviriam se lhes testássemos a resistência...











Nos túneis só cabe um de cada vez. É entrar e esperar que não apareça ninguém em sentido contrário...









A estradinha que trepa, vista de longe...


Por vezes, vamos bastante tempo atrás de apenas um ciclista, dado que as curvas apertadas se sucedem e não há espaço para folgas...











E chegamos ao cimo, ao Col d'Aubisque.


O estacionamento é ocupado por carros, autocaravanas, motos, bicicletas, cavalos, ovelhas e burros.












Alguns pedem-nos boleia...

















A paisagem é arrebatadora. Lá em baixo, no fim de um autêntico circuito, vê-se o perfil de um pequeno hotel, localizado à beira de um abismo.

     
Em homenagem ao Tour de France - Col d'Aubisque
        Começamos a descida. Sucedem-se os cotovelos na estrada. Detemo-nos junto do pequeno hotel que avistáramos momentos antes, lá em cima. Imagino como será passar ali a noite debaixo de uma tempestade... A estrada estreita, com enorme declive e sem protecção, continua, passando por localidades deliciosas, vilas termais, como Gourette e Eaux-Bonnes.

Descendo, com Gourette ao fundo

 Descemos mais uma "rampa", com 17% de inclinação, antes de chegarmos a Eaux-Bonnes e pouco depois entramos em Laruns. O tempo mudara. Havia no céu nuvens escuras e um calor abafado pairava sobre nós. Fomos ao Intermarché de Laruns, situado à saída. Um francês colocava uma baguete sob o sovaco, que pouco antes à sua passagem deixara um rasto de suor requentado de vários dias... Devia ser para a humedecer e torná-la mais macia... Pouco depois encontrámos um bom local para almoçar, à beira de um rio. Começaram a cair uns pingos de chuva e a ouvir-se uns trovões ao longe. Continuámos, agora na D-934 até Arudy, para entrarmos de novo na D-918, para mais montanha, subidas e estrada estreita até Asasp, Arette, Aramits e por fim Tardets-Sorholus.

D 918 antes de Asasp (larga Q B)


Tinha programado pernoitar aqui. Ainda era cedo e fazia um calor asfixiante. Parámos junto ao rio Saison, para apanhar ar antes de procurar o parque. Vimos uma placa de "camping" a apontar para o outro lado do rio, ali mesmo ao lado. Atravessei a ponte a pé e logo ali, estava um parque fantástico, debaixo de um frondoso arvoredo, com um viçoso tapete de relva abundante e fresca e uns maravilhosos bungalows perfeitamente integrados no conjunto. Não era o parque que procurávamos, mas a escolha ficou decidida imediatamente. Atravessámos a estreitíssima ponte, entrámos no parque, com pouca gente e procurámos alguém. Não estava ninguém na recepção e alguém nos informou, em basco, (traduzido para castelhano) que nos podíamos instalar à vontade, que lá para a noite a dona devia chegar... Foi o que fizemos. Logo a seguir, quando me preparava para consolar a garganta seca, começou a cair uma grossa chuvada acompanhada de forte trovoada.

Camping Pont d'Abense
Chuvada em Pont d'Abense


O calor, todavia, não abrandava. Aproveitámos para jogar uma partida de cartas, com a ventoinha ligada e umas cervejinhas a auxiliar, enquanto a trovoada estralejava sem parar.








Camping Pont d'Abense
À noite, de facto, apareceu a dona do parque, uma velhota simpática, rodeada de símbolos, bandeiras e objectos da cultura basca. O parque foi o mais caro de todos os que utilizámos (23,70€), mas também foi sem dúvida o melhor. Espero aqui voltar um dia. A noite foi atribulada, com chuva e continuação da trovoada por umas horas. Por fim, o silêncio...

Percorremos 166 Km

www.camping-pontabense.com