quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

DEZEMBRO NA BEIRA BAIXA - 4

Idanha-a-Velha com Monsanto ao longe
Termas de Monfortinho
Ponte romana de Segura, que vigia por cima...
Placa afixada no pelourinho de Salvaterra
      E ao quarto dia o tempo mantinha-se com céu limpo e frio. Este dia estava destinado à zona da raia, na Beira Baixa profunda. Depois da rotina das partidas, paragem no Intermarché de Idanha para compra de pão, fruta e peixe. O peixe acabou por ficar pela intenção, pois aparentava ali estar já há uns dias à espera de comprador... Depois de novo abastecimento de gasóleo, parti com rumo a Alcafozes, aí virando para Norte pela Nº 332. Desta vez não parei em nenhum dos ex-libris da Beira Baixa: Idanha-a-Velha, Monsanto ou Penha Garcia, localidades que já visitei inúmeras vezes. No entanto, antes de chegar a Idanha-a-Velha, há um local com uma excelente panorâmica sobre esta aldeia, com Monsanto a espreitar ao longe. Parei, para absorver aquele silêncio e fotografar o local. Prossegui, atravessando a ponte sobre o rio Ponsul até Medelim. Chegado a esta aldeia, virei à direita para a Nº 239. A partir daqui começa a ver-se a montanha onde se incrusta Monsanto a aproximar-se à direita, vendo-se cada vez mais distintamente a povoação coroada pelo seu castelo. Passei ao largo e pouco depois, desta vez ao lado esquerdo, outra montanha, a de Penha Garcia. Continuei devagar, atravessando a planície, com cada vez mais raros vestígios de povoamento. O trânsito era também muito escasso. Por fim, uma povoação: Monfortinho, com mais que um aviso a indicar que as Termas não eram ali, mas uns 3 Km mais à frente... Embora sem necessitar da indicação, segui o conselho e pouco depois entrava nas Termas de Monfortinho. Esta localidade causa-me sempre alguma surpresa desde a primeira vez que a visitei, há mais de 30 anos. Longe de tudo, a mais de 50 Km da sede de concelho, Idanha-a-Nova, numa das zonas de mais baixa densidade populacional do país, separada de Espanha pelo rio Erges, estava completamente isolada até há alguns anos, quando se abriu uma nova fronteira com o país vizinho. Apesar desse novo acesso, a sensação de isolamento e desterro mantém-se. No entanto a localidade tem muitos restaurantes, pensões, cafés, dois grandes hotéis e alguns serviços públicos. O motor económico são as termas, claro, afamadas e bastante frequentadas, mas ainda assim insuficientes para garantir a viabilidade económica de toda esta oferta turística, como se pode comprovar por alguns edifícios em ruínas e outros ao abandono. Parei junto às termas e, passando pelo marco fronteiriço que se situa mesmo em frente, fui até ao rio Erges, que nos separa de Espanha. Aqui almocei, na autocaravana. Depois do café, tomado num dos inúmeros estabelecimentos  da especialidade, pus-me de novo ao caminho, atravessando a fronteira.

        O plano era voltar a entrar em Portugal mais abaixo, por uma fronteira que nunca utilizei, a de Salvaterra do Extremo. Cheguei a Zarza la Mayor, pequena localidade adormecida na Extremadura espanhola e encontrei uma placa a indicar que a estrada pretendida estava encerrada para obras. Assim, tive que continuar até Piedras Albas pela Ex-117 e aí virar à direita para Portugal pela Ex-207, até Segura. Esta que já foi uma das principais fronteiras portuguesas, das poucas que se mantinham abertas todo o ano, está agora deserta. Ali passa um veículo de longe em longe, a sacudir a monotonia. Atravessei a ponte romana sobre o Erges e parei do lado português. Há ali uns sanitários públicos, muito limpos, curiosamente o primeiro  edifício português para quem por ali entra! Ao longe, vigia a povoação de Segura. Estas localidades fronteiriças, viviam do movimento trans-fronteiriço, dos serviços aduaneiros, da guarda fiscal, antes da abertura do espaço Schengen na Europa. Agora, Segura é mais uma localidade de velhos ao sol, silenciosa, despertando a cada carro que passa. Logo após, aparece um cruzamento à direita, para Salvaterra do Extremo. Estrada muito estreita, mau piso, mas arrisquei. Esta é uma das poucas localidades desta província que ainda não tinha visitado. Não me cruzei com qualquer viatura até lá chegar. Outra aldeia em silêncio, alguns idosos sentados em bancos a gozar o sol já em declínio, gatos, muitos gatos, talvez mais que pessoas e, surpresa, algumas crianças! De qualquer forma, para o isolamento em que está esta povoação, as enormes distâncias a percorrer para aceder a qualquer serviço, a sua dimensão é bastante razoável. Por ali circulei a pé, claro, que nas ruelas mal cabe um carro. Gosto sempre de percorrer algumas ruas, ver o género de habitações, cumprimentar as pessoas, que em alguns casos me olham com desconfiança. Feito o reconhecimento, voltei, por Zebreira, outra localidade com alguma dimensão, com uma escola primária linda, dos primeiros tempos do Estado Novo, que atravessei sem parar, continuando pela Nº 240, virando depois à direita para a Nº 353, até ao parque e barragem, onde cheguei antes do anoitecer. O parque estava quase deserto e escuro, nesta época do ano, durante a semana são raros os excêntricos como eu...  Preparar o jantar, telejornal, leituras e...cama.

        O dia seguinte foi destinado ao regresso. Ainda dei um passeio pelas margens da barragem, de despedida daquele silêncio só quebrado pelo canto da passarada e os chocalhos das vacas. O caminho de volta, fez-se pela mesma estrada, até Castelo Branco, onde entrei na A-23, até ao nó do IC-8, por onde entrei, para não voltar pelo mesmo percurso. Assim, só parei em Pedrógão Grande para almoçar junto à barragem do Cabril e continuei depois até Pombal, onde entrei na Nº1 (IC-2), até Leiria e A-8 até Peniche. Foram cinco dias bem aproveitados, sempre com sol, embora muito frios. Claro que a curta duração dos dias não permite grandes passeios, tendo muitas horas nocturnas para serem aproveitadas de outras formas...

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