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Viaduto da Pala à passagem do comboio |
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Vista de cima do cais de Porto Antigo |
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Os três "gémeos" no cais de Porto Antigo |
Passámos pelo portão de entrada, descemos a rampa de acesso e deparámos com uma bela casa solarenga, ostentando um brasão na fachada. Mas o nosso olhar foi de imediato atraído pelo soberbo espectáculo que tínhamos em frente: ao fundo das encostas cobertas de vinhedos, espreguiçava-se o Douro, languidamente, saboreando no seu percurso o calmo entardecer. Esta é para mim uma das mais belas paisagens que Portugal tem para oferecer a quem as sabe apreciar. Fomos recebidos com toda a simpatia pela proprietária, D. Maria, que nos mostrou os principais aposentos da casa, todos extremamente confortáveis e de que realço a sala de estar, decorada com requinte e bom gosto, onde crepitava um acolhedor lume na lareira. Mais uma vez, das enormes janelas e portadas, desenhava-se o belo quadro que a pródiga natureza do local punha diante dos nossos olhos. Fomos em seguida para o nosso quarto, acomodar-nos e aproveitar a fantástica vista antes do anoitecer. Arrefeceu rápida e intensamente e entretanto eram horas de jantar. Esta vida errante faz abrir o apetite! A nosso pedido, aconselharam-nos a tasca do Zéquinha, para acalmar as insistentes reclamações do estômago. E lá fomos, a caminho de Mesão Frio, que dista apenas dois ou três quilómetros. As ruas estavam desertas, percorridas apenas pelo frio cortante. No centro, descobrimos o que procurávamos, um estabelecimento sem pretensões. O dono, muito prestável, conduziu-nos ao primeiro andar, onde se encontrava já um casal a ocupar uma das quatro mesas disponíveis. Rapidamente apareceram umas azeitonas, pequenas em tamanho mas grandes no paladar, bem acompanhadas por um caneco de vinho tinto de divinal sabor e um pão caseiro a não destoar. Logo de seguida, duas belas pataniscas acabadas de cozinhar! Eu já não precisava de mais nada. Ainda assim, encomendámos uns lombinhos de vitela. E fizemos bem. Pouco depois, trouxeram-nos três medalhões de carne com batatas fritas às rodelas e umas pequenas couves tronchudas, acompanhadas por uma salada de tomate. A carne quase se desfazia ao contacto da faca. O sabor, indescritível... Até as batatas, as couves e a salada tinham um sabor incomparável! Também é nisto que Portugal dá cartas! Onde é que a comida tem este sabor? Rematámos com um leite creme, o elo mais fraco da refeição, secundado por um café. O preço não foi de tasca, mas demo-lo por bem empregue. Satisfeitos, regressámos à Casa de Canilhas, onde nos aconchegámos junto do belo fogo que ardia no acolhedor salão. Ainda folheámos uns livros sobre o Douro, claro, enquanto ocasionalmente o olhávamos lá em baixo, pelas vidraças das grandes portadas, brilhando sob o luar. Amodorrados pelo calor da lareira e pelo estômago extasiado, recolhemo-nos ao quarto, para uma noite de sono repousante.
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Vista perto da estação de Pala |
No dia seguinte, o mesmo regalo para a vista. O sol ainda não aparecera, escondido lá para os lados da Régua, a nascente. A bruma pairava sobre os cumes dos montes vizinhos, escondendo também alguns trechos do rio. Quando começou a espreitar, houve uma explosão de cor e de mudanças sucessivas de tonalidade. Não há pintor que disponha de tal paleta de cores! Com alguma relutância, dirigimo-nos à sala do pequeno almoço, onde já nos esperava uma lauta refeição. Deliciosos pãezinhos, variadas compotas e doces caseiros, saborosos queijos regionais, leite, café, enfim, novo festim para o paladar! E como tudo tem um final, especialmente o que é bom, chegou a hora de partir. Partimos pela N108, por Barqueiros, Stª Marinha do Zêzere, Ancede. Esta estrada é para se percorrer muito devagar, apreciando as lindas paisagens e o Douro sempre presente. As vistas alargam-se a partir da estação ferroviária de Pala. Aí o rio agiganta-se, formando um enorme lago, pois a barragem de Carrapatelo já não fica longe. É uma zona de enorme beleza, com os viadutos ferroviários altíssimos e o cais de Porto Antigo ao longe. Atravessamos a bela ponte rodoviária e paramos no parque de estacionamento do hotel de Porto Antigo. Aí repousam no inverno os três navios de cruzeiro no Douro, Fernão de Magalhães, Infante D. Henrique e Vasco da Gama. São quase horas de almoço e apressamo-nos a continuar rumo a Cinfães, onde chegamos pouco depois. Logo à entrada, o restaurante "O Rabelo". Nem procuramos mais. Boa comida, melhor bebida, um anho assado no forno, excelente vinho tinto, sobremesa "buffet", mas má surpresa quando chegou a conta. E o café ao preço de Espanha: 0,95€ por um café em Cinfães... Atravessámos depois a serra de Montemuro pela Nº 321 até Castro Daire, estrada muito bonita, habitualmente cortada quando neva, e a N 2 até Viseu. Depois o IP-3 até Coimbra, com muitas obras nos viadutos da barragem da Aguieira, N1 até Leiria e A-8 até Casa.
Excelente fim de semana sob todos os aspectos: o tempo, a gastronomia, e a qualidade do alojamento da Casa de Canilhas. Ansiamos já pela próxima escapadela...
Que paisagens tão bonitas! Tiveram sorte com o solinho...
ResponderEliminarÉ verdade, com sol tudo se torna mais alegre e colorido, embora o Douro seja bonito em quaisquer circunstâncias e estações do ano.
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