sexta-feira, 5 de julho de 2013

PRIMAVERA NO GERÊS - 3

   O dia amanheceu "farrusco". Tomado o banho e o pequeno almoço, parti para a cidade, para umas compras. Entretanto, já caía uma chuva miudinha que tudo cobria sob o seu manto. Feitas as compras, segui na N 103, uma das mais bonitas estradas portuguesas. Pouco depois, Curalha, onde existe uma antiga estação da linha do Tâmega, recuperada, agora pertencente a um particular. Passo Sapiãos, onde há um cruzamento para Boticas, mas começo a subir para Montalegre. No entanto, opto por não visitar a vila desta vez e continuo junto às águas da albufeira de Pisões, ou Alto Rabagão. Este era o maior lago artificial da Europa, antes da construção de Alqueva. A chuva agora era mais intensa, juntando-se-lhe um nevoeiro cerrado. Em Penedones, virei à esquerda para o parque de campismo, onde também existe um acesso ao lago. O parque está aberto todo o ano, mas nesta altura estava vazio. Fui até à beira de água, absorver aquele silêncio sepulcral. Em frente, do lado oposto, divisava-se Vilarinho de Negrões.

Barragem do Alto Rabagão - Vilarinho de Negrões
  Apanhada aquela chuvinha revivificadora, regressei para continuar a contornar o lago até ao paredão, que vale a pena visitar, embora não o tivesse feito desta vez. Nesta zona existe um dos maiores conjuntos de centrais hidroeléctricas do país, nos rios Cávado, Rabagão e Homem: Paradela, Alto Rabagão, Alto Cávado, Venda Nova, Salamonde, Caniçada, Vilarinho das Furnas. A estrada acompanha o rio Cávado e pouco depois, chego à barragem de Venda Nova, também à cota máxima. Local ideal para saborear a mega-costeleta comprada em Chaves.

Vista da minha cozinha - Barragem de Venda Nova
Despachada a costeleta, prossegui por um dos troços mais bonitos da estrada. A água acumulada da albufeira de Salamonde está mesmo ao nosso lado, irrigando os campos e montes verdes que são o regalo do gado barrosão que pasta livremente e em quantidade. A estrada agora começava a subir e o rio já só se deixava ver, parando num dos muitos locais destinados à sua observação. Do outro lado, as montanhas características da serra do Gerês também já se viam, em toda a sua imponência. É aconselhável parar várias vezes, pois a paisagem sempre diferente e sempre grandiosa, vale a pena. Perto do cruzamento que dá acesso à pousada de S. Bento, já se vê lá em baixo Rio Caldo e as suas célebres pontes gémeas.


Começo a descida, pela estrada sinuosa e apertada, com uma vista espectacular para a albufeira da Caniçada. Finalmente chego às pontes, onde paro para usufruir da paisagem e do sol que entretanto aparecera.

Rio Caldo
Deleitado, comecei a subida para o santuário de S. Bento da Porta Aberta. Este, habitualmente repleto de gente aos fins de semana, estava relativamente calmo. Debruçado sobre um vale glaciar, está num local com uma vista linda. Visitei-o demoradamente, absorvendo a paz que ali se respira e depois percorri o seu lindo jardim, em frente, com farto arvoredo, cascatas e lagos.




Estes jardins, cheios de peregrinos em dias de romaria, estavam agora desertos e silenciosos, prontos para mim...










Feita a visita a todo o recinto do santuário, que é enorme, parti, rumo ao meu destino desse dia. Há água em abundância por estes sítios. Ouviam-se cascatas e regatos a cantar a cada canto, a cada curva. Pouco depois entro em Covide, onde apanho a estradinha para Campo do Gerês. A partir daqui, existem inúmeros restaurantes e cafés, bem como empresas de actividades radicais e de ar livre. A vegetação é luxuriante oferecendo-nos sombra e frescura. Aparece o cruzamento onde está edificado o museu de Vilarinho das Furnas, que aconselho vivamente e sigo em frente para Campo do Gerês onde passo sem parar. Uns 2 Km a seguir, ainda a meio da tarde,  chego ao meu destino, o parque de campismo de Cerdeira, um dos melhores do país. Como ainda era cedo, resolvi não entrar de imediato e seguir até à barragem de Vilarinho das Furnas, local que me deixa sempre forte impressão, pela beleza selvagem da paisagem, mas sobretudo por ter estudado e conhecer bem toda a história agora escondida sob as águas da albufeira concluída em 1973 e que submergiu a aldeia mais característica e que preservava quase intactos os hábitos de vida comunitária herdados de geração em geração desde há séculos. Barragem que nem produz energia, servindo apenas de reforço à barragem da Caniçada, a uma cota inferior e a que acede por uma intrincada e complexa rede de túneis por baixo das montanhas.

Ao fundo, arvoredo onde começava a aldeia de Vilarinho das Furnas, submersa nas águas da barragem
Sempre que há anos secos e o Verão se prolonga, lá rumo eu até aqui, para percorrer os caminhos enlameados no meio das ruínas fantasmagóricas que as águas baixas da albufeira deixam aparecer à superfície. Antigamente a estrada acabava aqui no paredão. Agora, pavimentaram um antigo caminho que serpenteia agarrado à montanha, da largura de um carro apenas e que vai até à aldeia de Brufe, depois de um percurso impróprio para quem tem vertigens ou receio de aventuras. Lá obriguei a autocaravana a entrar nele, embora ela tivesse pouca vontade de o fazer. Só existe um local para se poder cruzar, caso aconteça. Felizmente, os aventureiros são em número bem reduzido e naquele dia não havia nenhum, de modo que consegui fazer o caminho de ida e volta sem percalços.

Único local para cruzamento

Absorvido o silêncio e a mística do lugar, regressei, agora sim, para entrar no parque e preparar a minha base para os dias seguintes.

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