Barragem de Vilarinho das Furnas |
Habitualmente, há um carreiro que passa junto à água e vai até à aldeia, mas agora como a barragem estava quase na cota máxima, o carreiro estava interrompido pela água. Tive que subir por umas grandes rochas, com algum perigo, pois tem que se trepar com a ajuda de pés e mãos o que se complica se houver bagagem. Por fim lá passei para o outro lado. Há ainda pequenos soutos, carvalhais e bosques de outras espécies, restos da existência de explorações agrícolas. Começo a ver muros de pedra solta, que delimitavam propriedades.
Praia em Vilarinho das Furnas... |
Mais umas escaladas por outros rochedos e finalmente estou no local onde ficava a parte alta da aldeia.
Perscrutando as águas adivinhando a aldeia submersa... |
Antigo lameiro |
Sentei-me no meio de um ribeiro de águas límpidas que saltitam no meio das pedras redondas e pus-me a devorar o meu lanche.
Momento do repasto |
Ouvi então o ruído de um animal, fui espreitar e vi um cavalo a olhar para mim, surpreendido. Estava em muito mau estado, aparentando estar doente e deve ter sido deixado ali por algum dos antigos habitantes. Pasto e água não lhe faltavam...
Habitante inesperado em Vilarinho da Furna |
Ainda descobri um antigo moinho comunitário, depois de atravessar moitas de silvas e mato cerrado.
Antigo moinho de água |
A aldeia propriamente dita, está toda submersa. Só em anos muito secos, no final do Verão, aparecem algumas das antigas casas, em ruínas e consegue-se andar no meio dos antigos caminhos estreitos, enlameados, vendo-se ainda a ponte sobre o ribeiro. Liberta-se então uma enorme nostalgia que tudo envolve e enche de melancolia e tristeza os espíritos dos amantes da ancestralidade da terra portuguesa, da simplicidade das coisas, de todo um modo de viver, duro mas feliz, que, simbolicamente, aqui jaz sepultado sob as águas. Imagine-se o que sentem então os que ainda aqui nasceram e viveram...
Local onde está submersa a aldeia |
Com este sentimento que sempre me invade quando aqui venho, iniciei o caminho de regresso. Novas acrobacias sobre as rochas. Desta vez cruzei-me com mais grupos, lembrando-me que era domingo. O tempo entretanto aquecera. Cheguei à cascata, para mais umas fotos e deliciar-me com aquela visão.
Pouco depois cheguei à barragem. Ainda uma surpresa. O local estava completamente cheio de motos e gente devidamente "fardada" a preceito. Eram centenas, por todo o lado, muitos dos quais tinham até descido à base do paredão ao local onde sai um jacto de água.
Como eram horas de almoço, já suspeitava onde iria toda aquela gente almoçar, num local com relativamente poucas opções. A autocaravana nem se via, rodeada de motos por todo o lado. Tinha mesmo que esperar que toda aquela confusão dispersasse, o que ainda demorou uma meia hora. Por fim, arranquei também e quando cheguei à Cerdeira, é claro que estava transformada num parque motard... Mas só o restaurante estava ocupado e acabei por ter o almejado sossego garantido pela grande extensão do parque de campismo. E por ali fiquei durante a tarde, gozando a óptima temperatura, o sol filtrado pelo arvoredo, vendo a tarde declinar naquele "dolce fare nienti"...
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