terça-feira, 9 de julho de 2013

PRIMAVERA NO GERÊS - 5

   Este dia estava reservado para um passeio ao topo de Portugal. Saí cedo, por Terras de Bouro percorrendo estreitas e sinuosas estradas municipais até Vila Verde. Aqui fiz uma breve paragem para ir ao supermercado. Apanhei a N 101, uma estrada muito bonita que rasga o coração do alto Minho, atravessando vetustas povoações e subindo e descendo serras, sempre no meio do omnipresente verde. Mesmo à chegada a Ponte da Barca, na recta que lhe dá acesso, um Skoda escondido atrás de uma moita de silvas, apenas com um radar a espreitar por cima das ditas, zelava pela segurança dos automobilistas incautos e prevenindo o excesso de peso nas suas carteiras... Fico sempre comovido com estas acções de benemerência da GNR e tanto cuidado com a segurança das populações...

Fonte a jorrar pureza há 133 anos, perto de Arcos de Valdevez

Nesta estrada ainda se conseguem encontrar muitas fontes onde brota água pura e em abundância. Apesar de alguns riscos de contaminação que actualmente existem, não resisto a fazer o mesmo que sempre fiz: parar, beber, sentir o prazer inigualável do sabor da água pura, fresca, inteira, que me deixa plenamente satisfeito, pelo menos até à fonte seguinte... Logo a seguir, Arcos de Valdevez. Gosto muito desta vila, bem representativa da riqueza arquitectónica, paisagística, etnográfica e antropológica do Alto Minho. Fiz o desvio para o centro. Percorri a avenida principal, à beira do rio. Os parques de estacionamento estavam repletos de uma ponta à outra da vila. Assim, dei meia volta à rotunda e voltei à estrada. O dia estava maravilhoso, com sol e uma temperatura ideal para passear. Um pouco antes de chegar a Monção, aparece à esquerda o palácio da Brejoeira, ícone do famoso vinho Alvarinho. Obrigatório parar para apreciar a beleza arquitectónica do palácio e dos seus jardins.

Palácio da Brejoeira - Monção
Contorno Monção por fora e prossigo agora junto ao rio Minho, pela N 202, até Melgaço. Recordo que só entro nas vilas e cidades quando me apetece "beber" um pouco do seu ambiente, ou quando preciso de me abastecer. Já as visitei todas muitas vezes e portanto dou prioridade às paisagens e aos locais menos frequentados. Mas tanto Monção como Melgaço merecem uma visita, aos seus centros históricos muito interessantes e aos seus castelos. Virei à direita, começando a subir as faldas da serra da Peneda. A paisagem começa a tornar-se mais agreste à medida que subimos. Passo Cubalhão e pouco depois chego ao cruzamento de Lamas de Mouro, uma das principais portas para o parque nacional. Este local é paradisíaco. Tem um enorme parque de merendas debaixo de um verdadeiro bosque e onde correm diversos regatos de água pura. O parque de campismo de Lamas de Mouro fica mesmo ao lado. Nestes dias há um sossego absoluto, pois não se encontra ali ninguém. Para a direita, segue uma estrada que dá acesso a diversas "brandas" e "inverneiras", tipo de povoamento característico das serras de Soajo e Peneda. As brandas são os aglomerados onde as populações passam a maior parte do ano, com os seus gados e pastos; as inverneiras ficam nos vales e é onde se recolhem no Outono para passar os Invernos, que aqui são bem rigorosos.


Eram horas de almoço e aqui chegado, detectei um cheirinho no ar que me atraía a um local já meu conhecido: o restaurante Vidoeiro, ali mesmo ao lado. Trata-se de um estabelecimento sem pretensões, mas com uma comida com um sabor autêntico, as carnes que levam apenas uma pitada de sal e sabem divinalmente, bem como todos os vegetais que habitualmente as acompanham. Apareceu-me uma enorme travessa cheia de um churrasco de variadas carnes. O vinho, fazia jus à comida. No final, a travessa ficou vazia e o estômago cheio. Tudo aquilo por 7€! Mais pesado, retomei a estrada por baixo do bosque, a caminho do santuário da Srª da Peneda.

Senhora da Peneda

A estrada está agora muito degradada, com grandes pedaços destruídos, com buracos enormes e sem alcatrão.
O santuário passa por grandes obras de recuperação dos albergues de peregrinos e edifícios adjacentes. Desci até à enorme cascata que cai ao lado da igreja, nesta altura com imensa água.






Havia pouca gente, uma das vantagens de sair durante a semana. Há ali um bom hotel, com a curiosidade de as águas da cascata lhe passarem por baixo através de um túnel.

Feita a visita, regressei pelo mesmo caminho até à porta de Lamas de Mouro e depois virei à direita para Castro Laboreiro. Esta é uma das mais típicas povoações portuguesas. Vila erigida em altitude, tem invernos muito rigorosos. É hoje muito procurada pelos turistas que vêm em busca da sua afamada gastronomia serrana, dos seus costumes, do artesanato e dos cães de raça autóctone, o Castro Laboreiro.

 

Há aqui um excelente hotel, o "Castrum Villae", bem como uma albergaria e uma estalagem, e ainda várias casas de turismo rural. Não falta onde pernoitar. Os espanhóis invadem esta vila aos fins de semana. Neste dia apenas se avistava um casal estrangeiro. Os residentes viam-se pouco, uns a trabalhar nos campos, outros em casa. Andei pela vila, atravessei umas pontes e uns rochedos e depois voltei à estrada, a caminho de Espanha.


Ponte sobre o rio Castro Laboreiro


Esta estradinha que liga Castro Laboreiro à fronteira de Ameijoeira, é de uma beleza selvagem. Logo à saída divisamos à direita uma colina rochosa em cuja coroa está edificado o castelo de Castro Laboreiro. No entanto este só se consegue ver depois de aturado esforço, ou com o auxílio de binóculos, de tal forma se integra e se confunde com as rochas. É de muito difícil acesso, a partir do centro da vila, ao cabo de muito se trepar por um carreiro íngreme e de pedras soltas. Teve papel preponderante na Reconquista cristã da península, pertenceu aos muçulmanos, foi conquistado por D. Afonso Henriques, foi atacado no reinado de D. Afonso III e de D. João I...
Castelo de Castro Laboreiro, confundindo-se com a rocha na coroa da montanha
O curto percurso até à fronteira é composto por montanhas rochosas, onde ao longe se divisam pequenos lugarejos cravados no dorso dos montes, agora habitados por 2 ou 3 pessoas. Chego a Ameijoeira, mais uma delas onde não se vê vivalma e entro em território espanhol, igual ao português. Também aqui as escassas povoações estão desertas, ou vêem-se apenas velhos, muito velhos, em cadeiras de rodas ou arrastarem-se penosamente. Passo Entrimo, viro à direita e pouco depois avisto as águas da albufeira do Alto Lindoso, cujo lago fica em grande parte em território espanhol.
Barragen do Alto Lindoso, perto de Aceredo - Espanha

Reentro em Portugal pelo Lindoso, linda aldeia onde se destacam o seu lindo castelo e o maior conjunto de espigueiros do país.

Castelo de Lindoso


Fui fazer nova visita ao castelo, de onde se avista uma paisagem soberba sobre as águas da albufeira.









Vista do cimo da castelo de Lindoso
Maqueta do castelo de Lindoso, no seu interior



O castelo tem um pequeno museu no seu interior, mas o que chama mais a atenção é a vista que dele se obtém, quer para a barragem, quer para o conjunto de espigueiros mesmo ali ao lado.






Espigueiros - Lindoso




Acabada a visita ao castelo, embrenhei-me no meio dos espigueiros. Alguns ainda cumprem a sua original função, pois estão cheios de espigas de milho.









A tarde avançava e eram horas de partir. Prossegui até Entre-Ambos-os-Rios, localidade com um nome curioso pelo facto de aqui se juntar o rio Tamente ao rio Lima. Logo a seguir aparece a barragem de Touvedo, que forma um belo lago com um parque de campismo mesmo em cima.




Barragem de Touvedo


Pouco depois chegava a Ponte da Barca. O restante percurso de regresso foi igual ao da manhã, até Vila Verde, Terras de Bouro, Covide, Cerdeira. Estava cumprida mais  uma jornada.

Sem comentários:

Enviar um comentário