Este dia era dedicado à geira romana. Como a manhã estava ainda muito cinzenta e de vez em quando caía uma chuvinha miúda, decidi ficar por ali a vaguear pelo parque e esperar pela tarde. Almocei e de facto, depois do almoço, o tempo melhorou. Carreguei a mochila e a máquina fotográfica e pus-me a caminho. Do parque à margem da barragem é um pulinho.
Barragem de Vilarinho das Furnas |
Depois de apreciado um pouco daquele silêncio e da beleza do local, voltei a subir até à estrada de terra. De longe em longe passava um carro, que, naquele silêncio absoluto se fazia anunciar com muita antecedência.
A água era omnipresente. O cantar de regatos a correr, ou de cascatas a cair das alturas acompanhava-me em todo o percurso.
O ano bastante chuvoso contribuiu generosamente para toda esta abundância de água, característica aliás de todo o parque nacional da Penêda-Gerês.
Esta antiga estrada romana que ligava as cidades de Bracara Augusta a Asturica Augusta, estava marcada em milhas, agora recriada em marcos feitos de materiais que os romanos não conheciam...
Marco que assinala a 31ª milha |
Depois de percorridos alguns quilómetros naquele paraíso, cheguei ao meu objectivo: o conjunto de marcos miliários deixados pelos romanos. Estes marcos eram colocados entre cada 1480 m em todas as estradas do império. Nesta via, conhecida como Via XX, ou "per loca marítima", ainda é possível ver bastantes.
Neste local, além dos marcos em posição vertical, é também possível encontrar nas imediações, as rochas graníticas com as marcas testemunhas do método utilizado para cortar os blocos que depois eram aparelhados tendo em vista obter estes marcos de cerca de 2 toneladas. Eles cravavam cunhas de madeira, que pouco a pouco obrigavam a penetrar a rocha até esta se partir.
Marcas das cunhas na rocha |
São estes contactos íntimos com a história, com a geografia, a etnografia, a antropologia, mas também com a botânica, a zoologia ou a biologia, que enriquecem sempre as minhas deambulações por onde quer que ande. Para passar os dias em esplanadas ou cafés, não preciso ausentar-me de casa...
Atingido o objectivo do dia ( sim, estes são agora os meus objectivos...), não avancei mais. Para a frente encontraria os viveiros de trutas e depois de uma grande subida, a estrada alcatroada que vem da Portela do Homem. Mas, como disse, voltei para trás. Estava calor, agora. Mas debaixo daqueles túneis de verdura o calor suportava-se bem.
No regresso as subidas parecem sempre mais íngremes... Por fim, lá cheguei ao parque, um pouco cansado, mas deliciado com o dia. Ainda era meia tarde, com tempo suficiente para um banho, um lanche reforçado, e as actualizações permitidas pelo Wifi, na paz permitida pela época baixa e pela benignidade do clima. Mais um dia passado.
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