terça-feira, 12 de março de 2013

AMENDOEIRAS 2013 - l

    Como é meu hábito de há muitos anos, tinha decidido fazer o circuito das amendoeiras em flor, por altura do Carnaval. Mas o mau tempo e uma irritante gripe, trocaram-me os planos. E como na semana seguinte, a chuva e vento forte persistiram, acabei por partir apenas no domingo, 24/2. Afinal o Inverno frio e chuvoso atrasaram um pouco a floração das amendoeiras e o final de Fevereiro adivinhava-se como o mais profícuo.
     O percurso para norte, evitando as auto-estradas, não deixa muitas alternativas. A-8 até Leiria, N-1 (IC-2), até Coimbra, IP-3, IC-6 até Tábua, N-17. Almoço em Gouveia. Celorico da Beira, Trancoso, Meda. A habitual simpatia à minha espera, parque deserto nesta altura do ano, só para mim.

      Como as previsões do tempo apontavam para 2 dias de sol, havia que aproveitá-los para ir ver as amendoeiras. Elas não florescem todas ao mesmo tempo, dependendo da zona, altitude, exposição ao sol, composição do solo, etc. Assim, fazendo um périplo pelos concelhos de V. N. de Foz Côa, F. Castelo Rodrigo, Freixo. E. à Cinta, Vila Flor, Alfândega da Fé, Torre de Moncorvo e Carrazeda de Ansiães, encontram-se as melhores áreas para regalar os olhos.

      Parti para V. N. de Foz Côa, onde aproveitei para ir ao Intermarché. Não sendo egoísta, abasteci-me a mim e à autocaravana. Segui pela N 222, que começa por descer até ao Côa, vendo-se no cimo de um monte a silhueta do novo museu do Côa, espreitando o Douro.


Passando um viaduto por cima do Côa, já perto da sua foz, começa-se a subir, agora paralelamente ao Douro. Ao fundo, vê-se a antiga estação de Côa, abandonada, junto ao pontão ferroviário que atravessava o rio mesmo no local onde desagua no Douro. Local de beleza agreste, onde se podem captar belas imagens.

Foz do Côa e antiga estação homónima
      Na aproximação a Castelo Melhor, começa o espectáculo das amendoeiras em flor. Sucedem-se os campos e as encostas cobertas por centenas de árvores no auge da floração. Com o céu azul e o sol a brilhar, o cenário é de antologia. Páro e fotografo sem cessar, à direita, à esquerda, a cada curva parece que o que vem é sempre mais bonito que o anterior. Não há máquina que consiga captar e reproduzir o que os olhos vêem. É preciso lá ir, e é isso que faço todos os anos.


O trecho entre Castelo Melhor e Almendra revela-se como o mais rico em amendoeiras cheias de flor. À entrada desta povoação os campos enormes cobertos de árvores de flores brancas e rosa faz jus ao seu nome. Pouco depois, entrava em Figueira de Castelo Rodrigo, onde depois de um curto passeio pela pequena vila, almocei.
    A partir daqui a estrada entra numa zona agreste, ladeada de enormes pedregulhos, mantendo-se assim até Escalhão. Começa a comprida descida para encontrar de novo o Douro, em Barca D'Alva. Mais um lindo troço de estrada, cheio de curvas, de encostas em que se misturam amendoeiras, oliveiras e vinha e em que se vê ao fundo o rio Águeda, que separa Portugal de Espanha, a antiga linha de caminho de ferro que prosseguia até La Fuente de San Esteban e daí para Salamanca e na linha de horizonte, as arribas do Douro, com o Penedo Durão, refúgio de águias e abutres.

Rio Águeda. Ao fundo, Barca D'Alva e o Douro

Paragem obrigatória no miradouro do Alto da Sapinha, já tantas vezes visitado. A vista que se alcança, nunca cansa...


Continuando a descida, vagarosamente porque a prudência e as vistas o aconselham, pouco depois entrava em Barca D'Alva, passando por baixo do pontão do caminho de ferro onde outrora apitavam os comboios a vapor sinalizando a aproximação ao termo da viagem em território português. Esta pequena aldeia, que vivia quase exclusivamente do caminho de ferro é agora habitada quase apenas por alguns idosos, embora a construção de um moderno cais onde atracam as embarcações que fazem os passeios fluviais no Douro, tenha trazido alguma animação.

Cais de Barca D'Alva
Há aqui um agradável caminho marginal ao Douro, que começa no cais e vai até à ponte internacional junto ao Águeda, que é um irrecusável convite. Aceite, lá fui. Volvidos uns 200 metros, já se consegue obter uma completa panorâmica sobre a totalidade da belíssima ponte almirante Sarmento Rodrigues, que liga o distrito da Guarda ao de Bragança.


O caminho ladeia o rio Douro, numa majestosa envolvente paisagística, atinge o ponto onde o Águeda encontra o Douro e inflecte para norte, passando a acompanhar o rio Águeda, passando por baixo da ponte internacional onde circulava o comboio.


 
Há depois uma escada de madeira que nos leva a um amplo espaço alcatroado e ao tabuleiro da ponte e linha do comboio.


Percorri o curto trajecto sobre a linha, que nos leva até ao que resta das instalações da outrora imponente estação de Barca D'Alva. É confrangedor olhar para tamanha destruição, para o que resta da grandiosa antiga estação terminal da linha do Douro. Autêntica metáfora do país, traz-me sempre alguma melancolia e frustração pelo estado desolador a que chegou o mais bonito troço da majestosa linha do Douro. Ninguém consegue progredir desperdiçando os melhores recursos que tem e nos quais tanto investiu.

Antiga estação de Barca D'Alva
Atravessando a ponte, entra-se no distrito de Bragança. A estrada acompanha o rio Douro, com quintas de um lado e outro, grandes laranjais junto à água e a omnipresente vinha nas encostas. Alguns quilómetros acima surge a barragem espanhola de Saucelle. Parei num dos miradouros para mais umas fotografias. Por cima e atrás fica o Penedo Durão, enorme penhasco sempre sobrevoado por águias reais, grifos e águias de Bonelli.



A tarde corria célere e havia que avançar. Viajar a uma média de 50 ou 60 Km/h a ritmo de caracol, com paragens muito frequentes e por vezes demoradas, fazem com que os dias passem vertiginosamente. Arranquei, para mais um troço onde há sempre grandes concentrações de amendoeiras floridas. Esta zona, até ao cruzamento para Poiares, é uma das mais bonitas para quem procura as amendoeiras.




Barragem de Saucelle
Paragem obrigatória em Freixo de Espada à Cinta para comprar azeite. Tornei-me também um apreciador dos nossos azeites. Aqui há um excelente, na adega cooperativa, o Montes Ermos. Se fosse hora de almoço, teria ido comer uma posta mirandesa bem confeccionada, no "A Cabana". Assim, feita a compra do azeite, prossegui, rumo a Torre de Moncorvo. Mais duas estações em ruínas, desta vez na linha do Sabor, F. E. à Cinta e Carviçais. Atravessar Carviçais de autocaravana é um suplício, não porque a estrada seja estreita, mas porque a povoação é muitíssimo comprida e o pavimento tem mais de uma dezena de lombas, que nos obrigam a quase parar. Passa-se a serra de Reboredo, Carvalhal, com os seus bairros de mineiros das encerradas minas de ferro e pouco depois, Moncorvo, que atravessei sem parar. Recordo que em muitas povoações não páro, a não ser que precise de algo, ou me apeteça passear. Os monumentos, há muitos anos que conheço todos e só de longe em longe volto a visitar algum mais apelativo. Continuei pela estrada velha, a N 220, que desce a serra até ao Pocinho, muito degradada e com tão pouco trânsito, que crescem ervas no meio do pavimento e as silvas já chegam quase ao meio da estrada. Mas quando são bonitas, são estas que eu prefiro. Paragem também obrigatória, junto à barragem do Pocinho. Mal tinha parado quando me vi rodeado de curiosos visitantes...


Dei um pulo até ao cais, recentemente remodelado, para ver um barco que ali está atracado, pertencente à CM de Foz Côa e que faz viagens turísticas no Douro, o Senhora da Veiga.


A tarde já declinava, emprestando diferentes tonalidades ao espelho de água da albufeira da barragem.

Barragem do Pocinho
Era tempo de partir. Optei, como sempre, por subir pela velha estrada até V. N. de Foz Côa, em detrimento do IP-2. Atravessei a cidade, engalanada para as festas da amendoeira em flor e prossegui pela N 102, por Longroiva, cujo castelo já na obscuridade, se recortava de forma romântica no céu ainda iluminado pelo final da tarde.


5 Km depois, chegava ao meu poiso habitual, base para as minhas surtidas na Beira Alta. Meda.

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