O percurso para norte, evitando as auto-estradas, não deixa muitas alternativas. A-8 até Leiria, N-1 (IC-2), até Coimbra, IP-3, IC-6 até Tábua, N-17. Almoço em Gouveia. Celorico da Beira, Trancoso, Meda. A habitual simpatia à minha espera, parque deserto nesta altura do ano, só para mim.
Como as previsões do tempo apontavam para 2 dias de sol, havia que aproveitá-los para ir ver as amendoeiras. Elas não florescem todas ao mesmo tempo, dependendo da zona, altitude, exposição ao sol, composição do solo, etc. Assim, fazendo um périplo pelos concelhos de V. N. de Foz Côa, F. Castelo Rodrigo, Freixo. E. à Cinta, Vila Flor, Alfândega da Fé, Torre de Moncorvo e Carrazeda de Ansiães, encontram-se as melhores áreas para regalar os olhos.
Parti para V. N. de Foz Côa, onde aproveitei para ir ao Intermarché. Não sendo egoísta, abasteci-me a mim e à autocaravana. Segui pela N 222, que começa por descer até ao Côa, vendo-se no cimo de um monte a silhueta do novo museu do Côa, espreitando o Douro.
Passando um viaduto por cima do Côa, já perto da sua foz, começa-se a subir, agora paralelamente ao Douro. Ao fundo, vê-se a antiga estação de Côa, abandonada, junto ao pontão ferroviário que atravessava o rio mesmo no local onde desagua no Douro. Local de beleza agreste, onde se podem captar belas imagens.
Foz do Côa e antiga estação homónima |
O trecho entre Castelo Melhor e Almendra revela-se como o mais rico em amendoeiras cheias de flor. À entrada desta povoação os campos enormes cobertos de árvores de flores brancas e rosa faz jus ao seu nome. Pouco depois, entrava em Figueira de Castelo Rodrigo, onde depois de um curto passeio pela pequena vila, almocei.
A partir daqui a estrada entra numa zona agreste, ladeada de enormes pedregulhos, mantendo-se assim até Escalhão. Começa a comprida descida para encontrar de novo o Douro, em Barca D'Alva. Mais um lindo troço de estrada, cheio de curvas, de encostas em que se misturam amendoeiras, oliveiras e vinha e em que se vê ao fundo o rio Águeda, que separa Portugal de Espanha, a antiga linha de caminho de ferro que prosseguia até La Fuente de San Esteban e daí para Salamanca e na linha de horizonte, as arribas do Douro, com o Penedo Durão, refúgio de águias e abutres.
Rio Águeda. Ao fundo, Barca D'Alva e o Douro |
Continuando a descida, vagarosamente porque a prudência e as vistas o aconselham, pouco depois entrava em Barca D'Alva, passando por baixo do pontão do caminho de ferro onde outrora apitavam os comboios a vapor sinalizando a aproximação ao termo da viagem em território português. Esta pequena aldeia, que vivia quase exclusivamente do caminho de ferro é agora habitada quase apenas por alguns idosos, embora a construção de um moderno cais onde atracam as embarcações que fazem os passeios fluviais no Douro, tenha trazido alguma animação.
Cais de Barca D'Alva |
O caminho ladeia o rio Douro, numa majestosa envolvente paisagística, atinge o ponto onde o Águeda encontra o Douro e inflecte para norte, passando a acompanhar o rio Águeda, passando por baixo da ponte internacional onde circulava o comboio.
Há depois uma escada de madeira que nos leva a um amplo espaço alcatroado e ao tabuleiro da ponte e linha do comboio.
Percorri o curto trajecto sobre a linha, que nos leva até ao que resta das instalações da outrora imponente estação de Barca D'Alva. É confrangedor olhar para tamanha destruição, para o que resta da grandiosa antiga estação terminal da linha do Douro. Autêntica metáfora do país, traz-me sempre alguma melancolia e frustração pelo estado desolador a que chegou o mais bonito troço da majestosa linha do Douro. Ninguém consegue progredir desperdiçando os melhores recursos que tem e nos quais tanto investiu.
Antiga estação de Barca D'Alva |
A tarde corria célere e havia que avançar. Viajar a uma média de 50 ou 60 Km/h a ritmo de caracol, com paragens muito frequentes e por vezes demoradas, fazem com que os dias passem vertiginosamente. Arranquei, para mais um troço onde há sempre grandes concentrações de amendoeiras floridas. Esta zona, até ao cruzamento para Poiares, é uma das mais bonitas para quem procura as amendoeiras.
Barragem de Saucelle |
Dei um pulo até ao cais, recentemente remodelado, para ver um barco que ali está atracado, pertencente à CM de Foz Côa e que faz viagens turísticas no Douro, o Senhora da Veiga.
A tarde já declinava, emprestando diferentes tonalidades ao espelho de água da albufeira da barragem.
Barragem do Pocinho |
5 Km depois, chegava ao meu poiso habitual, base para as minhas surtidas na Beira Alta. Meda.
Sem comentários:
Enviar um comentário