E que paisagem! A frente do museu é uma autêntica esplanada sobre o Douro, que corre placidamente lá em baixo. Ao seu lado, repousam os restos da linha férrea no troço abandonado entre Pocinho e Barca D'Alva. À direita, o rio Côa, que desagua mesmo por baixo, no Douro. O local escolhido não podia ser melhor!
Trecho final do Côa pouco antes da foz |
Entro para o museu. O seu tamanho exterior, leva-nos a pensar que por dentro a exposição também será similar, o que não é o caso. Tem 7 salas em que se expõe todo o seu espólio, que ainda assim é bem interessante e merecedor de uma visita demorada e atenta.
Entrada do museu do Côa |
Interior do museu |
Visto o museu, saí cá para fora, para o sol e a bela paisagem. Há um atalho que desce, com um acentuado declive, até um heliporto, de onde nos sentimos suspensos sobre o vale, com a soberba vista aos nossos pés.
Embora a contragosto, regressei, pela estradinha construída para dar acesso ao museu, até à cidade, onde segui no sentido de Figueira de Castelo Rodrigo. Queria ver de novo as amendoeiras em flor no melhor local, entre Castelo Melhor e Almendra. E com sol, o espectáculo é inolvidável.
Ribeira de Aguiar, à passagem pelo santuário da Senhora do Campo |
O espectáculo do Douro agreste, quase deserto de gentes, prossegue, apenas se adivinhando a presença humana pelo trabalho ciclópico que nos é dado ver nas quintas e socalcos cobertos de vinha cuidadosamente tratada.
Mais umas curvas, mais uns vinhedos e finalmente, em baixo e ao longe, surge o que resta da estação de Almendra.
A estrada acaba aqui e também qualquer sinal de civilização. Nas imediações da estação, a destruição habitual. Tudo o que era possível arrancar, há muito desapareceu. Mesmo as encostas, aqui perdem o contacto com o Homem, tornando-se bravias, cobertas apenas por mato rasteiro. Um papa-reformas ali estacionado, revela-me que não estou sòzinho. Efectivamente, a meio do rio, um casal de idosos mergulha umas redes, equilibrando-se precariamente em cima de um bote. Olham-me com alguma desconfiança, talvez pelo insólito da presença humana em local tão pouco frequentado.
Depois de deambular um pouco pelo meio das ruínas da estação, absorvendo aquele cheiro inconfundível que se desprende das travessas mesmo podres e que perdura anos após o seu abandono e de gozar aquele silêncio e solidão, empreendi o regresso, percorrendo de novo, vagarosamente, a estrada deserta até ao cruzamento de Almendra e as suas amendoeiras vistosas.
A tarde ainda ia a meio, agradável, com sol e temperatura amena. Percorri devagar a estrada entre Foz Côa e Longroiva, chegando a Meda pelas 17 horas.
O dia seguinte era de regresso, adiado pelo nevão que me surpreendera agradavelmente. A estrada utilizada, a habitual, por Marialva, Celorico da Beira com paragem para compra de queijo e compotas e almoço em Gouveia. Paragem apenas em Póvoa das Quartas, para presenciar o abandono e degradação da antiga pousada de Stª Bárbara, depois estalagem e agora encerrada à espera dos vândalos. Belo panorama que se avista em frente, com a serra da Estrela polvilhada de neve e as aldeias dispersas na estrada que vai de Seia à Portela das Pedras Lavradas.
Não resisti ainda ao apelo manifestado por uma linda flor, prenunciando a Primavera e querendo dizer-me que na natureza tudo se renova, ao contrário das obras do Homem, perecíveis e tantas vezes com a existência abreviada por incompreensíveis actos de incivilidade...
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