O tempo era o ideal para passear: céu limpo, temperatura amena, sem vento. Partimos cedo, por Abrantes, Alpalhão, Portalegre (almoço), Campo Maior, Elvas, Caia, sempre por estradas nacionais. Depois, contornámos Badajoz sem parar, pela A-5 e a meio da tarde chegávamos a Mérida. Em consulta ao "Google maps", tinha visto que, tendo como destino o camping de Mérida, a melhor saída seria a Nº 342, a partir da qual o acesso ao parque, localizado mesmo no centro da cidade, seria relativamente fácil. Assim fiz. Percorri o trajecto previamente gravado na cabeça, mas no local onde deveria estar o camping, havia apenas o hospital e um recinto desportivo, além de ruas movimentadas e gente, muita gente. Perguntei onde ficava o camping, mas ninguém sabia. Introduzi as coordenadas no GPS e parti, de novo. Levou-me precisamente ao mesmo local, junto do hospital! Outro espanhol mais idoso, indicou-me o único camping, a 3 quilómetros, atravessando toda a cidade, a caminho de Madrid. Lá fomos e a partir do centro começaram a aparecer placas indicativas. Efectivamente, 3 quilómetros depois ali estava ele. Questionada a menina da recepção, informou-nos que no google, o camping é o...Hospital! O parque pouco mais é que um recinto separado de uma quinta agrícola por uma rede de arame, por onde espreitam um burro, um rebanho de ovelhas e muitas galinhas. Apesar disso, já conhecemos pior em Espanha e a casa de banho era limpa e agradável, mas pagámos 17,94€ por noite!
Camping em Mérida |
Os planos passavam por deixar a autocaravana no parque, mas o Google trocou-nos as voltas. No dia seguinte, sábado, partimos para a cidade. Tinham-nos dito que junto à praça de touros havia sempre estacionamento e com segurança. Embrenhámo-nos pelo centro da cidade, que não é muito grande, e encontrámos facilmente onde estacionar, em pleno centro, sem quaisquer restrições nem pagamentos. Começámos por nos dirigir ao posto de turismo, onde nos ofereceram vários panfletos e em português! De facto, ouvia-se muito a nossa língua pelas ruas, nos restaurantes, esplanadas, monumentos e viam-se muitas matrículas portuguesas. Estaríamos todos a celebrar o 5 de Outubro ou a aproveitar as últimas surtidas antes do torniquete fiscal?
Plaza de Espanha |
Percorremos ruas estreitas, cheias de gente, com o recheio das inúmeras lojas exposto no exterior, até que desembocámos na Plaza de Espanha, cheia de monumentos interessantes. Mais abaixo, uma das principais atracções: a ponte romana, uma das mais belas existentes na península ibérica.
Ponte romana sobre o Guadiana |
O local é de uma extraordinária beleza. Não só a ponte, uma obra grandiosa para a época, mas toda o ambiente envolvente, com o rio Guadiana a ser aproveitado por inúmeros praticantes de canoagem, uma enorme zona verde e não muito longe, a moderna ponte de Lusitânia.
Ponte Lusitânia |
Ponte romana com o Alcazaba Árabe |
Como havia tanto para visitar, optámos por começar pelo mais importante, uma vez que o tempo não iria chegar para ver tudo. E em primeiro lugar queríamos ver o imponente teatro romano, verdadeiro ex-libris de Mérida!
Templo de Diana |
De passagem, observámos o templo de Diana, com muitas semelhanças com o nosso de Évora e o Arco de Trajano, bem perto dali.
Anfiteatro romano |
Hoje, lugar de presença constante de turistas que tudo fotografam e filmam, quanto sangue aqui se derramou, quanta crueldade aplaudida entusiasticamente pela populaça aqui se perpetrou?
No teatro romano |
Ali mesmo ao lado, o ponto alto de todo o conjunto monumental: o imponente teatro romano. É de facto uma construção magnífica, cuja escavação se iniciou em 1910. Depois de parcialmente reconstruído, serve de palco ao festival de teatro clássico de Mérida desde 1933.
Por trás do teatro existe ainda um lindo espaço ajardinado rodeado de pórticos com colunas.
No exterior do recinto, os angariadores de clientes para os muitos restaurantes da zona, disputavam a atenção de cada visitante que saía, distribuindo folhetos com preços e ementas. De facto, com tanta caminhada, o estômago já reclamava e o corpo pedia algumas tréguas. Sentámo-nos logo ali mesmo, numa esplanada defronte do museu nacional de arte romano que iríamos visitar após o almoço. Umas migas extremenhas com chouriço, umas costeletas acompanhadas de um vinho tinto, tudo nem muito bom nem muito mau, mas aceitável por 10€ por cabeça, serviram para nos recompor para a tarde. Entrámos no museu em frente, gratuito aos sábados de tarde.
Museu de arte romano |
Logo que chegamos ao átrio principal, ficamos impressionados com a grandeza do edifício, apenas igualada com a do seu espólio. Estátuas, enormes painéis de pequenos mosaicos, uns expostos em paredes, outros ocupando por completo o chão de salas, moedas, cerâmica, objectos descobertos nas escavações, enfim, para quem gosta de história, especialmente do estudo das civilizações clássicas, tem aqui material para um dia inteiro.
Terminada a visita ao museu, voltámos à ponte romana, para visitar o Alcazaba Árabe, que lhe fica contíguo. Como já disse, trata-se de um espaço muralhado, construído para controlar o acesso pela ponte e para refúgio dos muçulmanos nos primeiros tempos da conquista árabe, face às muitas revoltas da população cristã. A vista de cima das muralhas é fabulosa.
Ponte romana e ponte Lusitânia, vistas do Alcazaba Àrabe |
Zona arqueológica da Moreria |
Já cansados e sedentos, sentámo-nos numa esplanada do centro, onde se falava predominantemente português. Os espanhóis que enchiam as ruas de manhã, tinham desaparecido, deixando-as desertas. Reconfortado com um "balde" de cerveja gelada e umas azeitonas, partimos para a basílica de Stª Eulália.
Subsolo da Basílica de Stª Eulália |
A tarde declinava e o cansaço já se fazia sentir. Fomos ainda ao circo...
O circo romano é outro dos locais que não se podem deixar de visitar. Enorme espaço, era um dos equipamentos obrigatórios nas principais metrópoles romanas.
Circo romano |
Aqui se faziam as corridas de carros puxados por 2 (bigas) ou 4 (quadrigas) cavalos.
Aqueduto de S. Lázaro |
Um dia é pouco para se visitar o património de Mérida. Apesar da cidade não ser muito grande e as extensões a percorrer não serem por isso exaustivas, ao fim de algumas horas a percorrer monumentos em passo curto e a ir de um extremo ao outro da cidade mais que uma vez, torna-se muito cansativo. Por isso, no regresso do circo, passado o aqueduto de S. Lázaro, a autocaravana que por ali estava, afigurou-se-nos mais acolhedora do que nunca. E já foi nela que procurámos o outro aqueduto, o de Los Milagros
Aqueduto de Los Milagros |
Era tempo de recolher ao parque. Ficaram ainda vários monumentos por ver, para uma próxima incursão. A cidade é um autêntico manancial, uma enorme fonte para o estudo da civilização romana.
No dia seguinte, voltámos à A-5, pela entrada 333, afinal ali tão perto e o melhor acesso para o parque de campismo de Mérida. Como gosto de percorrer devagar os campos, ver a agricultura nos grandes espaços, que os espanhóis praticam, atravessar as localidades, entrei na Ex 209, por Montijo até Badajoz, inflectindo aí para norte, pela Ex 100 e Ex 110, para visitar Alburquerque. Esta pequena cidade tem um castelo lindo, que já visitei há uns anos. Desta vez porém não tive sorte, pois o seu interior está encerrado por motivo da construção de uma unidade hoteleira. Foi possível no entanto andar nas suas ameias e sobre as altas muralhas de onde se tem uma excelente panorâmica das vastas planícies extremenhas.
Castelo de Alburquerque |
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