O dia seguinte foi dedicado a percorrer metade do trajecto, entre Villefranche e Mont-Louis, com regresso pela mesma via, num percurso espectacular, que fez as delícias de alguns fanáticos da ferrovia, como é o nosso caso.
Esta linha de via estreita, tem composições praticamente de meia em meia hora em ambos os sentidos, sempre apinhadas nos meses de Verão, de gente entusiasmada, quase todos turistas de máquinas fotográficas e de filmar aperradas nas mãos, disparando freneticamente a cada curva, a cada ponte ou viaduto, a cada entrada num dos incontáveis túneis.
Duas das carruagens são descobertas, com bancos corridos, o que confere um acrescido interesse a quem ali consegue arranjar um lugar. Tem a particularidade de ser electrificada, através de um terceiro carril que corre paralelo aos outros, com energia fornecida por uma barragem construída expressamente para o efeito. É uma linha de montanha, que atravessa cenários grandiosos, que teve que vencer grandes desníveis de terreno, desfiladeiros abruptos, gargantas de rios, o que torna este percurso de uma grande beleza paisagística.
Aconselhamo-la vivamente a todos os entusiastas dos comboios, especialmente os revivalistas da via estreita em trajectos de montanha. Era perfeitamente perceptível o carinho de todos os naturais e residentes na zona, por este carismático comboio. Ele nasceu como forma de quebrar o isolamento que a orografia da região determinava e remetia àquelas populações há cem anos atrás, especialmente nos longos Invernos em que a neve isolava aldeias durante semanas ou mesmo meses. Mas ainda hoje, com acesso a meios de transporte e vias de comunicação inimagináveis há algumas décadas, há chefes de família que no Inverno, quando se deslocam em visita a parentes e amigos em aldeias vizinhas e são surpreendidos por súbitas borrascas, muito frequentes em zonas de montanha, colocam a família de regresso em segurança no Train Jaune e vão eles sòzinhos no automóvel, pelas perigosas estradas de montanha, com terríveis declives, sem qualquer protecção em boa parte do trajecto, como pudemos constatar...
Na década de oitenta, também os caminhos de ferro franceses tentaram encerrar esta linha, com o pretexto de falta de rentabilidade, mas a forte oposição de toda a população servida pela linha, coadjuvada pelos poderes autárquico e regional e sucessivas greves dos trabalhadores ferroviários da região, solidários com os seus colegas e em defesa de um "ex libris" de toda a zona, acabaram por inverter esta decisão, levando a um grande investimento na modernização da infraestrutura e do material circulante, mantendo as composições antigas com o conforto e segurança da actualidade. Inevitavelmente, fiz uma comparação com a nossa linha do Tua, onde se poderia fazer outro tanto, provavelmente com resultados não tão imediatos nem tão lucrativos, mas certamente muito positivos para o turismo da região, para a fixação da população e seu benefício imediato e retorno financeiro a médio e longo prazo. Mas quem é que gere e toma decisões a médio e longo prazo em Portugal?
Aqui está um bom exemplo que podemos copiar e trazer para o nosso país. Decerto que teria, também aqui, muitos adeptos e entusiastas. Eu seria um deles.
ResponderEliminarInfelizmente em Portugal copiamos muito mas quase só o que é mau. A nossa linha do Tua, das mais bonitas e espectaculares do mundo, vai ser submersa, sacrificada por uma barragem que irá produzir uma quantidade marginal de energia, mas que, com uma contabilidade "criativa", irá incrementar os lucros e consequentemente os prémios de gestão dos administradores da empresa que a vai explorar. São assim os tempos que correm e que nos conduziram para onde estamos agora...
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