sexta-feira, 29 de junho de 2012

FDS - SENHORA DA RIBEIRA - 1

     Há muito tempo que a Srª da Ribeira estava na minha lista de prioridades para um fim de semana. Mas vão aparecendo outras coisas a sobrepôr-se, compromissos, o tempo desagradável, o Verão com o excessivo calor e gente a mais, outros destinos que se impõem na fila... Chegou agora em Junho a oportunidade e lá fomos. Marquei antecipadamente um quarto, para evitar surpresas desagradáveis e partimos no sábado, 9 de Junho. Percurso habitual para Norte, pela N-1 até Coimbra e depois pelo IP-3 até Viseu. Como quem entra em Viseu pelo IP-3 e quer prosseguir para Norte pela N-2, tem que contornar 23 (!) rotundas na cidade, para não ficarmos com a cabeça a andar à roda, parámos no centro de Viseu para almoçar. Café no Fontelo e "ala que se faz tarde". Percurso de regresso às estradas da minha juventude, por Castro D'Aire e localidades com nomes pitorescos, como Matança, Matancinha, Magueija, Magueijinha... E a linda Lamego. As portagens nas SCUTS trazem-me de volta a estas localidades cheias de encanto e pequenos tesouros escondidos. Depois de inúmeras curvas embelezadas pelas vinhas em socalcos que anunciam o Douro, desembocamos na Régua. A antiga ponte em ruínas, construída para travessia rodoviária, quando se pensou ligar a Régua a Lamego por via férrea, foi agora recuperada para ponte pedonal. O cais da Régua está bastante concorrido, com muitos barcos sempre a chegar e a partir, trazendo muito movimento à cidade.
Cais da Régua
Aproveitámos para dar um passeio pelo cais, sempre agradável, vendo o movimento das vendedeiras de rebuçados, de cerejas e outros artigos regionais e os muitos turistas que os barcos trazem e levam. Continuámos pela linda N 222 a que chamo marginal do Douro, já que bordeja sempre o rio até ao Pinhão, passando pela barragem de Bagaúste e na margem oposta tem a linha do Douro sempre a acompanhar-nos.
Vista da estrada N 222


Esta estrada tem que ser saboreada devagar, com requinte, parando quando passa algum barco ou comboio. Não chegámos a entrar no Pinhão, dado que a estrada continua para S. João da Pesqueira antes de ali chegar, mas aconselhamos vivamente a visita à localidade, com paragem obrigatória na estação de comboios, com os seus magníficos painéis de azulejo, ao cais e à Vintage House e sua loja de vinhos e produtos "gourmet", embora para bolsas bem nutridas...

Atacamos a subida para S. João da Pesqueira, no meio de extensos vinhedos, nesta altura do ano numa profusão de verdes fortes. A certa altura, mais uma paragem obrigatória, num ponto com uma vista fantástica sobre o Pinhão, o rio, a ponte de ferro e a tarefa ciclópica desenvolvida pelo Homem nas encostas ao longo de séculos e que se estende agora à nossa frente numa paisagem inolvidável.
Pinhão, ao longe


Continuamos, sempre pelo meio de vinhas, por Ervedosa do Douro, até S. João da Pesqueira. É uma vila pequena, simpática, com uma área para autocaravanas logo à entrada e um parque de campismo no centro, junto do quartel dos bombeiros, onde já temos ficado noutras ocasiões.



Sortilégios no Douro






Atravessamos a vila, passamos junto à Casa do Cabo, lindo palacete onde funciona o tribunal, que será em breve encerrado e dirigimo-nos para a estrada que sai em direcção a Carrazeda de Ansiães. Logo à saída, começa a descida e mais vinha em socalcos. Do lado direito, a Quinta de Cidrô e respectivo palácio. Serpenteando pelo meio das vinhas chegamos a um cruzamento. Seguindo em frente, a estrada desce até à Ferradosa, com direito a paisagens de sonho. Virando à esquerda, deparamos logo a 500 M com o santuário de S. Salvador do Mundo, com várias capelas alcandoradas no alto de uma montanha debruçada sobre o rio Douro e a barragem da Valeira. Paramos no parque de estacionamento, para rever a soberba paisagem já tantas vezes visionada mas sempre deslumbrante. A vista estende-se até quilómetros de distância. Em baixo, muito em baixo, a barragem e a respectiva albufeira; em frente, em precário equilíbrio no alto de uma montanha gémea daquela que pisamos, avistamos as casinhas de Campelos e de Carrapatosa; ao longe, na última curva do Douro, adivinhamos a estação de Alegria, na linha do Douro; e em frente, do outro lado, a estradinha estreita, sinuosa e com fortes declives que trepa pelas montanhas até ao alto do colosso que se ergue defronte de nós.
Barragem da Valeira


Começamos a descida. Devagar, que a estrada é perigosa e as paisagens soberbas também o aconselham. Quando estamos quase a chegar à barragem, avistamos um comboio no outro lado do rio. Como sempre, tenho que o fotografar e acompanhá-lo até o perder de vista, quando entra no túnel da Valeira.



Linha do Douro - Antes do túnel da Valeira





Atravessamos a barragem e entramos no distrito de Bragança, concelho de Carrazeda de Ansiães. Começa a subida, uma subida de se lhe tirar o chapéu! A estrada trepa com uma inclinação não anunciada, mas que estimo em alguns locais acima de 13%. Os cotovelos sucedem-se e o cruzamento com outros veículos faz-se saindo para a precária berma. O que vale é que poucos se aventuram por ali... Descê-la no Inverno, quando não tinha os rails de protecção é que era um pouco assustador! Depois de uma escalada sempre em 2ª velocidade, lá chegámos a Carrapatosa, onde a subida se suaviza e o rio nos abandona. A paisagem muda, agora com pequenas courelas cultivadas no meio de enormes penedos de granito, com o solo arenoso ocupado por milho, oliveiras e vinha, a omnipresente vinha. Depois de mais alguns quilómetros percorridos, chegamos a Linhares. Ainda antes de entrar nesta aldeia com atractivos muito peculiares, viramos à direita, num desvio que anuncia Marzagão e Seixo de Ansiães. Atravessamos Marzagão, depois Selores, onde existe um solar em ruínas e Seixo de Ansiães. Antes porém, desviamo-nos para visitar o castelo de Ansiães, que, como fica fora dos habituais circuitos turísticos, é pouco conhecido. Vale bem uma visita, no entanto. Ao contrário do que promete da estrada, é bastante grande, com um extenso perímetro de muralhas, algumas arruinadas, outras com sinais de obras de manutenção.



No interior, uma capela de razoável dimensão, em bom estado e com um pórtico muito interessante.


Apareceram entretanto quatro motards espanhóis a visitar o castelo, que tão poucos portugueses procuram...




Capela - Castelo de Ansiães
Castelo de Ansiães





A partir de Seixo de Ansiães, a estrada começa uma enorme descida, com forte declive, estreita, de novo, com curvas muito apertadas. Ao cabo de quase 10 Km e com os travões a gemerem de cansaço avistamos finalmente a meia dúzia de casas, algumas desabitadas, do lugar conhecido por Senhora da Ribeira.








Senhora da Ribeira

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