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Ponte sobre o rio Maçãs perto de Vimioso |
Quinta feira amanheceu luminosa. Às 7 horas já andava por fora a absorver a frescura matinal e a ouvir o coro da passarada. O guarda do parque, apesar de ter o horário de entrada às 9 horas, chegou mais cedo, o que me permitiu partir também antes das 9. O objectivo para este dia era visitar Puebla de Sanábria e o Lago. Saí pela N 218, minha velha conhecida, que me faz sempre lembrar uma viagem nocturna, num Agosto de há uns 25 anos, a caminho de Miranda do Douro debaixo de chuva e trovoada, em duas motos, por nos ter faltado a gasolina no Parque de Montezinho. Parei na ponte sobre o rio Maçãs para recordar esse episódio já tão distante. A partir de Rio Frio, entra-se no IP-4, que está transformado num estaleiro de obras, para construção da auto-estrada que já tem ali um troço em utilização, gratuito até ao nó de Bragança-Centro, onde saí. Não queria visitar a cidade, que conheço bem, mas apenas ir ao hipermercado abastecer-me. A manobra custou-me uma hora perdida. Voltei a apanhar a A-4 para sair para o Parque Natural de Montezinho. Adoro percorrer estas estradas na Primavera, quando os campos se enchem de flores de todas as tonalidades, o ar está repleto de cheiros e a temperatura amena nos acaricia a pele. Até França, a estrada é sempre acompanhada pelo rio Sabor, que irriga vales férteis e bosques frondosos. A partir daqui começa-se a subir e a paisagem torna-se mais árida, nas imediações da Serra de Montezinho.
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Rio Sabor - Rabal |
Passo Portelo, última povoação portuguesa e cruzo logo de seguida a fronteira, apenas perceptível pelos inevitáveis edifícios esventrados, antigos postos alfandegários, de um lado e do outro vítimas da mesma sanha vandálica. A estrada até Puebla é de montanha, atravessando a Sierra de la Gamoneda, por um entrançado de curvas que parecem não ter fim, apenas interrompidas por duas ou três pequenas povoações com casas em ruínas e habitadas por alguns velhinhos. Pouco depois entro em Puebla de Sanábria, debaixo de calor. Antes de estacionar para dar uma volta dentro da bonita cidadezinha fui ainda à estação de caminho de ferro, que tem um edifício lindo e inconfundível.
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Estação de Puebla de Sanábria |
Por aqui também já só passam comboios especiais e creio que a linha será entretanto desactivada, pois está em construção uma de alta velocidade, da Galiza a Madrid, que ficará quase paralela a esta. Percorri a zona histórica, muito bonita, com ruas cheias de edifícios cuidados, todos em pedra e telhados em ardósia, muitas floreiras lindas que transformam a cidade num jardim com casas! Ao cimo a plaza mayor com a igreja, fechada, e o castelo. Lá em baixo corre o rio Tera que tempera com um pouco de bucolismo o ar austero e severo de todo o conjunto histórico.
Eram horas de almoço, o calor apertava e era preciso prosseguir para o Lago de Sanábria. Este fica a cerca de 15 Km a norte. Pouco depois de se sair da cidade começam a ver-se extensos soutos e carvalhais. Há um posto de abastecimento de combustíveis da Galp, onde costumo parar. Enchi o depósito com gasóleo a 1,35 €. A diferença para os nossos preços já foi maior... E lá cheguei ao lago. A praia que daqui a um mês estará cheia, encontrava-se deserta. Só duas autocaravanas estacionadas, onde os donos almoçavam, o que me convidou a fazer o mesmo.
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Plaza Mayor de Puebla de Sanábria |
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Rua de Puebla |
Estava a gozar aquele silêncio à beira da água, quando chegou um autocarro carregado de crianças de uma escola. Mais de 50 gargantas em algazarra foram o sinal de partida para mim. Percorri a restante estrada à beira do lago, num percurso de grande beleza, até onde esta termina, na aldeia de Ribadelago (vieja), aldeia reconstruída depois da anterior ter sido engolida pelas águas de uma barragem cujo dique rebentou sob a pressão das águas há 53 anos.
Retrocedi devagar e virei para o lado da aldeia de San Martin de Castaneda. A estrada de cerca de 5Km, muito estreita e sempre a subir, vale a pena. O lago, muito azul, lá em baixo, é presença constante e só por isso é compensador. Quando se chega lá acima, bem depois de atravessar a aldeia, o espectáculo é arrebatador. É imperdoável não ficar ali parado uns minutos, a olhar, a sentir o silêncio, a contemplar todo aquele espectáculo verde com o centro ocupado a azul, pelo maior lago de origem glaciar da península ibérica.
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Ribadelago (vieja) |
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Lago de Sanábria |
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Lago de Sanábria ( de San Martin de Castaneda) |
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Eram horas de iniciar o regresso. Para não voltar pelo mesmo caminho, optei por entrar na A-52 em Puebla até à saída 49, por Villardeciervos, Mahide e Alcanices. Não parei nesta cidade, famosa pelo tratado aqui assinado entre Portugal e Leão e Castela em 1297, porque tinha que estar no parque de Vimioso até às 17,30 H. Como fica a pouco mais de 20 Km de Vimioso, não perde pela demora... Cheguei mesmo a tempo de entrar, instalar-me de novo, e aproveitar o resto da tarde, tomando posse de todo o espaço com os direitos da qualidade de único ocupante...
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