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Castelo de Algoso |
Este terceiro dia estava reservado ao património. Queria observar os três castelos daquela zona restrita, entre Mogadouro e Vimioso. Castelos de Mogadouro, Penas Róias e Algoso. Despedi-me do parque de campismo de Mogadouro e parti rumo a Norte, pela N 219. Logo após 5 Km, surge a aldeia de Azinhoso, que possui uma igreja de estilo românico, do séc. XIII. Eu já desisti de tentar visitar estas igrejas que existem um pouco por todo o lado, algumas, autênticos tesouros desconhecidos de quase todos. Estão permanentemente fechadas, devido ao clima de insegurança e medo que se sente nestas aldeias despovoadas. Mesmo que se procure a responsável pela guarda das chaves, que nem sempre se consegue encontrar, em alguns casos só as faculta com autorização do presidente da junta de freguesia. Assim, segui para Penas Róias que se segue imediatamente. Mais uma aldeia com meia dúzia de habitantes de idade avançada, que desaparecem quando me avistam. Esta povoação tem um parque de merendas muito agradável antes da subida que lhe dá acesso, junto à barragem de Penas Róias. Subi ao castelo, reduzido a uma torre em ruínas. Procurei a Fraga da Letra, pintura rupestre que sabia existir junto às muralhas, mas em vão. Sem ninguém a quem recorrer para indicações precisas, desci e parti para o objectivo seguinte: Algoso. A alguns quilómetros ainda, já se avista o castelo, edificado no cimo de um rochedo que, desta vertente sul cai abruptamente a pique sobre um desfiladeiro onde corre lá muito no fundo, a ribeira de Angueira. Atravessei toda a povoação, passando pelo pelourinho e no fim de uma comprida subida de acesso com várias estações de uma via sacra, surge uma pequena capela e o castelo. O tempo estava óptimo, mas a temperatura subia rapidamente. Trepei ao castelo, que é pequeno em tamanho mas grande em história.
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Castelo de Mogadouro |
Ali fiquei por largo tempo, absorvendo o profundo silêncio e a sensação de absoluta solidão. Ao longe e bem no fundo do precipício, avistava-se uma ponte românica, que sabia ali existir e que exerceu em mim uma profunda atracção. Se não fosse agora, provavelmente nunca mais lá voltaria. O sol picava na pele, o calor já era intenso. Não vislumbrava nenhum caminho a partir do castelo, apenas um trilho lá bem abaixo. Desci até à capela, que contornei. Nas traseiras, havia um caminho com uma inclinação que mais parecia uma parede de escalada, com o piso de areão, aberto por sulcos profundos cavados pelas águas da chuva. Aparentemente, ao que podia ver, ia desembocar no outro caminho lá muito em baixo. Com a mochila ao ombro, a máquina fotográfica, e o bastão a auxiliar-me para não escorregar, decidi-me a aventurar-me na perigosa descida. Ao fim de poucos minutos, olhando para trás, já o castelo ficava bem longe, muito no alto. Tentei não pensar que teria que subir tudo aquilo na volta...
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Castelo de Penas Róias |
Os caminhos parecem sempre menos longos do que são efectivamente. Este nunca mais tinha fim. A única presença eram muitos lagartos, que me olhavam espantados e desapareciam rapidamente. Depois de muitas voltas e curvas, finalmente cheguei à ponte e ao rio. A técnica e a arquitectura são perfeitas para a época. Só se ouvem rãs e gritos das aves de rapina que me espreitam lá do alto. O isolamento é total. Por momentos pensei nas consequências de um simples entorse, por ali. Ninguém sabia onde estava e o telemóvel, claro que não tinha rede... Não sei de quantos em quantos dias passaria ali alguém...
Afastando estes pouco tranquilizadores pensamentos, tirei as fotografias, descansei um pouco e comecei a penosa subida. O caminho aberto possivelmente para tractores, faz-se razoavelmente bem. Mas o outro com o enorme declive... A água desaparecia perigosamente na garrafa, o suor corria em fio pelo queixo, os pulmões sorviam o ar quente e queixavam-se ruidosamente e eu agarrava-me ao bastão, que foi preciosíssimo auxiliar para não escorregar por ali abaixo.
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Ponte vista do castelo de Algoso |
Ao fim do que me pareceu uma eternidade, cheguei ao cimo, sem fôlego, sedento e com as pernas bambas. Apesar de não ter fome, era preciso retemperar forças. Dentro da autocaravana o ambiente era de fornalha. Fiz um petisco à sombra da capela e ali mesmo comi. Nestas situações é maravilhoso dispôr de frigorífico!
Após um merecido e necessário descanso, voltei a atravessar Algoso e rumei a Vimioso, onde cheguei pouco depois. A vila é pequena mas acolhedora. Dei um pequeno passeio a pé, mas o calor e o cansaço não convidavam a grandes caminhadas. Por isso, dirigi-me ao parque de campismo que fica um pouco fora da vila a cerca de 1 Km. Já o conhecia de anos anteriores. É agradável, com bastantes pinheiros de grande porte, boas instalações e bem cuidadas, mas completamente vazio. Chegada a noite, com os portões fechados, apenas duas lanternas acesas e os ralos a cantar, o ambiente perfeito para me entregar placidamente nos braços de Morfeu...
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A ponte vista do meio do percurso |
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Ponte romana-Ribeira de Angueira |
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