sexta-feira, 29 de junho de 2012

FDS - SENHORA DA RIBEIRA - 1

     Há muito tempo que a Srª da Ribeira estava na minha lista de prioridades para um fim de semana. Mas vão aparecendo outras coisas a sobrepôr-se, compromissos, o tempo desagradável, o Verão com o excessivo calor e gente a mais, outros destinos que se impõem na fila... Chegou agora em Junho a oportunidade e lá fomos. Marquei antecipadamente um quarto, para evitar surpresas desagradáveis e partimos no sábado, 9 de Junho. Percurso habitual para Norte, pela N-1 até Coimbra e depois pelo IP-3 até Viseu. Como quem entra em Viseu pelo IP-3 e quer prosseguir para Norte pela N-2, tem que contornar 23 (!) rotundas na cidade, para não ficarmos com a cabeça a andar à roda, parámos no centro de Viseu para almoçar. Café no Fontelo e "ala que se faz tarde". Percurso de regresso às estradas da minha juventude, por Castro D'Aire e localidades com nomes pitorescos, como Matança, Matancinha, Magueija, Magueijinha... E a linda Lamego. As portagens nas SCUTS trazem-me de volta a estas localidades cheias de encanto e pequenos tesouros escondidos. Depois de inúmeras curvas embelezadas pelas vinhas em socalcos que anunciam o Douro, desembocamos na Régua. A antiga ponte em ruínas, construída para travessia rodoviária, quando se pensou ligar a Régua a Lamego por via férrea, foi agora recuperada para ponte pedonal. O cais da Régua está bastante concorrido, com muitos barcos sempre a chegar e a partir, trazendo muito movimento à cidade.
Cais da Régua
Aproveitámos para dar um passeio pelo cais, sempre agradável, vendo o movimento das vendedeiras de rebuçados, de cerejas e outros artigos regionais e os muitos turistas que os barcos trazem e levam. Continuámos pela linda N 222 a que chamo marginal do Douro, já que bordeja sempre o rio até ao Pinhão, passando pela barragem de Bagaúste e na margem oposta tem a linha do Douro sempre a acompanhar-nos.
Vista da estrada N 222


Esta estrada tem que ser saboreada devagar, com requinte, parando quando passa algum barco ou comboio. Não chegámos a entrar no Pinhão, dado que a estrada continua para S. João da Pesqueira antes de ali chegar, mas aconselhamos vivamente a visita à localidade, com paragem obrigatória na estação de comboios, com os seus magníficos painéis de azulejo, ao cais e à Vintage House e sua loja de vinhos e produtos "gourmet", embora para bolsas bem nutridas...

Atacamos a subida para S. João da Pesqueira, no meio de extensos vinhedos, nesta altura do ano numa profusão de verdes fortes. A certa altura, mais uma paragem obrigatória, num ponto com uma vista fantástica sobre o Pinhão, o rio, a ponte de ferro e a tarefa ciclópica desenvolvida pelo Homem nas encostas ao longo de séculos e que se estende agora à nossa frente numa paisagem inolvidável.
Pinhão, ao longe


Continuamos, sempre pelo meio de vinhas, por Ervedosa do Douro, até S. João da Pesqueira. É uma vila pequena, simpática, com uma área para autocaravanas logo à entrada e um parque de campismo no centro, junto do quartel dos bombeiros, onde já temos ficado noutras ocasiões.



Sortilégios no Douro






Atravessamos a vila, passamos junto à Casa do Cabo, lindo palacete onde funciona o tribunal, que será em breve encerrado e dirigimo-nos para a estrada que sai em direcção a Carrazeda de Ansiães. Logo à saída, começa a descida e mais vinha em socalcos. Do lado direito, a Quinta de Cidrô e respectivo palácio. Serpenteando pelo meio das vinhas chegamos a um cruzamento. Seguindo em frente, a estrada desce até à Ferradosa, com direito a paisagens de sonho. Virando à esquerda, deparamos logo a 500 M com o santuário de S. Salvador do Mundo, com várias capelas alcandoradas no alto de uma montanha debruçada sobre o rio Douro e a barragem da Valeira. Paramos no parque de estacionamento, para rever a soberba paisagem já tantas vezes visionada mas sempre deslumbrante. A vista estende-se até quilómetros de distância. Em baixo, muito em baixo, a barragem e a respectiva albufeira; em frente, em precário equilíbrio no alto de uma montanha gémea daquela que pisamos, avistamos as casinhas de Campelos e de Carrapatosa; ao longe, na última curva do Douro, adivinhamos a estação de Alegria, na linha do Douro; e em frente, do outro lado, a estradinha estreita, sinuosa e com fortes declives que trepa pelas montanhas até ao alto do colosso que se ergue defronte de nós.
Barragem da Valeira


Começamos a descida. Devagar, que a estrada é perigosa e as paisagens soberbas também o aconselham. Quando estamos quase a chegar à barragem, avistamos um comboio no outro lado do rio. Como sempre, tenho que o fotografar e acompanhá-lo até o perder de vista, quando entra no túnel da Valeira.



Linha do Douro - Antes do túnel da Valeira





Atravessamos a barragem e entramos no distrito de Bragança, concelho de Carrazeda de Ansiães. Começa a subida, uma subida de se lhe tirar o chapéu! A estrada trepa com uma inclinação não anunciada, mas que estimo em alguns locais acima de 13%. Os cotovelos sucedem-se e o cruzamento com outros veículos faz-se saindo para a precária berma. O que vale é que poucos se aventuram por ali... Descê-la no Inverno, quando não tinha os rails de protecção é que era um pouco assustador! Depois de uma escalada sempre em 2ª velocidade, lá chegámos a Carrapatosa, onde a subida se suaviza e o rio nos abandona. A paisagem muda, agora com pequenas courelas cultivadas no meio de enormes penedos de granito, com o solo arenoso ocupado por milho, oliveiras e vinha, a omnipresente vinha. Depois de mais alguns quilómetros percorridos, chegamos a Linhares. Ainda antes de entrar nesta aldeia com atractivos muito peculiares, viramos à direita, num desvio que anuncia Marzagão e Seixo de Ansiães. Atravessamos Marzagão, depois Selores, onde existe um solar em ruínas e Seixo de Ansiães. Antes porém, desviamo-nos para visitar o castelo de Ansiães, que, como fica fora dos habituais circuitos turísticos, é pouco conhecido. Vale bem uma visita, no entanto. Ao contrário do que promete da estrada, é bastante grande, com um extenso perímetro de muralhas, algumas arruinadas, outras com sinais de obras de manutenção.



No interior, uma capela de razoável dimensão, em bom estado e com um pórtico muito interessante.


Apareceram entretanto quatro motards espanhóis a visitar o castelo, que tão poucos portugueses procuram...




Capela - Castelo de Ansiães
Castelo de Ansiães





A partir de Seixo de Ansiães, a estrada começa uma enorme descida, com forte declive, estreita, de novo, com curvas muito apertadas. Ao cabo de quase 10 Km e com os travões a gemerem de cansaço avistamos finalmente a meia dúzia de casas, algumas desabitadas, do lugar conhecido por Senhora da Ribeira.








Senhora da Ribeira

segunda-feira, 11 de junho de 2012

ATÉ AO REINO MARAVILHOSO - 6

Piscinas municipais - Meda
     O parque de campismo de Meda é muito agradável e tem muitos argumentos para cativar potenciais utentes e transformá-los em fiéis utilizadores, como é o meu caso. Simpatia inexcedível das recepcionistas, óptimas instalações e bem cuidadas, espaço interior muito apelativo onde apetece permanecer, bem localizado, dentro da cidade mas sem receber ruídos ou intromissões indesejadas, idealmente situado em termos geográficos, a Norte da Guarda e já bem perto do Douro, constituindo um excelente ponto de apoio a explorações numa vasta área circundante. Foi, mais uma vez o que fiz no sábado. Dirigi-me a Freixo de Numão, linda aldeia por onde passo sempre a caminho da estação de caminho de ferro com o mesmo nome. Por ali andei a passear, pois tem inúmeros pontos de interesse, especialmente no que diz respeito a património arquitectónico e arqueológico. Mais uma aquisição de azeite na adega cooperativa local e comecei a descida para o Douro, a caminho do restaurante Bago de Ouro, junto à estação. O caminho ainda é longo, mas nem se dá por ele e pelas sucessivas curvas, tal é a sua beleza.


Depois do belo almoço e sobretudo do belo vinho que o acompanhou, rematado pela aguardente de fabrico próprio que abre caminho até ao estômago a sopros de maçarico, achei melhor ficar por largo tempo num mirante privilegiado sobre o rio, numa "longue-chaise" e ali proceder à lenta e dificultosa tarefa de dissipar os eflúvios efeitos de tão copiosa refeição. Tenho sempre a sorte de ver passar algum comboio, se não é dia de greve, ou barco de cruzeiro, num rio cada vez mais cobiçado pelo turismo.

Ponte junto à Petiscaria Preguiça




Deixei-me ficar por ali, acariciado pelo sol e enfeitiçado pelo panorama arrebatador.




A meio da tarde, já com melhores condições para empreender o caminho de regresso, embora relutantemente, fiz-me à estrada, para enfrentar as curvas e a ininterrupta subida até Freixo de Numão, passando depois por Touça, Poço do Canto e Meda.






Douro - Junto à estação de Freixo de Numão
O dia seguinte, domingo, era finalmente tempo de regressar a casa. Optei por voltar à serra da Gardunha, para comprar cerejas e assim, fui por Celorico, a velha N 16 por Porto da Carne até à Guarda e daí pela N 18, por Belmonte, Covilhã e Fundão. Comprei as minhas cerejas a um vendedor na estrada da serra e almocei em Alpedrinha. A N 18 acaba dentro de Castelo Branco, numas rotundas sem indicações, talvez com o objectivo de nos empurrarem para a A-23... Eu que conheço o país e as estradas de fio a pavio, fiquei ali um pouco confundido, até que, depois de chamar uns nomes bem feios aos responsáveis da EP, consegui encontrar a N 3 e por ali me enfiei. Passei Sarnadas de Ródão e só me lembrei da marotice da EP de eliminar uns quilómetros desta estrada, quando pouco depois de Alvaiade a estrada acaba numa rotunda com apenas duas hipóteses: a entrada no IC-8 para Pombal e a... A-23! O antigo troço entre Gardete e Alvaiade simplesmente não existe, ou seja, a A-23 neste percurso de quase 20 Km não tem alternativa. Numa determinação sem apelo enfiei-me pelo IC-8. SCUTS portajadas é que não! E lá fui, Proença, Sertã, Pedrógão, Pombal, Leiria, Peniche. E assim terminou uma semana intensa, com tempo excelente para passear e para fomentar a economia portuguesa...
Provando as belas cerejas do Fundão


Colheita transmontana do belo fluido mediterrânico

sexta-feira, 8 de junho de 2012

ATÉ AO REINO MARAVILHOSO - 5

    Sexta-feira era dia de começar a rumar a Sul. Optei por dividir a jornada em duas partes e assim escolhi um dos meus parques de referência para destino deste dia: o parque de Meda. Saí de Vimioso pelas 9 horas, pela N 218 até Carção. Antes desta povoação a estrada cruza o rio Sabor, num ponto onde coexistem três gerações de pontes: uma românica, outra recente mas rudimentar e a nova sobre um enorme viaduto. Encostei e saí para explorar as pontes lá em baixo.

Ponte românica sobre o Rio Sabor

O dia estava quente, de novo, tornando penosa qualquer caminhada mesmo curta, como esta. Desci, atravessei a ponte românica, fui até à outra e regressei à estrada.

Ponte mais recente - Rio Sabor











O destino imediato era Izeda, povoação onde existe um estabelecimento prisional. Não era este que eu procurava... Pretendia a estação de serviço para autocaravanas que ali existe, para despejar águas sujas já que o parque de onde vinha não dispunha desse equipamento. Está bem sinalizado, encontrei-o com facilidade e enquanto procedia ao despejo, apareceu um velhote a meter conversa, que se prolongou durante toda a operação. Lá prossegui, até à saída onde parei na cooperativa de olivicultores para comprar azeite deste local, que tem fama de possuir um sabor muito especial, o que espero comprovar em breve.

Viaduto sobre o Rio Sabor

Percorri a N 217, sem nenhum trânsito. A seguir a Lagoa, a estrada acompanha o rio Sabor durante uns 4 Km, até entroncar na N 216 e depois pela N 215 até Alfândega da Fé. Esta é uma vila muito simpática, onde costumo vir no Carnaval, para ver as amendoeiras em flor. Na época em que estamos, costuma haver cerejas boas. No entanto, a vila está virada do avesso, com as ruas todas esventradas, montes de terra e pedras por todo o lado, desvios, uma poeira infernal que me impele dali para fora o mais rapidamente possível, o que não é muito fácil nestas circunstâncias. Procuro a estrada a que estou habituado, que atravessa os campos de amendoeiras até lá abaixo ao vale da Vilariça, mas já não existe. Sou obrigado a entrar no IC-5, que ocupou o anterior traçado e que causa confusão lá em baixo, quando este termina numa rotunda com as inevitáveis indicações de "trânsito local", que tantas vezes é por onde eu quero ir... Dou duas voltas à rotunda, até que opto pela saída que me parece a correcta. Acertei, pois logo reconheço a velhinha estrada que atravessa o vale da Vilariça, que também não tardará a desaparecer sob as águas da barragem do Sabor, apesar de ser o vale mais fértil de toda a província de Trás-os-Montes. Mas isso interessa a quem? Atravessei a bela ponte sobre o rio Sabor, talvez também pela última vez antes de ficar submersa, junto da qual acampei em bivaque com um amigo há 35 anos, quando não havia parques de campismo por estes lados... A barragem já está bem avançada, em breve o último rio selvagem de Portugal, também deixará de o ser! Fui propositadamente a Foz do Sabor, povoação muito bonita pela envolvente proporcionada pelo Sabor a abraçar o Douro, num ambiente sereno, de grande beleza. Existe ali um parque de merendas muito agradável, um cais e uma praia fluvial. Tirei várias fotos, pois as próximas já serão certamente diferentes, com muito menos água no rio, terrenos menos verdes, mais secos... 

Rio Sabor junto à foz. Ao fundo, o Douro


Prossegui, a caminho do Pocinho, sem parar, e comecei a subir a estrada velha até Foz Côa, para ir ao Intermarché, abastecer-me a mim e ao depósito de gasóleo.

Do Pocinho até Celorico da Beira já está concluído o IP-2, mas quando tenho tempo, opto sempre pelas estradas antigas.






Foz do Sabor - praia fluvial
         Feito o abastecimento, entrei na velha N 102, até Longroiva e Meda, onde cheguei pelas 17,30H. Recebido com toda a simpatia, como é habitual neste parque, houve ainda tempo para dois dedos de conversa e em seguida fui aproveitar o cálido fim de tarde, numa "longue-chaise", cerveja fresca para refrescar a garganta que ainda trazia resquícios de Alfândega da Fé...

terça-feira, 5 de junho de 2012

ATÉ AO REINO MARAVILHOSO - 4

Ponte sobre o rio Maçãs perto de Vimioso
   Quinta feira amanheceu luminosa. Às 7 horas já andava por fora a absorver a frescura matinal e a ouvir o coro da passarada. O guarda do parque, apesar de ter o horário de entrada às 9 horas, chegou mais cedo, o que me permitiu partir também antes das 9. O objectivo para este dia era visitar Puebla de Sanábria e o Lago. Saí pela N 218, minha velha conhecida, que me faz sempre lembrar uma viagem nocturna, num Agosto de há uns 25 anos, a caminho de Miranda do Douro debaixo de chuva e trovoada, em duas motos, por nos ter faltado a gasolina no Parque de Montezinho. Parei na ponte sobre o rio Maçãs para recordar esse episódio já tão distante. A partir de Rio Frio, entra-se no IP-4, que está transformado num estaleiro de obras, para construção da auto-estrada que já tem ali um troço em utilização, gratuito até ao nó de Bragança-Centro, onde saí. Não queria visitar a cidade, que conheço bem, mas apenas ir ao hipermercado abastecer-me. A manobra custou-me uma hora perdida. Voltei a apanhar a A-4 para sair para o Parque Natural de Montezinho. Adoro percorrer estas estradas na Primavera, quando os campos se enchem de flores de todas as tonalidades, o ar está repleto de cheiros e a temperatura amena nos acaricia a pele. Até França, a estrada é sempre acompanhada pelo rio Sabor, que irriga vales férteis e bosques frondosos. A partir daqui começa-se a subir e a paisagem torna-se mais árida, nas imediações da Serra de Montezinho.

Rio Sabor - Rabal

Passo Portelo, última povoação portuguesa e cruzo logo de seguida a fronteira, apenas perceptível pelos inevitáveis edifícios esventrados, antigos postos alfandegários, de um lado e do outro vítimas da mesma sanha vandálica. A estrada até Puebla é de montanha, atravessando a Sierra de la Gamoneda, por um entrançado de curvas que parecem não ter fim, apenas interrompidas por duas ou três pequenas povoações com casas em ruínas e habitadas por alguns velhinhos. Pouco depois entro em Puebla de Sanábria, debaixo de calor. Antes de estacionar para dar uma volta dentro da bonita cidadezinha fui ainda à estação de caminho de ferro, que tem um edifício lindo e inconfundível.


Estação de Puebla de Sanábria
Por aqui também já só passam comboios especiais e creio que a linha será entretanto desactivada, pois está em construção uma de alta velocidade, da Galiza a Madrid, que ficará quase paralela a esta. Percorri a zona histórica, muito bonita, com ruas cheias de edifícios cuidados, todos em pedra e telhados em ardósia, muitas floreiras lindas que transformam a cidade num jardim com casas! Ao cimo a plaza mayor com a igreja, fechada, e o castelo. Lá em baixo corre o rio Tera que tempera com um pouco de bucolismo o ar austero e severo de todo o conjunto histórico.
Eram horas de almoço, o calor apertava e era preciso prosseguir para o Lago de Sanábria. Este fica a cerca de 15 Km a norte. Pouco depois de se sair da cidade começam a ver-se extensos soutos e carvalhais. Há um posto de abastecimento de combustíveis da Galp, onde costumo parar. Enchi o depósito com gasóleo a 1,35 €. A diferença para os nossos preços já foi maior... E lá cheguei ao lago. A praia que daqui a um mês estará cheia, encontrava-se deserta. Só duas autocaravanas estacionadas, onde os donos almoçavam, o que me convidou a fazer o mesmo.
Plaza Mayor de Puebla de Sanábria


















Rua de Puebla
Estava a gozar aquele silêncio à beira da água, quando chegou um autocarro carregado de crianças de uma escola. Mais de 50 gargantas em algazarra foram o sinal de partida para mim. Percorri a restante estrada à beira do lago, num percurso de grande beleza, até onde esta termina, na aldeia de Ribadelago (vieja), aldeia reconstruída depois da anterior ter sido engolida pelas águas de uma barragem cujo dique rebentou sob a pressão das águas há 53 anos.
Retrocedi devagar e virei para o lado da aldeia de San Martin de Castaneda. A estrada de cerca de 5Km, muito estreita e sempre a subir, vale a pena. O lago, muito azul, lá em baixo, é presença constante e só por isso é compensador. Quando se chega lá acima, bem depois de atravessar a aldeia, o espectáculo é arrebatador. É imperdoável não ficar ali parado uns minutos, a olhar, a sentir o silêncio, a contemplar todo aquele espectáculo verde com o centro ocupado a azul, pelo maior lago de origem glaciar da península ibérica.
Ribadelago (vieja)


Lago de Sanábria
Lago de Sanábria ( de San Martin de Castaneda)

        Eram horas de iniciar o regresso. Para não voltar pelo mesmo caminho, optei por entrar na A-52 em Puebla até à saída 49, por Villardeciervos, Mahide e Alcanices. Não parei nesta cidade, famosa pelo tratado aqui assinado entre Portugal e Leão e Castela em 1297, porque tinha que estar no parque de Vimioso até às 17,30 H. Como fica a pouco mais de 20 Km de Vimioso, não perde pela demora... Cheguei mesmo a tempo de entrar, instalar-me de novo, e aproveitar o resto da tarde, tomando posse de todo o espaço com os direitos da qualidade de único ocupante...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

ATÉ AO REINO MARAVILHOSO - 3

Castelo de Algoso
     Este terceiro dia estava reservado ao património. Queria observar os três castelos daquela zona restrita, entre Mogadouro e Vimioso. Castelos de Mogadouro, Penas Róias e Algoso. Despedi-me do parque de campismo de Mogadouro e parti rumo a Norte, pela N 219. Logo após 5 Km, surge a aldeia de Azinhoso, que possui uma igreja de estilo românico, do séc. XIII. Eu já desisti de tentar visitar estas igrejas que existem um pouco por todo o lado, algumas, autênticos tesouros desconhecidos de quase todos. Estão permanentemente fechadas, devido ao clima de insegurança e medo que se sente nestas aldeias despovoadas. Mesmo que se procure a responsável pela guarda das chaves, que nem sempre se consegue encontrar, em alguns casos só as faculta com autorização do presidente da junta de freguesia. Assim, segui para Penas Róias que se segue imediatamente. Mais uma aldeia com meia dúzia de habitantes de idade avançada, que desaparecem quando me avistam. Esta povoação tem um parque de merendas muito agradável antes da subida que lhe dá acesso, junto à barragem de Penas Róias. Subi ao castelo, reduzido a uma torre em ruínas. Procurei a Fraga da Letra, pintura rupestre que sabia existir junto às muralhas, mas em vão. Sem ninguém a quem recorrer para indicações precisas, desci e parti para o objectivo seguinte: Algoso. A alguns quilómetros ainda, já se avista o castelo, edificado no cimo de um rochedo que, desta vertente sul cai abruptamente a pique sobre um desfiladeiro onde corre lá muito no fundo, a ribeira de Angueira. Atravessei toda a povoação, passando pelo pelourinho e no fim de uma comprida subida de acesso com várias estações de uma via sacra, surge uma pequena capela e o castelo. O tempo estava óptimo, mas a temperatura subia rapidamente. Trepei ao castelo, que é pequeno em tamanho mas grande em história.
Castelo de Mogadouro
Ali fiquei por largo tempo, absorvendo o profundo silêncio e a sensação de absoluta solidão. Ao longe e bem no fundo do precipício, avistava-se uma ponte românica, que sabia ali existir e que exerceu em mim uma profunda atracção. Se não fosse agora, provavelmente nunca mais lá voltaria. O sol picava na pele, o calor já era intenso. Não vislumbrava nenhum caminho a partir do castelo, apenas um trilho lá bem abaixo. Desci até à capela, que contornei. Nas traseiras, havia um caminho com uma inclinação que mais parecia uma parede de escalada, com o piso de areão, aberto por sulcos profundos cavados pelas águas da chuva. Aparentemente, ao que podia ver, ia desembocar no outro caminho lá muito em baixo. Com a mochila ao ombro, a máquina fotográfica, e o bastão a auxiliar-me para não escorregar, decidi-me a aventurar-me na perigosa descida. Ao fim de poucos minutos, olhando para trás, já o castelo ficava bem longe, muito no alto. Tentei não pensar que teria que subir tudo aquilo na volta...
Castelo de Penas Róias


 Os caminhos parecem sempre menos longos do que são efectivamente. Este nunca mais tinha fim. A única presença eram muitos lagartos, que me olhavam espantados e desapareciam rapidamente. Depois de muitas voltas e curvas, finalmente cheguei à ponte e ao rio. A técnica e a arquitectura são perfeitas para a época. Só se ouvem rãs e gritos das aves de rapina que me espreitam lá do alto. O isolamento é total. Por momentos pensei nas consequências de um simples entorse, por ali. Ninguém sabia onde estava e o telemóvel, claro que não tinha rede... Não sei de quantos em quantos dias passaria ali alguém...

Afastando estes pouco tranquilizadores pensamentos, tirei as fotografias, descansei um pouco e comecei a penosa subida. O caminho aberto possivelmente para tractores, faz-se razoavelmente bem. Mas o outro com o enorme declive... A água desaparecia perigosamente na garrafa, o suor corria em fio pelo queixo, os pulmões sorviam o ar quente e queixavam-se ruidosamente e eu agarrava-me ao bastão, que foi preciosíssimo auxiliar para não escorregar por ali abaixo.

Ponte vista do castelo de Algoso


Ao fim do que me pareceu uma eternidade, cheguei ao cimo, sem fôlego, sedento e com as pernas bambas. Apesar de não ter fome, era preciso retemperar forças. Dentro da autocaravana o ambiente era de fornalha. Fiz um petisco à sombra da capela e ali mesmo comi. Nestas situações é maravilhoso dispôr de frigorífico!
Após um merecido e necessário descanso, voltei a atravessar Algoso e rumei a Vimioso, onde cheguei pouco depois. A vila é pequena mas acolhedora. Dei um pequeno passeio a pé, mas o calor e o cansaço não convidavam a grandes caminhadas. Por isso, dirigi-me ao parque de campismo que fica um pouco fora da vila a cerca de 1 Km. Já o conhecia de anos anteriores. É agradável, com bastantes pinheiros de grande porte, boas instalações e bem cuidadas, mas completamente vazio. Chegada a noite, com os portões fechados, apenas duas lanternas acesas e os ralos a cantar, o ambiente perfeito para me entregar placidamente nos braços de Morfeu...

A ponte vista do meio do percurso
Ponte romana-Ribeira de Angueira