quinta-feira, 20 de março de 2014

AMENDOEIRAS 2014

    Neste ano, esteve em dúvida a visita habitual às amendoeiras em flor, rotina sem quebras de há muitos anos, no meu roteiro pessoal. Mas consegui que o fim de semana de 8 e 9 de Março fosse dedicado a esse fim e em boa hora o fiz, pois a floração estava no seu auge, na maior parte dos locais eleitos.
    Saímos de Peniche com um sol radioso e uma óptima temperatura, por Leiria, Coimbra, IP-3 com a primeira paragem na pequena área de descanso junto ao nó de Penacova. Prosseguimos pelo IC-6, e N 17, com paragem para almoço, no habitual restaurante de S. Paio, junto a Gouveia. Continuação por Celorico, IP-2 até Foz Côa e depois pela N 222 que segue para Figueira de Castelo Rodrigo. Em Foz Côa, fizemos um desvio até ao museu, para nos regalarmos com as vistas sobre o Côa e o Douro.
Ponte ferroviária no troço desactivado da linha do Douro. Foz do rio Côa.
Prosseguimos, com paragem junto à foz do rio Côa, onde este, por baixo da ponte ferroviária, encontra o Douro. A partir daqui, começa o espectáculo das amendoeiras em flor. É este um dos pontos fortes, junto a Castelo Melhor e até Almendra. Sucedem-se os campos pintados de branco e rosa, conforme se trate ou não de amêndoa amarga.


À entrada de Almendra, como que a fazer jus ao nome, o espectáculo é inolvidável. Sucedem-se os pomares de amendoeiras carregadas de flores.









Decidimos fazer um desvio pela estrada municipal sem saída que nos leva até à desactivada e abandonada estação de Almendra, para usufruirmos do silêncio e da paisagem intocada desta zona do país que poucos conhecem. Aqui se situa a Quinta da Leda, onde agora se produz o mítico Barca Velha. Chegamos à arruinada estação, símbolo de uma larga parcela do território nacional, esquecida, ignorada e abandonada pelos poderes instituídos, que diariamente se proclamam defensores do equilíbrio entre litoral e interior e enchem os discursos políticos com o ordenamento do território.

 Ali ficámos por momentos a absorver aquele silêncio incomparável, a pisar as travessas apodrecidas que ainda suportam enferrujados carris por onde outrora circulavam comboios a vapor que transportavam pessoas e mercadorias a caminho de Barca D'Alva e Espanha, ou, ao contrário, a caminho do Porto. A via férrea existente, com o trajecto mais curto para alcançar Espanha, está assim abandonada nestes troços finais e pouco melhor nos restantes onde ainda se arrastam as automotoras compradas no ferro-velho espanhol, carregadas de graffiti que nem os vidros das janelas respeitam. Depois deste momento nostálgico, regressámos à N 222, para, já com o dia a finar-se, seguirmos rumo a Figueira de Castelo Rodrigo, onde chegámos pouco depois. Havia aqui uma concentração motard, que emprestava um movimento desusado a esta pacata vila. Depois de um telefonema a avisar da chegada um pouco tardia a Freixo de Espada à Cinta, começámos a descida para o Douro, já sem vermos outro dos locais de eleição das amendoeiras: as encostas que descem de Escalhão para Barca D'Alva, com o Águeda e o Douro a espreitarem ao fundo. Já era noite fechada quando chegámos a Barca D'Alva. Havia barracas de feirantes espalhadas por todas as ruas e no recinto do pequeno cais. Estacionámos com alguma dificuldade e fomos regalar a vista com o belo espectáculo proporcionado pela ponte que a iluminação transformou numa verdadeira obra de arte.


Depois de nos deliciarmos com a visão oferecida e de absorvermos o ar tépido da cálida noite, rumámos a Freixo de Espada à Cinta, contornando o rio Douro escondido no negrume da noite, mas ali bem ao nosso lado até à passagem pela barragem espanhola de Saucelhe, local onde a estrada começa a subir até à vila de Freixo, onde chegamos pelas 19,30. Procurámos o Cantinho do Pepino, turismo de habitação eleito para a pernoita, situado numa rua estreita do centro histórico, perto da matriz e da torre heptagonal, única no país.
     O jantar, como não podia deixar de ser, quando estamos em Freixo, foi no restaurante "A Cabana", onde é servida uma das melhores postas mirandesas de Trás-os-Montes. É sempre uma experiência gastronómica inolvidável. O dia seguinte, depois de tomado um lauto pequeno almoço, começou na praia da Congida, visita obrigatória quando visitamos Freixo.
Praia da Congida
     Subimos a seguir ao Penedo Durão, desta vez sem nevoeiros a impedir-nos de alcançar o fabuloso panorama que dali se avista. Lá bem em baixo, a barragem de Saucelhe.

Barragem de Saucelhe vista do Penedo Durão


Compradas umas deliciosas e gordas azeitonas e amêndoas descascadas a um idoso que ali estabelecera venda ambulante, lá fomos por estradinhas estreitas (N 325), que por Ligares e Peredo dos Castelhanos, ao fim de centenas de curvas desemboca na barragem do Pocinho, que atravessamos, a caminho de Stº Amaro e Mós. Aqui, as amendoeiras já quase não tinham flores, pois nestas encostas florescem mais cedo. Pouco depois, estávamos na estação de Freixo de Numão, para o repasto habitual no "Bago de Ouro". Bem comidos e bebidos, fomos ver passar o comboio por baixo de nós, num poiso perto da foz da Ribeira de Murça, onde habitualmente me refugio quando quero solidão.


Com o farto almoço a pesar-nos no estômago saciado, prosseguimos a caminho de outro dos troços majestosos do alto Douro: o miradouro de Vargelas e a Ferradosa.







Quinta de Vargelas
       Com a tarde a cair rapidamente, começámos a subir as encostas íngremes que nos levam da Ferradosa a S. Salvador do Mundo, com várias paragens para apreciarmos o espectacular panorama deste trecho do rio acompanhado por um dos mais belos troços da linha ferroviária do Douro.
Ferradosa





A viagem continuou por S. João da Pesqueira, Pinhão, pela bela estrada até à Régua e a partir daqui, já de noite, iniciámos o caminho de regresso, pela A-24, IP-3 até Coimbra, Leiria, Peniche.




Paisagem dramática, que Torga descreveu como ninguém, já perto do túnel da Valeira.
 Mais um excelente fim de semana, cumprindo um gostoso hábito pessoal: o de revisitar anualmente o espectáculo das amendoeiras em flor. Bom tempo, boa companhia, boa comida, boa bebida, boa viagem. Que mais desejar?

Sem comentários:

Enviar um comentário