O dia seguinte, 30/7, estava destinado aos castelos do Loire. Para isso tínhamos escolhido Chinon como base de apoio. Recordo que já estávamos no caminho de regresso e esta paragem de um dia, destinava-se apenas a não fazer tantos quilómetros seguidos, mas aproveitando a passagem por esta zona tão rica patrimonialmente. A dificuldade era escolher quais os castelos a visitar, já que eram tantos, concentrados numa região de poucos quilómetros. Um dia não chegava para ver mais que quatro. Além disso, as visitas são caras, demoradas e cansativas. Decidimo-nos pois pelo castelo de Saché, Azay-le-Rideau, Ussé e Chinon. Olhando para o mapa da zona, à volta de Chinon, é um quebra-cabeças escolher os castelos, tal a sua quantidade e a imponência e beleza de quase todos.
Saímos pela estrada D 8, que bordeja o rio Vienne pela sua margem direita, inflectindo depois para norte em St Gilles, para a D 757. À entrada de Azay-le-Rideau, uma placa indicava-nos um desvio para Saché. Estradinha estreita, rural, que foi dar à pequena povoação e ao castelo. Parámos, mas este estava ainda fechado e faltava uma hora para abrir. Não podíamos estar tanto tempo à espera.
Foi pena, já que este castelo tem como atractivo extra, um museu de Balzac, pois o escritor passava aqui largas temporadas para se inspirar, tendo sido dentro destas paredes que produziu algumas das suas obras. Seguimos portanto para Azay-le-Rideau, ali mesmo ao lado e sede de um dos castelos mais famosos.
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Castelo de Azay-le-Rideau |
O castelo é de facto imponente. A entrada custa 8,50€, mas vale a pena. A visita é demorada, pois o palácio é enorme, com imensas salas ricamente mobiladas e se quisermos dar alguma atenção a cada uma, o tempo passa sem darmos por isso. É que até os sótãos são muito interessantes!
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Sótão do castelo de Azay-le-Rideau |
Era aqui que se situavam os quartos da criadagem. O primeiro andar está mobilado em estilo Renascença, com muitos salões riquíssimos e o rés-do-chão tem mobiliário do séc.XIX, pois foi neste século que o palácio foi restaurado.
Por fim, passámos aos jardins, outra maravilha!
A combinação do frondoso arvoredo que envolve o castelo, e das águas que o rodeiam cria um efeito maravilhoso. E já tinha passado metade da manhã!
O vale do Loire foi escolhido pelos reis de França desde sensivelmente 1500, para se instalarem em busca de coutadas de caça, que era aqui abundante devido à existência de bosques e grandes florestas. Assim, quer estes, quer as mais altas figuras da corte, construiram belos castelos e palácios em toda a zona, que também é possuidora de um clima ameno.
Atravessando o rio Indre, dirigimo-nos ao castelo de Ussé, pela D 17. Este é um dos mais belos castelos do Loire e também um dos mais visitados, apesar do preço do bilhete de entrada de 14€.
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Chateau de Ussé |
Este castelo, com as suas altas chaminés e torreões, inspirou Perrault a escrever a Bela Adormecida, que é um tema constante em todo o castelo. Toda a parte superior, a que chamam a "ronda do castelo" e os sótãos, tem as salas ocupadas com cenas e recriações da história da Bela Adormecida. E as salas dos andares abaixo, têm também figuras representando cenas do quotidiano familiar.
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Tema alusivo à Bela Adormecida |
Os sótãos deste castelo são bem mais interessantes que os do anterior. Este está repleto de tudo aquilo que imaginamos num sótão de um castelo de gente abastada. Toda a sorte de velharias requintadas ali se encontra, devidamente cobertas por convincentes camadas de pó.
Cá fora e separada do castelo, existe uma enorme e belíssima capela.
Nas traseiras há ainda as cocheiras e cavalariças.
E, numa das mais famosas regiões vitivinícolas de França, não podiam faltar as adegas numa casa desta importância. Foram escavadas em grutas na rocha, ao lado do castelo.
Depois de um último olhar ao conjunto espectacular do castelo e seus magníficos jardins, partimos para outro. Mais uma vez o tempo correra apressado. Aqui, até as estreitas estradas são belas. Tudo transpira beleza e requinte, as casas, os jardins, os bosques em volta, recantos bem arranjados, um pouco por todo o lado. Eram já horas de almoço e por isso encostámos numa área de piqueniques. O tempo passara mais rapidamente que o previsto. Tínhamos planeado ir ver a
Abbaye Royale de Fontevraud, uma das maiores abadias medievais da Europa. Mas dado o adiantado da hora e ainda ser um pouco afastada para oeste, decidimos prescindir desta visita, não fosse chegarmos fora de horas para a visita ao castelo de Chinon, esse sim, que não queríamos perder. E foi o que fizemos. Regressámos a Chinon, passando ao lado de uma enorme central nuclear, refrigerada pelas águas do Loire, colocámos a autocaravana no parque e dirigimo-nos a pé até ao centro da cidade.
Chinon é uma cidade rica em história, tendo sido esse um dos motivos que nos levou a querer pernoitar aqui. Aqui nasceu Rabelais, grande escritor renascentista. Numa casa das suas pitorescas ruas, na parte antiga da cidade, foi morto o rei de Inglaterra Ricardo Coração de Leão. E foi no castelo de Chinon que ocorreu o encontro entre Joana D'Arc e o delfim de França, em que, segundo a lenda, ela o reconheceu, apesar de disfarçado e de nunca o ter visto antes. Foi então coroado rei, com o nome de Carlos VII. Joana D'Arc convenceu-o a entregar-lhe um exército, com que libertou a cidade de Órleães, mudando o rumo da guerra dos Cem Anos a favor de França.
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Salão do castelo de Chinon onde terá ocorrido o encontro de Joana D'Arc com Carlos VII |
Existe um elevador gratuito que transporta as pessoas da parte baixa da cidade para a parte alta, onde se situa o castelo. Utilizámo-lo e chegámos rapidamente à entrada do castelo. O ingresso custa 7,50€. O castelo é composto por várias partes, pois dentro do seu enorme perímetro existem variadas torres, todas com muito interesse, algumas com longas escadarias que levam a masmorras subterrâneas, bem como outras que sobem até às ameias. Visita cansativa, especialmente depois de um dia inteiro a subir e a descer enormes e íngremes lances de escadas nos outros castelos.
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Ala do castelo onde se situavam os aposentos senhoriais |
Começámos pela torre mais alta, no cimo da qual se alcança uma soberba vista sobre Chinon e arredores.
Em cada andar existem aposentos mobilados de forma espartana.
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Vista de Chinon, a partir do castelo |
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Tapeçaria alusiva ao encontro entre Joana D'Arc e Carlos VII |
Para quem gosta de história, é emocionante pisar aquelas salas e passar a mão naquelas pedras que assistiram a episódios que marcaram o curso de acontecimentos tão determinantes para o futuro das nações.
Acabada a visita, descemos no elevador até ao centro da cidade e, cansados, sentámo-nos numa das muitas esplanadas a saborear um belo gelado.
De volta ao parque, cansados mas satisfeitos por um dia cheio, jantámos e fomos actualizar as notícias portuguesas, sobre incêndios, cortes e acusações. Depois, o inevitável facebook... antes de nos entregarmos nos braços de Morfeu...
Visita aos 3 castelos 60 € Parque de Chinon (2 noites) 29 €