quinta-feira, 25 de outubro de 2012

MÉRIDA - ROMA AQUI TÃO PERTO

    Mérida é daqueles sítios que atiramos sempre para depois. Fica perto, de passagem, à beira da auto-estrada A-5 que nos leva para o interior de Espanha e dizemos: "qualquer dia temos que aqui vir com tempo"... Pelo menos comigo foi assim durante anos. Até que desta vez foi eleita para o fim de semana do 5 de Outubro.


      O tempo era o ideal para passear: céu limpo, temperatura amena, sem vento. Partimos cedo, por Abrantes, Alpalhão, Portalegre (almoço), Campo Maior, Elvas, Caia, sempre por estradas nacionais. Depois, contornámos Badajoz sem parar, pela A-5 e a meio da tarde chegávamos a Mérida. Em consulta ao "Google maps", tinha visto que, tendo como destino o camping de Mérida, a melhor saída seria a Nº 342, a partir da qual o acesso ao parque, localizado mesmo no centro da cidade, seria relativamente fácil. Assim fiz. Percorri o trajecto previamente gravado na cabeça, mas no local onde deveria estar o camping, havia apenas o hospital e um recinto desportivo, além de ruas movimentadas e gente, muita gente. Perguntei onde ficava o camping, mas ninguém sabia. Introduzi as coordenadas no GPS e parti, de novo. Levou-me precisamente ao mesmo local, junto do hospital! Outro espanhol mais idoso, indicou-me o único camping, a 3 quilómetros, atravessando toda a cidade, a caminho de Madrid. Lá fomos e a partir do centro começaram a aparecer placas indicativas. Efectivamente, 3 quilómetros depois ali estava ele. Questionada a menina da recepção, informou-nos que no google, o camping é o...Hospital! O parque pouco mais é que um recinto separado de uma quinta agrícola por uma rede de arame, por onde espreitam um burro, um rebanho de ovelhas e muitas galinhas. Apesar disso, já conhecemos pior em Espanha e a casa de banho era limpa e agradável, mas pagámos 17,94€ por noite!

Camping em Mérida

Os planos passavam por deixar a autocaravana no parque, mas o Google trocou-nos as voltas. No dia seguinte, sábado, partimos para a cidade. Tinham-nos dito que junto à praça de touros havia sempre estacionamento e com segurança. Embrenhámo-nos pelo centro da cidade, que não é muito grande, e encontrámos facilmente onde estacionar, em pleno centro, sem quaisquer restrições nem pagamentos. Começámos por nos dirigir ao posto de turismo, onde nos ofereceram vários panfletos e em português! De facto, ouvia-se muito a nossa língua pelas ruas, nos restaurantes, esplanadas, monumentos e viam-se muitas  matrículas portuguesas. Estaríamos todos a celebrar o 5 de Outubro ou a aproveitar as últimas surtidas antes do torniquete fiscal?
Plaza de Espanha





Percorremos ruas estreitas, cheias de gente, com o recheio das inúmeras lojas exposto no exterior, até que desembocámos na Plaza de Espanha, cheia de monumentos interessantes. Mais abaixo, uma das principais atracções: a ponte romana, uma das mais belas existentes na península ibérica.


Ponte romana sobre o Guadiana


O local é de uma extraordinária beleza. Não só a ponte, uma obra grandiosa para a época, mas toda o ambiente envolvente, com o rio Guadiana a ser aproveitado por inúmeros praticantes de canoagem, uma enorme zona verde e não muito longe, a moderna ponte de Lusitânia.






Ponte Lusitânia












Ponte romana com o Alcazaba Árabe




Como havia tanto para visitar, optámos por começar pelo mais importante, uma vez que o tempo não iria chegar para ver tudo. E em primeiro lugar queríamos ver o imponente teatro romano, verdadeiro ex-libris de Mérida!







Templo de Diana




De passagem, observámos o templo de Diana, com muitas semelhanças com o nosso de Évora e o Arco de Trajano, bem perto dali.








Anfiteatro romano
Quem vem a Mérida, deve optar por adquirir o bilhete que dá acesso ao conjunto dos principais 8 monumentos e que custa 12€ para um adulto. Entrámos para o conjunto composto pelo anfiteatro e o teatro romanos. O anfiteatro, é bem conhecido e tem lugar central em filmes que retratam a civilização romana, pois era onde se defrontavam os gladiadores e onde tinham lugar as lutas com as feras.





Hoje, lugar de presença constante de turistas que tudo fotografam e filmam, quanto sangue aqui se derramou, quanta crueldade aplaudida entusiasticamente pela populaça aqui se perpetrou?







No teatro romano


Ali mesmo ao lado, o ponto alto de todo o conjunto monumental: o imponente teatro romano. É de facto uma construção magnífica, cuja escavação se iniciou em 1910. Depois de parcialmente reconstruído, serve de palco ao festival de teatro clássico de Mérida desde 1933.






Por trás do teatro existe ainda um lindo espaço ajardinado rodeado de pórticos com colunas.

No exterior do recinto, os angariadores de clientes para os muitos restaurantes da zona, disputavam a atenção de cada visitante que saía, distribuindo folhetos com preços e ementas. De facto, com tanta caminhada, o estômago já reclamava e o corpo pedia algumas tréguas. Sentámo-nos logo ali mesmo, numa esplanada defronte do museu nacional de arte romano que iríamos visitar após o almoço. Umas migas extremenhas com chouriço, umas costeletas acompanhadas de um vinho tinto, tudo nem muito bom nem muito mau, mas aceitável por 10€ por cabeça, serviram para nos recompor para a tarde. Entrámos no museu em frente, gratuito aos sábados de tarde.

Museu de arte romano


Logo que chegamos ao átrio principal, ficamos impressionados com a grandeza do edifício, apenas igualada com a do seu espólio. Estátuas, enormes painéis de pequenos mosaicos, uns expostos em paredes, outros ocupando por completo o chão de salas, moedas, cerâmica, objectos descobertos nas escavações, enfim, para quem gosta de história, especialmente do estudo das civilizações clássicas, tem aqui material para um dia inteiro.


Terminada a visita ao museu, voltámos à ponte romana, para visitar o Alcazaba Árabe, que lhe fica contíguo. Como já disse, trata-se de um espaço muralhado, construído para controlar o acesso pela ponte e para refúgio dos muçulmanos nos primeiros tempos da conquista árabe, face às muitas revoltas da população cristã. A vista de cima das muralhas é fabulosa.



Ponte romana e ponte Lusitânia, vistas do Alcazaba Àrabe

 Seguindo junto à margem do Guadiana, não muito longe encontra-se a zona arqueológica da Moreria, extensa área de construções romanas, sobre as quais está construído um grande prédio de escritórios, numa perfeita simbiose, em que dos escritórios se avistam por baixo as vivendas romanas...
Zona arqueológica da Moreria




Já cansados e sedentos, sentámo-nos numa esplanada do centro, onde se falava predominantemente português. Os espanhóis que enchiam as ruas de manhã, tinham desaparecido, deixando-as desertas. Reconfortado com um "balde" de cerveja gelada e umas azeitonas, partimos para a basílica de Stª Eulália.



Subsolo da Basílica de Stª Eulália
A actual basílica foi construída sobre uma antiga necrópole cristã, onde se localizava o mausoléu da mártir Eulália. A partir de 1990, iniciaram-se obras na basílica que incluiram escavações no seu subsolo. Actualmente, o piso da igreja está suspenso sobre as escavações arqueológicas, que visitámos.

   A tarde declinava e o cansaço já se fazia sentir. Fomos ainda ao circo...

    O circo romano é outro dos locais que não se podem deixar de visitar. Enorme espaço, era um dos equipamentos obrigatórios nas principais metrópoles romanas.

Circo romano




Aqui se faziam as corridas de carros puxados por 2 (bigas) ou 4 (quadrigas) cavalos.











Aqueduto de S. Lázaro



Um dia é pouco para se visitar o património de Mérida. Apesar da cidade não ser muito grande e as extensões a percorrer não serem por isso exaustivas, ao fim de algumas horas a percorrer monumentos em passo curto e a ir de um extremo ao outro da cidade mais que uma vez, torna-se muito cansativo. Por isso, no regresso do circo, passado o aqueduto de S. Lázaro, a autocaravana que por ali estava, afigurou-se-nos mais acolhedora do que nunca. E já foi nela que procurámos o outro aqueduto, o de Los Milagros

Aqueduto de Los Milagros

Este aqueduto transportava a água desde a barragem de La Proserpina até Mérida.


Era tempo de recolher ao parque. Ficaram ainda vários monumentos por ver, para uma próxima incursão. A cidade é um autêntico manancial, uma enorme fonte para o estudo da civilização romana.

No dia seguinte, voltámos à A-5, pela entrada 333, afinal ali tão perto e o melhor acesso para o parque de campismo de Mérida. Como gosto de percorrer devagar os campos, ver a agricultura nos grandes espaços, que os espanhóis praticam, atravessar as localidades, entrei na Ex 209, por Montijo até Badajoz, inflectindo aí para norte, pela Ex 100 e Ex 110, para visitar Alburquerque. Esta pequena cidade tem um castelo lindo, que já visitei há uns anos. Desta vez porém não tive sorte, pois o seu interior está encerrado por motivo da construção de uma unidade hoteleira. Foi possível no entanto andar nas suas ameias e sobre as altas muralhas de onde se tem uma excelente panorâmica das vastas planícies extremenhas.

Castelo de Alburquerque
 Continuámos por Valência de Alcântara e entrámos por Marvão. Observado o desperdício de tantas instalações e belas moradias abandonadas na fronteira, passámos Castelo de Vide, Alpalhão, Abrantes, Santarém e a meio da tarde estávamos em casa. Foi um belo fim de semana, com um tempo óptimo para passear e pleno de lições de história. Uma viagem a repetir daqui a alguns anos, se não soçobrarmos no tsunami fiscal até lá...

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 16

   31/7. Dia de regresso a Portugal. Saímos de Pereda de Ancares, rumo a Vega de Espinareda, onde parámos para compras e levantamento de dinheiro.

Trânsito interrompido, antes de Vega de Espinareda


Seguimos pela A-6 até Benavente, prosseguindo depois pela N-630 até Zamora. O tempo estava quente, embora não tanto como nos dias anteriores. A partir de Zamora restou-nos seguir as indicações de Portugal, pela N 122, desviando-nos em Ricobayo para a ZA 324 para entrarmos por Miranda do Douro, pouco depois das 3 da tarde. Paragem para respirarmos o ar português e tirarmos fotografias à pedra amarela e barragem de Miranda.




Pedra Amarela - Miranda do Douro
O destino para este dia era o parque de Mogadouro. Seguimos por Sendim e a meio da tarde chegávamos a Mogadouro. O parque de campismo é muito bom, o oposto aos parques espanhóis. Grande, muitas sombras, alvéolos relvados, muita iluminação, vários pontos de água, internet Wifi, acesso a piscina e court de ténis, área de serviço para autocaravanas e instalações sanitárias de primeira classe. Há pequenos sinais de vandalismo, em alguns puxadores das portas das casas de banho, durante os meses de encerramento do parque. Tudo isto por 10,20€... Grande país, o nosso! Pelo menos nos parques de campismo! Depois de um banho retemperador e de uma cerveja bem fresca, fomos tirar umas teimas. Há quem afirme que em Mogadouro se come a melhor posta mirandesa de Trás-os-Montes. Já tinha feito esta experiência, mas é um gosto repeti-la... E lá fomos ao restaurante " A lareira". Mas não. Para nós não é aqui! Há até várias bem melhores que esta.
      No dia seguinte, teríamos que fazer o sacrifício de almoçar outra posta mirandesa, para que não restassem dúvidas. E assim, fomos devagar até Freixo de Espada à Cinta. Como sempre, visita obrigatória à adega cooperativa, para comprar azeite. Este azeite de Montes Ermos é do melhor que temos provado. E entretanto eram horas de almoço. Dirigimo-nos ao restaurante "A cabana", para comprovar uma das melhores postas mirandesas. Não desiludiu, mais uma vez. Bem melhor que a de Mogadouro. Mais pesados, passámos Torre de Moncorvo, a caminho do Pocinho. Paragem para observar a eclusagem do navio Douro Spirit.

Douro Spirit na eclusa da barragem do Pocinho
Douro Spirit à saída da eclusa
Passámos dentro de Foz Côa e depois de breve paragem nas Termas de Longroiva para visita a amigos, demos entrada no nosso conhecido parque de Meda. Mais um belo parque de campismo, com instalações modelares, por... 9€!

      O dia seguinte foi de ligação a casa. Terminavam assim 18 dias de viagem, em que a montanha foi rainha. Percorremos os Pirenéus Franceses e os Picos da Europa. Trouxemos os olhos cheios de imagens belíssimas, de paisagens, compostas por montanhas, rios, florestas, aldeias e vilas lindas. Fizemos mais de 4100 Km. Mas vínhamos cheios de vontade de voltar à nossa comida. É sempre um prazer renovado, saborear o nosso peixe fresco, o nosso pão, as nossas frutas gostosas. E é bom voltar a casa!

domingo, 26 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 15

   30/7. Numa viagem em que a montanha foi rainha, queríamos ainda fazer uma surtida a uma cadeia montanhosa que já não víamos há anos: os Ancares. É uma reserva nacional que se situa um pouco a Norte de Ponferrada, na província de León. Assim, saímos de Riano, com nevoeiro, que o sol venceu em pouco tempo.

Vista privilegiada de dentro da autocaravana, sobre Riano
Seguimos a mesma estrada que nos tinha trazido, ou seja, a N 621, pela barragem e o belo rio Esla. Percorridos 30 Km, virámos à direita, para Sabero.

Sobre o rio Esla, em Sabero



Íamos entrar na Rota das Minas. Toda esta zona da província de León e que já vem desde as Astúrias, é uma área carbonífera, explorada desde tempos imemoriais. Já há anos que entrou em declínio, com o encerramento de minas de carvão, quer pela quebra nas cotações internacionais, quer pela opção por energias menos poluentes. Mas agora o clima é de enorme efervescência, com cartazes por todo o lado, palavras de ordem escritas em paredes, em pontes, a convocar manifestações e marchas de protesto.

Rio Esla, perto de Sabero


Continuamos até Bonar, observando montes negros, de detritos retirados das entranhas da terra e esqueletos de antigas instalações mineiras. Prosseguimos pela C-626, tendo a via férrea sempre ao nosso lado. Parámos num supermercado para fazer umas compras, antes de La Robla. Esta é uma povoação já com alguma importância. Além de ser um centro mineiro, há ali também uma central de produção de energia eléctrica. Querendo continuar pela mesma estrada C-626, não previa qualquer dificuldade em o fazer. Entrámos no centro de La Robla e sentimo-nos como dentro de certas cidades portuguesas. Onde estão as indicações? As placas que víamos só indicavam León e Oviedo. Ora isso era entrar na N 630, que não queríamos. Andámos às voltas, perguntámos, acabei por pedir ajuda ao GPS. Levou-nos para fora de La Robla por uma estradinha que foi dar mais à frente à... N 630, para Oviedo!

Vendo a Rota das Minas, perto de Sabero

Conseguimos inverter o sentido da marcha mais à frente, na esperança de a partir desta estrada nacional vermos indicações para a outra. Nada! Passámos La Robla para Sul, no sentido de León. E para voltar para trás? Não se via um caminho, uma estrada secundária, umas casas, nada! Estavamos a ver que entrávamos em León... Por fim, uma estação de serviço abandonada! Lá demos a volta para La Robla de novo. Eu já chamava todos os nomes ao pessoal da EP espanhola... Já disposto a tudo, entrei por acaso num desvio e vimos então uma placa a indicar Canales la Magdalena. Consultado o mapa verificámos que esta localidade ficava no sentido para onde queríamos ir. Fez-me lembrar as placas em Portugal que dizem "trânsito local" no lugar do nome das localidades para onde queremos ir... Continuámos então, pela barragem de Barrios de Luna, com paisagens muito bonitas, mas por estrada sinuosa e com mau piso. Junto a uma bela ponte da auto-estrada A-66, que passa por cima da estrada que percorríamos, parámos para almoçar.

Seguimos nesta estrada até Villablino, outra cidade mineira. Apanhámos então a CL 631 para Sul, via que passa por inúmeras minas com montanhas negras de detritos, até Toreno. Aqui, com mais algumas dificuldades pela inexistência de placas, mas já com a ajuda certeira do GPS, encontrámos a estradinha que pretendíamos para Vega de Espinareda. A partir daqui é sempre a subir, mas estamos bem habituados... Cerca das 16 h chegamos a Pereda de Ancares, onde fica o parque. Estava vazio! Já aqui tínhamos ficado há uns anos, com boa impressão. Mas agora as casas de banho estavam sujas, os chuveiros partidos, e com algumas obras em curso. Íamos com previsão de duas noites, para dar um passeio na serra de Ancares, mas assim desistimos. O concessionário deste parque, que é municipal, foi mineiro, mas ficou desempregado como milhares de outros. Informou-nos que tinha umas centenas de companheiros portugueses, que agora foram para o desemprego. Ainda demos um passeio de final de tarde pela estrada, que está sempre deserta. Mesmo sem condições, cobraram-nos 18 € pela estadia.

sábado, 25 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 14

       29/7. Dia de circuito nos Picos da Europa. Pequeno passeio em Riano, junto ao cais dos barcos de recreio e na rua principal, percorrida por um vento gélido.

Amanhecer em Riano

 Abastecemos a 1,40€ e partimos, rumo ao Puerto de San Glório. estrada estreita, sempre a subir, claro, já que este ponto fica a 1609 m de altitude. Muito antes de lá chegarmos já se instalara um nevoeiro cerrado que a pouco e pouco se transformou em chuvisco. Parámos uns momentos, para absorver aquele frio saudável que pica a pele, num local que poucos meses no ano se livra da neve.

Barragem de Riano - Boca de Huérgano
Mais um ponto de conquista para ciclistas, que também aqui se vêem, embora em menor quantidade do que em França.
Agora começava a descida. Grande e comprida! São quase 30 Km até Potes, sempre a descer, por estrada estreita, por vezes com grandes declives e curvas muito apertadas. Enfim, a montanha! Só perto de Potes é que o sol começou a dar mostras de querer vencer o nevoeiro. Potes é uma verdadeira jóia. Já aqui viemos inúmeras vezes mas é sempre com o mesmo prazer que a revisitamos e percorremos as suas ruelas típicas, cheias de casas de pedra, flores por todo o lado, mas sobretudo pelo conjunto harmonioso e de extremo bom gosto que toda a povoação representa.

Potes
Potes estava cheia de gente. Os parques cheios de carros, as ruas apinhadas. Estamos no Verão e é domingo. Já passa das 11 horas, há imensos casais jovens com 3 e 4 filhos pequenos, o que não vemos em Portugal. Máquinas fotográficas disparam a cada esquina, em cada ruela. Numa ponte faz-se "slide", a que assiste uma pequena multidão.

Internamo-nos no "casco histórico" da cidade, em ruas estreitas mas lindas, a fazer tempo para o almoço, que vai ser por ali. Há restaurantes e lojas de artesanato por todo o lado. Placas à porta indicam o preço do "menú" e o cardápio. Como a concorrência é feroz os preços são em conta. Quase todos oscilam entre os 9 e os 15 euros, o menú completo.





Casas em Potes


Antes que os restaurantes começassem a ficar cheios resolvemos entrar num para almoçar. E lá veio uma fabada, prato obrigatório quando estamos nas Astúrias e umas "costillas" de "cerdo" para 2º prato. A fabada estava divinal; as costillas nem tanto. Tudo regado com um tinto razoável, água e uma enorme fatia de melão. O café foi pago à parte, a 1,50€. Pagámos 10 euros por pessoa, por tudo isto.



Rua de Potes
Saboreando a fabada












Acabado o repasto era tempo de prosseguir, pois a tarde adivinhava-se longa. Todo este percurso é para ser apreciado com vagar, quer pela beleza das paisagens quer pela perigosidade das estradas, que a isso nos obriga. Pouco depois de sair de Potes entra-se num dos pontos altos do circuito: o desfiladeiro de la Hermida.
Início do desfiladeiro de la Hermida
A paisagem é fantástica. Os penhascos estão a pique sobre a estrada estreita ladeada pelo rio Deva. As curvas são apertadas e em alguns locais só cabe um carro. Subitamente, numa dessas curvas, surgiu um mercedes à velocidade que se esperaria numa via rápida. Aqui as bermas são as rochas afiadas que aguardam algum deslize... Ouve-se uma pancada surda, vidros a estilhaçar-se e o espelho retrovisor esquerdo a bater violentamente no vidro da janela. Pendurado pelas correias de borracha balançava o retrovisor extensível que uso para melhor visibilidade para trás. Ninguém parou, até porque não era possível. A chamar todos os nomes bonitos que conheço em português, ao espanhol do mercedes, encostei mais à frente a medir os estragos. Afortunadamente tinha sido mesmo apenas o retrovisor extensível. Foi aquilo a que se chama uma razia! Com menor visibilidade atingimos Panes e tomámos a AS 114 por Trescares e Arenas de Cabrales. Continuavam as paisagens de sonho, sempre por entre altas montanhas e acompanhados por rios turbulentos.

Arenas é célebre pelo seu queijo e pela sidra. É também daqui que parte a estrada para Poncebos,  onde tem início o funicular que dá acesso a Bulnes, única aldeia dos Picos sem ligação por estrada. É de não perder, apesar do bilhete custar 15 €. Pouco depois, em Poo de Cabrales há um miradouro para observar o mítico Naranjo de Bulnes, carismático pico de formato peculiar. Pouco antes de Cangas de Onis, aparece um desvio para Covadonga e os lagos. Para quem não conhece é de visita obrigatória. Nós não vamos lá, pois no Verão e a um domingo aquilo deve estar enxameado de gente... Nem em Cangas paramos! Os parques, apesar de vários e grandes, estão repletos. Damos uma volta e outra e avançamos para a N 625 para o desfiladeiro de los Beyos, que é para mim o que simboliza os Picos da Europa. Avança-se devagar, passando por pequeníssimas povoações, algumas apenas com 3 ou 4 casas, mas todas habitadas e bem cuidadas. O desfiladeiro é espectacular, com montanhas de calcário altíssimas em que nas passagens mais estreitas não se consegue ver o céu. Acompanha-nos o rio Sella, um dos preferidos para rafting e descidas em canoas.
Desfiladeiro de los Beyos

Num local paradisíaco aparece-nos o hotel Ponte Vidosa. Sòzinho, junto a uma cascata e na base de um enorme penedo.


Hotel Ponte Vidosa
As montanhas ao nosso lado aproximam-se deixando apenas espaço para a estreita estrada e o rio. A cada curva temos que ir para o meio para a parte de cima da autocaravana não bater na rocha que se inclina sobre nós.







Que remédio!
Desfiladeiro de los Beyos
Estrada cortada na rocha, mirador de Oseja
Entretanto começamos de novo a subir. E fazemo-lo durante quilómetros, sinuosamente, com muita lentidão, curva a curva, mas sempre envoltos em cenários soberbos, até Puerto del Ponton. A partir daqui a paisagem muda um pouco, vamos descendo e encontrando zonas de pastagem, muito gado à solta até que por fim avistamos as águas azul turquesa da barragem de Riano. O dia declina, pois esta volta é muito demorada e quem não a conhece e olha apenas para os quilómetros no mapa corre o risco de ser apanhado pela noite, nada agradável nestas estradas.
Riano à vista...
Acolhemo-nos no parque e antes da noite ainda tiramos mais umas fotografias à linda paisagem que temos aos nossos pés, bem agasalhados pois o frio aperta.
Anoitecer em Riano

Percorremos 212 Km.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PIRENÉUS FRANCESES - 13

     28/7. A noite foi de chuva, em Busto de Bureba. E o tempo estava farrusco, ao amanhecer. Lá conseguimos tomar banho, fazer a nossa higiene e pouco depois arrancávamos, não sem antes vermos começar a sair do "harém" uma série de pessoas desgrenhadas...
     Prosseguimos pela estrada do dia anterior, a N 232, até Cornudilla e depois pela BU-502. Há uma localidade com um estilo medieval, pela cor e aspecto das casas, Poza de la Sal, muito interessante. Devia ser um importante centro de produção de sal, quando este produto era crucial para a vida das populações e pela dificuldade dos transportes para tão grandes distâncias. Ainda se vêem as salinas abandonadas. Após uma íngreme subida, que tem um castelo num morro, atinge-se um planalto, com um grande centro de produção de energia eólica. Prosseguimos por Masa e depois pela BU 601 até Villadiego. Aqui parámos e fomos dar uma volta pela cidade e fazer umas compras. Toda esta zona atravessa intermináveis planícies, cobertas de cereais e de enormes extensões de girassóis.


   
Entrámos na via rápida A 231, na entrada 108 de Osorno la Mayor, para sair na saída 85, prosseguindo pela CL 615, por Saldana, até Guardo. O tempo entretanto piorara de novo, com umas nuvens escuras ameaçando chuva. Já em Guardo, quando estávamos a almoçar, começou a chover. Esta cidade tem um jardim muito bonito, atravessado por um rio. Depois de uma visita à estação de caminho de ferro, continuámos pela CL 626, até Cistierna, para rumarmos a Norte pela N 621, que nos levaria ao destino deste dia. Riano. Esta estrada, que desde Cistierna é  acompanhada pelo rio Esla, rio de montanha, muito caudaloso, cheio de rápidos, é muito bonita. Começam a ver-se os contrafortes dos Picos da Europa, temos de novo o domínio dos verdes, dos rios e das montanhas. Tudo isto culmina na barragem de Riano, lago enorme sob o qual repousa a original aldeia de Riano. O paredão, sobre cuja coroa passa a estrada, é atingido por dois túneis, mas não há local para parar, com bastante pena nossa, pois a paisagem é soberba. Depois de muitas curvas, sempre com o Esla por vizinho, chegamos ao viaduto que atravessa o lago, dando acesso a Riano, a cidade que foi criada aquando da construção da barragem. Atravessamo-lo e subimos ao parque de campismo já nosso conhecido e que tem uma das mais belas vistas que conhecemos a partir de campings.

Riano
Aqui está sempre frio, mesmo no Verão. O parque fica num local alto. É agradável, com relva, boas casas de banho, um restaurante, vários bungalows. Mas a sua grande mais valia é de facto a paisagem que dali se avista. Já andávamos aflitos há dias à procura de áreas de serviço para autocaravanas, pois quer em França quer em Espanha ainda encontramos poucos parques com esse serviço. Também nas estradas não se vêem... Apesar de sabermos que existem bastantes espalhados pelo território. Em Portugal, apesar de haver muitíssimo menos autocaravanas, há proporcionalmente muito mais áreas de serviço. Em Riano, afinal, encontrámos uma rudimentar, mas que nos resolveu o problema. No entanto o parque encareceu muito de há 2 anos para cá. Cobraram-nos agora 20,40€, apesar de ser municipal! E ali ficámos o resto da tarde, sentados a ler, com aquela vista maravilhosa em frente e o sol, que entretanto reaparecera, por companhia.

Gozando a tarde, em Riano











Riano






Antes da hora de jantar já não se pode estar cá fora, tal é o frio, agravado por um ventinho cortante... Estamos em Julho! Já aqui andámos na Páscoa e o gelo que há no ar é de nos pôr de cabelos em pé. Até as pessoas que são daqui, mostram o seu desconsolo pelo frio permanente. De modo que pouco mais há a fazer do que deitar cedo, para aquecer... Depois de uns breves minutos a apreciar a bela paisagem, tão bonita à noite como de dia.

Riano, ao crepúsculo

Percorremos 271 Km