quinta-feira, 2 de maio de 2013

FDS - PORTO ANTIGO

    A Primavera parecia ter-se instalado nestes meados de Abril. Um convite irrecusável para um fim de semana de mudança de ares.
     Saímos no sábado, dia 20, rumo ao norte, pelo IC-2 até Oliveira de Azeméis, onde almoçámos, junto ao parque de La Sallete, ponto alto que domina toda a cidade. Verificámos com pena o encerramento definitivo de mais um parque de campismo, precisamente o de La Sallete. Prosseguimos  por Vale de Cambra e Arouca. Antes de alcançada esta bonita vila, como ainda era cedo, decidimos embrenhar-nos na serra da Freita, para observarmos o efeito de um Inverno rigoroso sobre a cascata da Frecha da Misarela. O "véu da noiva" estava lindo, como sempre, e de facto a água caía copiosamente.



Trata-se de uma das mais altas quedas de água da Europa, com cerca de 75 metros de altura, inserida num cenário de grande beleza paisagística. As águas do rio Caima, aqui ainda puras, frescas e límpidas, depois de alimentarem ervas tenras que crescem à beira do seu curso aproveitado para praia fluvial muito concorrida no Verão, tanto por pessoas, como por belas vacas arouquesas, precipita-se de um rochedo granítico, indo cair estrondosamente muito mais abaixo.

Frecha da Misarela

Rio Caima, antes da Frecha da Misarela


Visitado este local bucólico, surpreendentemente deserto, excepto uns jovens que ali estavam acampados, regressámos por Albergaria das Cabras (eu continuo a chamar-lhe assim, embora "oficialmente" agora se chame Albergaria da Serra), típica aldeia de montanha, Meruge e voltámos à estrada para Arouca, onde chegámos pouco depois. Para seguir para Castelo de Paiva, não é necessário entrar em Arouca, há uma rotunda antes da entrada, mas a placa sinalizadora, bem à portuguesa, só é visível por quem vem do centro da vila... Assim, entrámos em Arouca, demos-lhe bem a volta e depois voltámos para trás até à rotunda e assim já vimos a placa...
A estrada até Castelo de Paiva é um autêntico calvário de curvas apertadas, estreita, extensa e de paisagem monótona, sempre de eucaliptos. Depois de muito virar e revirar, lá chegámos finalmente a esta vila já bem perto do Douro. Sem parar, prosseguimos pela estrada que acompanha o rio, muito bonita, embora com muitas curvas e que segue para Cinfães. Antes porém, resolvemos fazer um pequeno desvio para visitar a barragem de Carrapatelo.
Barragem do Carrapatelo


Pouco depois passámos Cinfães e volvidos mais uns quilómetros chegávamos ao nosso destino, Porto Antigo e seu hotel debruçado sobre o Douro, no local onde o rio Bestança desagua e ao lado da linda ponte de Mosteirô, que transpõe o Douro que aqui se alarga para dar lugar à albufeira de Carrapatelo. É um local paradisíaco, com uma paisagem grandiosa que nunca cansa os olhos. O hotel foi adaptado da residência do explorador africano Serpa Pinto e é um dos que recomendaria a alguém que procurasse um recanto para um fim de semana romântico, com uma das melhores vistas de Portugal, uma excelente gastronomia e um serviço de primeira qualidade. As equipas das selecções nacionais de canoagem e de remo de vários países europeus que aqui estagiam anualmente, já o descobriram...
Ancoradouro do hotel e ponte de Mosteirô
Entrada para o hotel de Porto Antigo


Reúne alguns dos principais condimentos que elejo quando assumo a condição de viandante: fica literalmente "em cima" do Douro, tem excelente gastronomia, é um ponto estratégico para ver passar os barcos de turismo de todos os tamanhos e tipos e... tem a linha do Douro mesmo em frente! Que mais poderia pedir? Apetece ali ficar a ver correr os dias; sentado na esplanada a tomar um aperitivo ao final da tarde, sentido o imperceptível balouçar da estrutura que flutua no rio, vendo as cores a mudar no horizonte, esperando que nos sirvam o jantar que se pode prolongar depois ao sabor dos caprichos da meteorologia. Os únicos ruídos são os de um ou outro carro que passam na estrada e na ponte, os comboios que com alguma frequência passam em frente e os saltos e mergulhos dos peixes no rio.
Vista da varanda do quarto
Como a tarde ainda ia a meio, resolvemos atravessar a ponte e olhar a paisagem do outro lado do rio, passando por Porto Manso, com os viadutos do caminho de ferro ao lado, o célebre viaduto da Pála e a localidade com o mesmo nome, com uma vista espectacular sobre o rio no ponto onde a albufeira de Carrapatelo transforma o Douro num grande e maravilhoso lago.
Pála - ao fundo o hotel de Porto Antigo



Vagarosamente, regressámos para parar em frente do viaduto de Pála, à espera que o comboio aparecesse...








Viaduto de Pála








E lá apareceu...





Cais de Porto Antigo
Regressámos ao hotel, sentando-nos um pouco na esplanada, a gozar o afago do sol e a esplêndida paisagem.













A temperatura depois do sol se esconder não aconselhava o jantar na esplanada, por isso optámos pela ampla sala de jantar, toda rodeada de enormes vidraças, para nem ali se perder a soberba vista sobre o Douro.
Crepúsculo em Porto Antigo
Por sugestão da chefe de sala, escolhemos uma posta arouquesa, que vinha acompanhada por umas batatinhas a murro e uns grelos, bem acompanhados por um tinto do Douro, como não podia deixar de ser! A carne estava divinal! Tenríssima, com um sabor delicioso, proporcionou-nos um final de dia inexcedível. As sobremesas, em "buffet", eram também todas excelentes. O café, foi tomado na esplanada, junto às águas plácidas do rio. Tudo perfeito! A oferta e o serviço deste hotel pede meças ao das pousadas de Portugal.

    Já anoitecera entretanto e a paisagem modificara-se, mas não perdera qualidade. Com todas as quintas ribeirinhas iluminadas profusamente e a ponte cheia de luzes que lhe emprestavam um simulacro de incêndio, o espectáculo continuava.

Ancoradouro do hotel e ponte de Mosteirô.
 Mas o peso da lauta refeição entretanto já produzia o seu efeito, ajudado pelos eflúvios interiores do néctar duriense encaminhando-nos para o quarto. Ainda estivemos à varanda a apreciar tão linda paisagem e o efeito da piscina iluminada, por baixo dos quartos, mesmo a pedir um saltinho lá para dentro...


No dia seguinte pela manhã, nem apetecia sair da varanda do quarto que nos oferecia tão linda vista, com a vastidão do rio banhado pelo sol.









À varanda do quarto
Mas o pequeno almoço chamava por nós e a estas solicitações não convém fazer esperar... Até porque nós já conhecendo o banquete que constitui o pequeno almoço no hotel de Porto Antigo, apressámo-nos a descer para pôr freio ao stress digestivo. E não ficámos desiludidos!
   Depois de mais um festim gastronómico, preparámo-nos para partir, pois tudo tem um fim, especialmente o que é bom. Fomos ainda até meio do tabuleiro da ponte e depois de mais umas fotos, relutantemente partimos, não sem antes termos registado ainda a passagem de um último comboio sobre o viaduto da Pála...

Ainda um último comboio...
A estrada que sobe para Cinfães, tem um desvio que dá acesso à barragem de Carrapatelo. É estreitíssima e perigosa, mas só queríamos percorrê-la num curto troço para obter umas fotografias tiradas de um outro plano. Esta estradinha serve para dar acesso às inúmeras quintas de gente abastada que tem o privilégio de gozar estas vistas das suas moradias senhoriais.

Cascata dentro de uma quinta no Douro


Tiradas as fotografias, regressámos a Porto Antigo, agora para prosseguir na estrada que segue para Resende, sempre junto ao Douro










Logo a seguir, um dos barcos da Douro Azul, a caminho da Régua.


Acompanhámo-lo durante algum tempo, enquanto apreciávamos os imensos pomares de cerejeiras, com muitas ainda em flôr, prometendo saborosos e carnudos frutos daqui a 2 meses! E pouco depois, avistávamos a Régua, ao longe.

Régua, vista de Samodães
Desta vez não a visitámos, optando por seguir por Samodães, Cambres e Lamego. Decidimos almoçar aqui. Já se fazia sentir calor e fomos a pé desde o bairro típico de Almacave até ao centro, onde a cidade está toda escavada e esventrada, lembrando-nos que este é ano de eleições autárquicas... Procurámos a sé catedral, que é muito bonita, mas estava fechada! Enfim, o templo sede de um episcopado, encerrado a um domingo é um dos anacronismos em que somos férteis. Com o espírito inconsolável, decidimos desforrar-nos no corpo e logo ali ao lado da sé devorámos uns deliciosos nacos de vitela num dos inúmeros restaurantes típicos daquela zona da cidade. Eram horas de regresso. Seguimos pela nossa estradinha antiga, revisitando as povoações de pitorescas designações, Matança, Matancinha, Magueija, Magueijinha, até Castro Daire, prosseguindo depois por S. Pedro do Sul, Vouzela, Oliveira de Frades. Entre esta vila e Sever do Vouga, resolvi explorar uma cascata que sabia ali existir, num ponto da estrada. Depois de muito trepar e ultrapassar umas moitas de silvas, fui premiado com uma linda cascata que abastecia uma pequena lagoa de águas transparentes.


Continuámos pela bonita estrada que acompanha o rio Vouga e a antiga linha férrea do Vouguinha e que vai acabar em Albergaria a Velha. E depois, o costumado percurso pelo IC-2, por Coimbra, Leiria e Peniche.

    Mais um fim de semana de sonho, mas bastante real, com tudo perfeito. Até ao próximo!

Sem comentários:

Enviar um comentário