terça-feira, 29 de maio de 2012

ATÉ AO REINO MARAVILHOSO - 1

    Com tanta gente a pedir políticas de crescimento e de emprego, decidi dar o meu contributo e parti para o Reino Maravilhoso de Torga, em digressão, por uma semana. Estimulei assim o EBITDA de postos de combustíveis, restaurantes, supermercados e parques de campismo.
     Saí de S. Bernardino na segunda feira, 21 de Maio. Cumprindo uma promessa feita a mim mesmo, de não utilizar as ex-SCUT, a não ser em casos extremos e evitar ao máximo todas as autoestradas, utilizei apenas a A-15 até Santarém, como já vem sendo habitual. Atravessei a ponte Salgueiro Maia e segui por Almeirim, até à Chamusca, onde parei no Pingo Doce para abastecer de gasóleo, já que é um dos locais com preço mais favorável. Aproveitei também para efectuar algumas compras, tendo prosseguido por Tramagal e Rossio ao Sul do Tejo. Neste ponto, antigamente, atravessava o Tejo, para entrar na A-23 no nó de Abrantes. Agora, utilizo a velhinha N 118 que, ao entrar no distrito de Portalegre, começa a mostrar-nos um território cada vez mais despojado de gentes, de povoações desertas, cheias de casas desabitadas e apenas alguns idosos cabisbaixos, sentados à porta de cafés. Atravessando Nisa sem parar, cheguei a Vila Velha de Ródão à hora de almoço e decidi ali fazer a primeira refeição.


Portas de Ródão
Tomado o cafèzinho habitual e como não aparecia nenhum comboio, arranquei para mais uma etapa, até Castelo Branco. Convém frisar que, como conheço muito bem estas cidades é raro deter-me nelas, reservando o tempo e recursos para o objectivo principal, no presente caso, a terra fria transmontana. Como normalmente atravesso a Beira Baixa por Fundão até à Guarda, desta vez optei por seguir pela N 233, por Penamacor, parando no Sabugal, para esticar as pernas e apanhar ar. Percorri as margens do Côa até às imediações do castelo de cinco quinas.


Vila Velha de Ródão
Castelo de Sabugal
Segui então por uma estrada pouco conhecida, a N 324, que atravessa uma zona incaracterística, salpicada aqui e ali de pequenas povoações envelhecidas, sem capacidade para reter as gentes mais jovens, condenadas à desertificação a breve prazo. O solo é muito pobre e não há outros meios de subsistência alternativos.




















Ainda parei numas termas praticamente desconhecidas, onde subsistem duas realidades distintas: as antigas instalações em ruínas e ao lado um balneário novinho em folha, com todas as comodidades e tecnologias modernas. Termas de Cró. No entanto, são uma ilha no meio de território um pouco inóspito, ali plantadas sem qualquer apoio de infraestruturas hoteleiras e similares. Terá este investimento um futuro risonho?


Termas de Cró ( antigas instalações)




Termas de Cró - Novo balneário
      Prossegui por Terreiro das Bruxas, até Almeida. Esta vila fortificada, que fica dentro da maior praça forte do país, merece uma visita demorada, que já fiz em diversas outras vezes. A opção por não utilizar autoestradas, tem custos de tempo e de maior cansaço, compensados por uma melhor gestão das paragens e de usufruto de paisagens e contacto com localidades e suas gentes. Já era meia tarde e queria chegar cedo a Mogadouro, por isso era preciso não perder tempo. Lá continuei por Figueira de Castelo Rodrigo, também sem parar em Castelo Rodrigo, paragem obrigatória para quem não conhece esta aldeia, palco de tantas batalhas em defesa da nossa independência, baluarte e atalaia vigilante que fazia parte da linha de defesa do Côa. De Figueira até Escalhão, sucedem-se as curvas apertadas que atravessam um território lunar, com enormes penedos de granito. A aldeia surge então, tutelada pela silhueta da sua enorme igreja, que já tenho encontrado aberta em outras ocasiões. Tem algumas casas senhoriais, brasonadas, que ficaram como testemunho de tempos mais gloriosos. A partir daqui, a estrada começa a enorme descida que só termina em Barca D'Alva, que dista ainda 13 Km. Não se dá por eles, tal a beleza deste troço. A partir do Alto da Sapinha, miradouro onde é obrigatório parar e apreciar as vistas demoradamente, a estrada contorna montanhas cobertas por amendoeiras que se pintam de branco no fim do Inverno, numa das mais belas paisagens portuguesas. Há também muito olival e vinha. Ao fundo, vê-se de um lado o rio Águeda, que aqui serve de fronteira com Espanha e que desagua no Douro lá em baixo, em Barca D'Alva. Precisamente nesse ponto, avistam-se as duas pontes internacionais, a rodoviária e a ferroviária, desactivada desde a década de 80 e que dava aqui início a um dos troços ferroviários mais bonitos do mundo, sobre as gargantas do Águeda.


Vista do Alto da Sapinha - Foz do Águeda

À chegada a Barca D'Alva há um desvio à direita que segue para Espanha e que dá também acesso à desactivada ponte ferroviária. Vale a pena dar uma vista de olhos. Barca D'Alva, outrora importante entreposto fronteiriço e que vivia do caminho de ferro é agora uma aldeia de gente idosa igual a milhares de outras em Portugal. Mas o seu renovado cais onde entre Abril e Outubro se vêem grandes barcos de turismo que sobem e descem o Douro, veio trazer nova vida e movimento a esta bonita e aprazível localidade. Aqui parei para olhar as águas plácidas, a linda ponte sobre o Douro e os grandes barcos atracados no cais.




Era tempo de fazer a última etapa do dia. Atravessei a ponte Almirante Sarmento Rodrigues e entrei no distrito de Bragança. Os quilómetros seguintes, até ao miradouro sobre a barragem espanhola de Saucelle, são muito bonitos, com a estrada sempre ladeada pelo Douro.

 

 Em vez de carros, temos apenas a companhia de aves de rapina que cruzam os céus em grande quantidade, lá para os lados do Penedo Durão, fraga imensa que se debruça sobre a garganta onde se situa a barragem. A partir daqui deixamos o rio e começamos a subida até Freixo de Espada à Cinta, onde entro pouco depois. Esta vila tem uma torre heptagonal muito interessante e igrejas antiquíssimas que vale a pena visitar. Daqui parte a estrada que dá acesso a uma excelente praia fluvial, com boas infraestruturas turísticas, a praia da Congida. Parei para comprar azeite na cooperativa onde habitualmente me abasteço. Prossegui então por Lagoaça e logo a seguir fui estrear o novíssimo IC-5, que me levou até Mogadouro, destino para o primeiro dia.



















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