|
Parque de campismo de Mogadouro |
O parque de campismo de Mogadouro é muito agradável. Fica na zona nova da vila, integrado num complexo desportivo que inclui piscinas, coberta e exterior, campo de futebol, "courts" de ténis e uma escola secundária. É espaçoso, com sombras e bem tratado, embora as instalações sanitárias tenham algumas marcas de vandalismo, apesar de serem muito recentes. Ainda não tinha pernoitado neste parque, pois nesta zona tenho dado preferência aos parques de Vila Flor, Mirandela e Valpaços. Terça-feira estava reservada para a exploração da zona sueste do concelho, com especial enfoque na Bemposta e antigas estações ferroviárias da linha do Sabor. E lá parti à descoberta. A 5 Km de Mogadouro fica a sua estação. É uma amálgama de destroços, entre o edifício principal, o armazém, casas para funcionários, depósitos e restantes apetrechos. As imediações não estão em melhor estado. De modo que o ambiente é deveras deprimente, convidando a procurar outras paragens. É o que faço, tomando logo em seguida, em Santiago, o desvio para Peredo de Bemposta. Procurava um trilho que parte daqui e vai até ao rio Douro. Estacionei a autocaravana no início do povoado e, munido da mochila, máquina fotográfica e um cajado-bastão que vem dos Picos da Europa e que é mais útil para pôr cães em respeito do que para auxiliar na caminhada. O trilho está bem sinalizado desde o início e o piso é excelente, no início em paralelepípedos e depois em terra batida. Sempre a descer, com o sol a aquecer cada vez mais e a sede a apertar, o caminho prolongava-se muito mais do que me haviam anunciado. Afortunadamente, num terreno cultivado após uns 2 ou 3 Km e sem ter visto vivalma até ali, vislumbrei um velhote a tratar dos campos. À minha pergunta sobre o caminho, respondeu-me com ironia, dizendo que ainda faltava umas três vezes o que já tinha andado! Hesitei; não ia preparado para tanto tempo de caminho, nem para o calor e sol intenso. Não tinha água suficiente nem comida e o caminho que estava a fazer a descer, teria que subir de volta. Decidi parar logo que visse o rio. E de facto, umas centenas de metros à frente, avistei-o, em baixo, com um caudal reduzido por ter a barragem perto a montante, contornando as montanhas. Tirei as fotos e comecei a subir o caminho de volta.
A subida é sempre mais penosa que a descida, sobretudo debaixo de sol. Não tinha boné e o cabelo também não tinha ido comigo... De modo que o resultado foi um "escaldão"! Finalmente cheguei, acalmei momentaneamente a sede e a fome e parti por Algosinho, Tó, e de novo na N 221 pus-me a caminho de Sendim, em busca do almoço. Estando ali era imperdoável não ir almoçar ao restaurante "Gabriela", ex-libris gastronómico de Trás-os-Montes. Foi aqui que nasceu a posta mirandesa, prato que hoje faz parte do cardápio de qualquer restaurante que se preze, nesta província.
Com um aspecto despretensioso, se não se souber a sua história, não se adivinha por fora o que se come lá dentro. Uma posta mirandesa divinal, bem merecida depois do esforço que acabara de fazer. Saí para ir até às ruínas da estação de Sendim. O mesmo cenário de destruição. Voltei à estrada para fazer o caminho inverso até Urrós. Mais uma vistoria à estação local. As imagens falam por si!
Depois da pequena amostra daquilo a que está reduzida a rede ferroviária nacional, dirigi-me a Bemposta, com o objectivo de visitar mais uma vez a barragem que faz parte do aproveitamento hidroeléctrico do Douro internacional. Descida íngreme, com paragens frequentes para olhar o rio de diversas panorâmicas. Finalmente a barragem, agora pintada de amarelo a mando de alguém que achou divertida tal ideia. Local deserto, debaixo de sol inclemente. E ainda é Maio...
Restava-me regressar a Mogadouro, o que fiz em seguida, pelo novo IC-5, para o experimentar. Esta nova estrada é quase paralela à velha N 221. A tarde ainda ia a meio, o que me permitiu descansar à sombra das árvores do parque, lendo e enviando uns mails, vício que a tecnologia agora permite em quase todo o lado. E estava quase passado o segundo dia.