Quinta do Vesúvio e apeadeiro vistas da Srª da Ribeira |
A estrada municipal que desce ao longo de 10 sinuosos quilómetros e que liga Seixo de Ansiães à Quinta da Coleja e a Srª da Ribeira, termina aqui, no rio. Existem meia dúzia de casas, não mais, e provavelmente ainda menos pessoas a residir. E é ali, mesmo sobre o rio Douro que fica o restaurante Srª da Ribeira, que é também residencial, pois tem alguns quartos no primeiro andar, que aluga. Os quartos, com uma pequena varanda individual, têm uma vista soberba sobre o rio, a Quinta do Vesúvio, mesmo em frente e as montanhas que, quer a montante quer a jusante, enquadram o Douro num cenário que nos deixa extasiados.
Srª da Ribeira: vista a montante |
Somos imediatamente impelidos a aproveitar os bancos que nos convidam a sentar debaixo dos enormes salgueiros mesmo junto ao rio, a deleitarmo-nos com a vista e o silêncio que tudo envolve. Ouvimos entretanto um apito que nos trouxe de novo à realidade e um comboio fez-se anunciar no Vesúvio. Um dia sem greves na CP!
Srª da Ribeira: vista para jusante |
Entrámos então na residencial. As proprietárias, mãe e filha muito jovem, são muito simpáticas e afáveis. Instalámo-nos e fomos imediatamente atraídos pela varanda que nos oferecia tão soberba vista. Estivemos ali a gozar o fim da tarde, até que chegou a hora do Portugal-Alemanha e também do jantar. E enquanto víamos o jogo de estreia da nossa selecção que não augurava nada de bom para os seguintes, saboreávamos uns peixinhos do rio e uma posta mirandesa. A posta estava melhor que a qualidade do jogo da equipa portuguesa. Quanto aos peixinhos, não sou entusiasta. Habituado a comer bom peixe do mar, não o troco facilmente por qualquer outro. No entanto, dei-lhe nota positiva. Depois de uns momentos de conversa, fomos de novo para o cais, digerir a refeição e o resultado do jogo, até que chegou a noite, com os seus sons peculiares. Porém, os mosquitos não nos deixaram ficar por ali muito tempo a apreciar os tons arroxeados que o céu entretanto adquirira e convidaram-nos a dar um pequeno passeio pelas imediações do restaurante após o que nos recolhemos. Fiquei ainda algum tempo acordado, a pensar naquelas pessoas a viver num completo isolamento, apesar da existência da estrada de ligação. Mas esta é difícil, o percurso é longo até Carrazeda, a sede de concelho e vila mais próxima. E a deslocação quando é preciso uma consulta médica especializada? O acesso mais rápido é atravessar o rio numa barcaça ali existente para o efeito e apanhar o comboio na estação de Vesúvio, em frente, até ao Porto. É aliás um dos meios utilizados pelos turistas que aqui afluem, a par dos barcos de turismo que cruzam o rio entre Abril e Outubro.
No dia seguinte o céu amanheceu luminoso, de um azul límpido e profundo. A vista era mais bonita que na véspera, com as cores vivas e alegres, emprestadas pelo sol. Tomámos o pequeno almoço na sala cheia de luz, despedimo-nos com promessas de voltar e partimos.
Levámos propositadamente um carro pequeno e ágil. Há muitos anos atrás, num daqueles percursos de ir "à aventura", fomos parar à Quinta de Lobazim, em frente da estação de Freixo de Numão. A estrada acabava ali. No entanto, havia a partir dali um caminho de terra batida, mesmo junto à água do rio. Com um carro bastante maior, aventurámo-nos a experimentar. No caminho só cabia o nosso carro e eu nem queria pensar no que faria se aparecesse outro, pois não existia espaço para cruzamentos nem berma. O único local para desvio era o rio... Felizmente não apareceu ninguém e após 5 Km nesse caminho, que é lindo, fomos parar à... Srª da Ribeira! Por isso agora queria experimentar o mesmo caminho, mas no sentido inverso. Agora já tem asfalto. A largura mantém-se quase inalterada, não cabendo dois carros, mas há mais possibilidades de cruzamento.
Caminho que liga Srª da Ribeira à Quinta de Lobazim |
O caminho vale bem a pena. O ideal para aqui andar seria uma moto. São cerca de 5Km, sempre junto à água do rio, passando por algumas belas moradias, umas de férias, outras de quintas agrícolas. Quem por aqui anda, normalmente são pescadores ou trabalhadores das quintas, mas que se deslocam em pick-ups volumosas... Felizmente àquela hora ainda deviam estar a tomar as suas sopas...
Chegámos à quinta de Lobazim. A partir daqui recomeça a estrada municipal que trepa (o termo é mesmo este), até Lousa. A subida íngreme parece não ter fim. O panorama é, todavia, grandioso. Paramos com frequência, para observar e fotografar. Lá em baixo, o rio espraia-se, apertado pelas montanhas cobertas de vinhas. Na margem oposta, branqueja a estação de Freixo de Numão e o restaurante Bago de Ouro. Um pouco à frente, o viaduto ferroviário da Petiscaria Preguiça.
Viaduto ferroviário - Petiscaria Preguiça |
Continuamos a penosa subida que finalmente termina na aldeia de Lousa. Povoação de razoável dimensão, o que nos surpreende, depois de atravessarmos quilómetros sem ver qualquer construção ou vivalma. Ruas estreitíssimas, casas de xisto. Atravessamo-la e continuamos até um cruzamento onde viramos à direita, a caminho de Cabeça Boa. Nova descida de forte inclinação, com o vale da Vilariça como pano de fundo, até que chegamos a Foz do Sabor. Atravessamos a ponte sobre o rio Sabor, que em breve se verá aqui reduzido a um banal ribeiro, como consequência da construção da barragem um pouco a montante.
Vista a partir da estrada para Lousa |
Prosseguimos pelo IP-2, que neste troço acompanha o Douro até ao Pocinho. Atravessamos a barragem e viramos à direita, pelo caminho que dá acesso à estação. Desta vez não paramos. É dia 10 de Junho, dia de mais uma das incontáveis greves na CP. Buscamos antes a estrada municipal que dá acesso às aldeias de Santo Amaro e Mós. Logo após as casas que serviam de apoio à estação, existe uma fonte que tem sempre uma água excelente e em abundância, junto a uma enorme ponte ferroviária. A estrada passa pelo meio de vinhas até chegar a um cruzamento onde existe outra fonte. A partir daqui é sempre a subir até Santo Amaro, com belas vistas para o rio Douro e o Pocinho à direita e o vale onde agora passa o IP-2 e V. Nova de Foz Côa à esquerda. Chegamos a Mós, aldeia "entalada" entre montanhas e vinhas e continuamos, à procura da estrada que dá acesso à estação de Freixo de Numão. Chegamos pouco depois do meio dia. Dirigimo-nos ao restaurante Bago de Ouro, onde costumamos almoçar tantas vezes, mas está já cheio e com pessoas a aguardar cá fora. Efeitos da crise económica, por certo... Sem paciência para esperar, fomos até um pouco acima, onde existe a Petiscaria Preguiça, que tem uma vista linda sobre o local onde a Ribeira de Murça desagua no Douro, debaixo do viaduto ferroviário. Antes porém, fomos premiados pela passagem de um dos barcos turísticos que cruzam o Douro.
Junto à estação de Freixo de Numão |